Um dos filmes mais badalados da temporada em Hollywood, Baby Driver ganhou um título genérico no Brasil – Em Ritmo de Fuga. O longa de Edgar Wright, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas do país, foi incensado como o novo Drive, em referência ao filme de 2011. Faz sentido: narra a história de um motorista que conduz assaltantes em fuga, em um exercício estilístico elaborado, cujos destaques são a montagem rápida, ritmada, e o impactante uso do som.
Ansel Elgort é Baby, o tal motorista, muito jovem e muito talentoso ao volante. Passa o tempo todo ouvindo música porque, trauma do mesmo acidente que vitimou sua mãe, só assim consegue alívio para o zunido permanente com o qual precisa conviver – algo de que Wright tira proveito para pontuar toda a narrativa com canções que apelam à memória afetiva das mais diversas faixas de público (tem de Beach Boys a Blur, passando por Commodores, Barry White e Jon Spencer Blues Explosion).
A trama, em compensação, é pedestre. Baby serve ao bando de Doc (Kevin Spacey, o protagonista de House of Cards), criminoso sofisticado cheio de contatos que reúne os foras da lei da cidade para seus roubos, entre os quais o violento e impulsivo Bats (Jamie Foxx, ganhador do Oscar por Ray) e o charmoso casal Buddy (Jon Hamm, o Don Draper de Mad Men) e Darling (Eiza González, a vampira da série Um Drink no Inferno), que faz lembrar os anti-heróis glamourizados dos anos 1930, como Bonnie & Clyde e John Dillinger & Billie Frechette. O protagonista tem uma dívida para com o chefão, mas lá pelas tantas a quita – e aí se vê no dilema de seguir servindo-o ou deixar de lado o universo de contravenções.
Wright força a mão para fazer o espectador simpatizar com Baby – além de ser órfão, o garoto cuida de um tio surdo-mudo e paraplégico (CJ Jones). Quando conhece a garçonete Debora (Lily James), passa a sonhar com uma vida mais próxima do normal ao lado dela. Os apelos à memória, então, não são apenas sonoros: Baby chega a trabalhar em uma pizzaria chamada Goodfellas (título original de Os Bons Companheiros, de Scorsese, 1990), os bandidos fazem piadas em referência à animação Monstros S.A. (2000) e há, ainda, participações especiais de Flea, baixista da banda Red Hot Chili Peppers, e de Walter Hill, diretor de Caçada de Morte (The Driver, 1978), fonte na qual Wright bebeu – ele e Nicolas Winding Refn, o realizador de Drive.
É possível fazer filmes ricos com dramaturgia mínima. Mas, para tanto, Wright teria de deixar de lado o "mais do mesmo" sobre o qual se apoia. As sequências muito bem filmadas das perseguições de carros e o trabalho notável de articulação de alguns planos e de edição de som (digno de Oscar) não apagam o fato de que Em Ritmo de Fuga se conforma, sem constrangimento, sobre os maiores clichês dos longas de ação.
Embora Em Ritmo de Fuga se filie a esse gênero tão caro à indústria hollywoodiana, aos poucos as tiradas engraçadas fazem a comicidade assumir a linha de frente na trama. É uma marca pessoal do cineasta, vide Todo Mundo Quase Morto (2004), Chumbo Grosso (2007) e Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010). Wright é um adepto dos pastiches divertidos da cultura pop, usualmente associados, entre outros diretores, a Quentin Tarantino.
O tipo de entretenimento que Em Ritmo de Fuga proporciona, de fato, lembra mais o de produções como À Prova de Morte (2007), dirigido por Tarantino, do que propriamente o de Drive. Contudo, o que o filme de Wright tem a oferecer é mais pobre – na comparação com ambos.
EM RITMO DE FUGA
De Edgar Wright
Ação, EUA, 2017, 112min.
Em cartaz no circuito de cinemas a partir desta quinta-feira (26).
Cotação: regular.