Encravada no Campus Central da UFRGS, na Capital, a Sala Redenção mantém acesa há 30 anos uma tradição que embala gerações de cinéfilos em Porto Alegre: as mostras temáticas dedicadas à formação de novos espectadores e ao deleite do público interessado em conhecer filmes de diferentes gêneros, épocas e bandeiras ausentes da programação do circuito comercial de cinema e até mesmo dos canais de TV por assinatura e dos serviços de streaming.
Inaugurada em 22 de abril de 1987, no prédio da antiga Biblioteca Central da UFRGS, a Sala Redenção – Cinema Universitário, com 203 lugares, tem sua origem no projeto Unifilme, que fez sucesso nos anos 1980 com sessões apinhadas de gente na Reitoria. Com atrações constantes e sempre com entrada gratuita, de segunda a sexta, a sala atrai espectadores de diferentes idades, entre estudantes que frequentam o campus e moradores do Bom Fim e do Centro.
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– Temos um público misturado, com expressiva presença de aposentados nas sessões das 16h e de mais jovens nas sessões das 19h – explica Tânia Cardoso de Cardoso, do Departamento de Difusão Cultural da UFRGS, desde 2009 responsável pela coordenação e curadoria do espaço.
Doutora em Letras, especialista em cinema e apaixonada pela produção francesa dos anos 1960, Tânia tem uma ligação afetiva com o espaço:
– Eu estava na primeira sessão da Sala Redenção aberta ao público. Não estava nem na faculdade ainda. Era sessão de curtas do Chaplin. E estava com muita tosse e, como toda adolescente, ficava com muita incomodada por isso.
A curadora procura reproduzir na Sala Redenção o espírito do templo onde fez sua educação cinéfila, o Bristol, antigo cinema da Avenida Osvaldo Aranha que marcou época na Capital com seus ciclos temáticos. Para definir a programação de cada mês, a curadora conta com recursos como a licença MPLC (Motion Picture Licensing Corporation), que permite a exibição em DVD e outros suportes de títulos protegidos por direitos autorais, e parcerias com entidades como Embaixada da França, Instituto Goethe e Sesc/RS. No horizonte está a aquisição do sistema de projeção digital DCP, novo padrão da indústria cinematográfica – os veteranos projetores de filmes 35mm, embora praticamente sem uso, seguem com a manutenção em dia.
– Promovemos também a pré-estreia de filmes autorais brasileiros que serão posteriormente lançados no circuito, como os recentes documentários Corpo Delito e Guarnieri (exibidos no Festival de Tiradentes), projetos como o Tela Indígena, realizado em parceria com o núcleo de Antropologia, e atividades com perfil mais acadêmico – explica Tânia. – Essa é uma das poucas salas de cinema instaladas em universidades no Brasil, então existe ainda um viés humanista, no qual, além de questões estéticas, históricas e de linguagem, procuramos exibir filmes com temas que estimulem sessões seguidas de debates com professores e especialistas.
Tânia tem por hábito conversar com o público antes das sessões:
– Não faço isso em todas, mas geralmente nas aberturas de mostras e de alguns títulos específicos. Acho bacana apresentar o filme, falar sobre o diretor, dar um contexto daquilo que será visto.
Nos últimos anos, a Sala Redenção exibiu mostras de grande relevância, entre elas a que passou em revista toda a produção de François Truffaut, em 2014, por ocasião dos 30 anos da morte do diretor. A celebração contou com a presença na Capital do renomado crítico e pesquisador francês Antoine de Baecque, biógrafo de Truffaut. Também foram realizados ciclos dedicados ao cineasta iraniano Abbas Kiarostami e a importantes movimentos cinematográficos: o expressionismo alemão, o construtivismo russo, a nouvelle vague francesa e o dogma dinamarquês, entre outros.
– Em conjunto com esse aspecto didático e histórico, temos foco também em filmes contemporâneos com perfil mais experimental, para fazer uma ligação entre passado e presente – explica Tânia, citando as parcerias que busca fazer com produtoras e distribuidoras com acesso a títulos que circulam por importantes festivais.
Até o final de abril, a Sala Redenção segue mostrando títulos clássicos de ficção científica. Em virtude do aniversário cair em um sábado, a comemoração oficial da data ficará para mais adiante.
– Estamos planejando uma programação com participação de ex-curadores da sala e de cineastas que tiveram vínculo com a universidade – destaca Tânia. – Entre nossas próximas atrações, estão documentários históricos de Silvio Tendler, filmes africanos dirigidos por mulheres, uma homenagem a Jerry Lewis e um ciclo com longas e curtas brasileiros de produção recente.