Com três prêmios Oscar de filme estrangeiro no currículo, todos recebidos por dramas dirigidos pelo mestre Ingmar Bergman, a Suécia está novamente no páreo da categoria com uma comédia. Em cartaz a partir desta quinta-feira na Capital, Um Homem Chamado Ove (2015) é baseado em um livro do autor sueco Fredrik Backman, best-seller que foi publicado em mais de 30 países – inclusive no Brasil, pela editora Alfaguara. A direção é de Hannes Holm, responsável por um par de comédias de sucesso de bilheteria na Suécia sobre as atrapalhadas férias da família Andersson. Em Um Homem Chamado Ove, o diretor e roteirista conta em registro agridoce a história de um sujeito amargurado e misantropo cujo mau humor é colocado em xeque com a chegada de novos vizinhos.
Quem encarna a figura central é o ator Rolf Lassgård, de títulos como Sob o Sol (1998) e Depois do Casamento (2006) – coincidentemente também indicados ao Oscar. Recentemente aposentado, Ove fiscaliza com rigor militar o condomínio residencial onde vive, tratando com rudeza tanto visitantes quanto moradores. Enviuvado há pouco tempo, o velho rabugento visita diariamente o túmulo da única pessoa a quem parece dar importância, mesmo depois de morta: a esposa (Ida Engvoll) – "Não existe nada antes de Sonja e nada depois dela", define o personagem a certa altura da trama. O dissabor é tamanho que Ove decide matar-se para se juntar à amada – mas suas tentativas de suicidar-se são sempre interrompidas por pessoas que batem à porta pedindo ajuda. Quando a iraniana Parvaneh (Bahar Pars) muda-se com o marido aparvalhado e as duas filhas para a casa em frente, o solitário verá seu refúgio de indiferença e autoindulgência ser confrontado pela espontaneidade e afetividade dos recém-chegados – revelando aos poucos o homem afetuoso e apaixonado por justiça que ele também é. A ação presente é entremeada por flashbacks que mostram o passado de Ove: da dura infância, dividida com o silencioso pai depois da morte da mãe, ao relacionamento com Sonja, iniciado na juventude.
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O diretor diz que se inspirou em Um Homem Chamado Ove em duas comédias norte-americanas: Melhor É Impossível (1997) e As Confissões de Schmidt (2002), ambas estreladas por Jack Nicholson – o astro, aliás, já vai encarnar a versão hollywoodiana de outro ogro concorrente ao Oscar, o personagem-título do austro-alemão Toni Erdmann (2016), e não seria surpreendente se ele estrelasse também uma eventual refilmagem do longa sueco. Apesar de ter então a mesma idade de Ove durante a rodagem, 59 anos, Rolf Lassgård aparece excessivamente envelhecido em cena por causa da maquiagem – o filme, por sinal, concorre ainda à estatueta dourada dessa categoria. Apesar da convincente interpretação de Lassgård, do bom desenvolvimento da narrativa e da equilibrada alternância entre episódios engraçados e momentos dramáticos, Um Homem Chamado Ove resvala ao manipular além da conta as emoções do público, flertando muitas vezes com a caricatura na parte cômica para angariar o riso fácil e, especialmente, abusando do sentimentalismo na hora de comover em busca de lágrimas.
UM HOMEM CHAMADO OVE
De Hannes Holm. Comédia dramática, Suécia, 2015, 116min, 16 anos.
Cotação: 3/5.
2 INDICAÇÕES AO OSCAR
* Filme estrangeiro
* Maquiagem
SALAS E HORÁRIOS
Guion Center 2 (14h) e Guion Center 3 (16h20, 21h05).
OUTROS INDICADOS A FILME ESTRANGEIRO
O APARTAMENTO (Irã) – Vencedor do Oscar de filme estrangeiro e do Urso de Ouro do Festival de Berlim com A Separação (2011), o diretor Asghar Farhadi está de novo no páreo pela mais cobiçada estatueta do cinema internacional com mais um poderoso drama conjugal. Desta vez, um jovem casal de atores confronta-se com dilemas morais e com a crise no relacionamento depois que a mulher é agredida dentro do novo apartamento por um desconhecido. Em cartaz na Capital.
TANNA (Austrália) – Narrado em tom de conto ancestral, esse belo filme é interpretado por aborígenes da ilha de Vanuatu e se inspira em uma história real sobre uma jovem que ignora seu casamento arranjado para fugir com o amante, desencadeando uma guerra entre tribos. Sem estreia prevista.
TERRA DE MINAS (Dinamarca) – Em maio de 1945, dias depois da rendição da Alemanha na II Guerra Mundial, um grupo de prisioneiros alemães é levado à Dinamarca e forçado a desarmar dezenas de milhares de minas terrestres colocadas na costa do país pelos nazistas. Sem estreia prevista.
TONI ERDMANN (Alemanha) – Prêmio da crítica no Festival de Cannes e finalista ao Globo de Ouro de melhor longa estrangeiro, essa comédia austro-alemã da diretora Maren Ade é o título favorito ao Oscar da categoria. No filme, um pai engraçadinho e sem noção tenta ajudar de um jeito esquisito a estressada filha advogada a enfrentar os problemas na empresa internacional em que ela trabalha. Em cartaz na Capital.