Os zumbis não morrem nunca – estão na TV, no cinema, nos quadrinhos, nos games e na literatura. Ainda que muitos produtos da indústria cultural explorando os mortos-vivos apenas regurgitem o assunto, de vez em quando surge uma abordagem nova sobre o tema. É o caso do ótimo Invasão zumbi (2016), filme sul-coreano que entra em cartaz nesta quinta-feira nos cinemas depois de ter feito mais de 10 milhões de espectadores em seu país de origem. Exibido fora da competição no Festival de Cannes, o longa de Yeon Sang-ho extrapola o terror e agrada mesmo a quem não curte o gênero, misturando horror com uma bem construída trama melodramática familiar.
Na história de Invasão zumbi, um grupo de pessoas embarca em Seul a bordo de um expresso ao mesmo tempo em que uma epidemia misteriosa deixa a Coreia do Sul em estado de emergência. Entre os passageiros estão um pai relapso que só pensa no trabalho e que vai levar a filha pequena para visitar a mãe, um casal em que a mulher está grávida e um time escolar de beisebol. À medida que a viagem avança, as notícias vão chegando: os tumultos causados pelas multidões contaminadas com o vírus levam o governo a declarar lei marcial. Pior: há gente infectada em alguns vagões, obrigando o trem a ir direto para Busan, cidade aparentemente ainda a salvo do mal. O percurso transforma-se então em uma dramática e angustiante luta pela sobrevivência contra o bando crescente de zumbis que se espalha pelo comboio.
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Elogiado diretor de animações, Sang-ho replica a potência gráfica de seus trabalhos anteriores em sua estreia no longa com atores de carne e osso – e vísceras à mostra. Invasão zumbi segue direitinho a cartilha e não decepciona os fãs do estilo, lembrando títulos recentes como Guerra mundial Z (2013) – em particular, a maneira como as criaturas movimentam-se rapidamente, apesar de serem estúpidas em relação a ações banais como girar uma maçaneta. Diferentemente da superprodução hollywoodiana decepcionante, o filme sul-coreano tem um roteiro inteligente, que propõe questionamentos sociais e políticos sem abrir mão da pegada de entretenimento.
Invasão zumbi explora o cerne do fascínio que os mortos-vivos despertam: para além da óbvia conexão com a morte e os sentimentos associados a ela, esses seres mexem com o imaginário por conta da súbita mudança de estado que representam – de uma hora para outra, o afável cidadão ao lado ou até o ente querido vira inexplicavelmente um monstro.
A figura do zumbi apresenta-se como uma metáfora terrível a lembrar que as pessoas ao nosso redor – e inclusive nós mesmos – não estão a salvo de a qualquer momento tornar-se irreconhecíveis, colocando em xeque os laços sociais e afetivos que nos dão identidade e segurança. O especulador financeiro que trata com frieza a mãe, a ex-mulher e sua própria filha, a senhora que não percebe o afeto que a irmã mais velha lhe dedica, o jovem que rechaça o interesse romântico da colega por ele – personagens de Invasão zumbi que habitam um limbo antes mesmo de serem mordidos pelos defuntos ambulantes e que se dão conta tarde demais dessa alienação. A morte em vida, lembra Invasão zumbi, não existe apenas nos filmes de terror.
Sessões de pré-estreia nesta quarta-feira:
INVASÃO ZUMBI
Ação/Terror, 14 anos (Busanhaeng). De Yeon Sang-ho. Coreia do Sul, 2016, 118min. Durante viagem de trem, pai e filha deparam com ataque de mortos-vivos. Com Gong Yoo.
Cotação: 4/5
CÓPIAS DUBLADAS
Cineflix Total 3 (21h40)
Cinemark Ipiranga 6 (21h)
CÓPIAS LEGENDADAS
Cinespaço Wallig 3 (19h30)
GNC Praia de Belas 3 (22h10)