Conhecido por emprestar sua voz a personagens como Batman e James Bond, além de atores como Clint Eastwood, Leslie Nielsen e Morgan Freeman, o mineiro Marcio Seixas também emprestou sua fala ao 44º Festival de Cinema de Gramado. Todas as locuções oficiais do evento são do icônico dublador de 71 anos.
Ele esteve presente em Gramado no último domingo para apresentar a palestra Dublagem – Vencendo o preconceito, na qual discute as dificuldades enfrentadas no ramo em que atua há mais de 40 anos. Bastante apaixonado pelo que faz, Márcio não encontra uma resposta definitiva para o preconceito com a sua profissão.
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– Ridicularizar deve ser muito bom, deve dar muito prazer. Dá status. "Eu não gosto de filme dublado, gosto de ver no original" – atesta o dublador, moldando sua voz para uma entonação de um lorde. – O sujeito cresce assistindo a filme dublado. Depois que vira adulto, torce o nariz. Seria uma coisa tão bem vinda se essas pessoas que criticam procurassem dar soluções para resolver as deficiências e apontar os motivos pelos quais tem preconceitos com a dublagem – completa.
Márcio explica que a dublagem não é direcionada para um público de classes baixas.
– A dublagem é para o povão? Não. É para todas as classes, de A a Z. Nós cumprimos o papel que é levar uma obra ao ouvido de quem não quer alternar o seu olhar da letra para a tela. Porque é um movimento constante, você acaba perdendo o que está nas telas para ler tudo que está embaixo – ressalta o dublador, que também é professor de técnicas de comunicação falada.
Para fortalecer seu argumento, o dublador menciona uma pesquisa de 2008, realizada pelo instituto Datafolha. O estudo aponta que 57% dos espectadores brasileiros médios (que frequentam o cinema ao menos uma vez a cada três meses) tinham preferência por filmes dublados, enquanto o público eventual (ao menos uma vez por ano) marcava 69%.
No entanto, Márcio não esconde seu pessimismo com o mercado de dublagem.
– O mercado de dublagem está pulverizado entre 37 empresas no Rio de Janeiro e outros tantos em São Paulo. Por causa da quantidade de estúdios, foi instaurada uma concorrência predatória. Tem o cliente que procura a produção mais barata, sem se preocupar com a qualidade – lamenta a voz do Festival.