A abertura do 44º Festival de Cinema de Gramado, na sexta-feira à noite, com a exibição, fora do concurso, do filme Aquarius foi marcada pela emocionante homenagem a Sonia Braga com o Troféu Oscarito e pelos protestos da plateia contra o governo do presidente interino Michel Temer – que incluíram vaias para Marcelo Calero, ministro da Cultura presente à sessão, chamado de "ministro golpista" e "Calero pelego", entre outros xingamentos. No sábado pela manhã, o elenco e a equipe do filme que estavam na Serra participaram de uma coletiva de imprensa – novamente a protagonista foi o centro das atenções. Antes da conversa com os outros integrantes de Aquarius, Sonia foi recebida com aplausos e entrevistada diante dos jornalistas pelo crítico e curador Rubens Ewald Filho.
– Queria dizer obrigado a Kleber por ter me mandado a mensagem na garrafa: “Você quer participar de Aquarius?”. Percebi que estava lendo o melhor roteiro que já tinha lido na minha vida, que dizia todas as palavras que eu queria dizer naquele momento – disse a atriz sobre o convite feito pelo cineasta Kleber Mendonça Filho.
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O realizador pernambucano também destacou a importância da escolha de Sonia como figura central do filme – uma sugestão do diretor de fotografia Pedro Sotero:
– Além dela como atriz, Sonia traz um rosto que representa o cinema. Já tinha tentado essa mistura de rostos e raças do Brasil em O som ao redor, e agora de novo em Aquarius.
A questão da situação política nacional, estreitamente associada ao longa desde que a delegação de Aquarius ergueu cartazes contra o governo Temer no Festival de Cannes, também pontuou o encontro com a imprensa.
– Vamos repetir as palavras: é golpe. Criar esse precedente no país é crime. O que fizemos em Cannes é um ato democrático. As pessoas que não concordam têm que entender que nós temos esse direito – argumentou Sonia.
– O que me motivou foi um senso de cidadania. A democracia, com todas as suas falhas, ainda é o melhor que temos. Nós estávamos no festival mais midiatizado do mundo. Fizemos um simples gesto de segurar uns papéis e teve uma repercussão muito grande, porque toca em um nervo. Eu faria tudo de novo – completou Kleber.
Com um orçamento de quase R$ 3 milhões, Aquarius entra em cartaz na Capital na próxima quinta-feira, com classificação indicativa de 18 anos – para alguns, uma espécie de represália pelo protesto em Cannes. Descontraída, simpática e sedutora, a diva de 66 anos que brilhou no cinema em filmes como Dona Flor e seus dois maridos (1976), Eu te amo (1981) e O beijo da Mulher- Aranha (1985) prefere não destacar nenhum papel como sendo o mais importante de sua carreira:
– Cada personagem que eu fiz conta uma parte da minha vida. São 50 anos de cinema que me levaram até Aquarius.