Carlos Gerbase*
Quantas decisões importantes tomamos durante a vida? Com certeza dezenas, talvez centenas. As mais críticas, penso agora, no alto dos meus 57 anos, são aquelas que acontecem entre os 20 e os 25, no início da carreira profissional e, para muitos, na alvorada dos relacionamentos amorosos mais sérios e duradouros. Às vezes estamos sozinhos na hora H e não é possível pedir um conselho, nem repartir a angústia da escolha por um dos caminhos que se abrem na encruzilhada. No entanto, outras vezes, quando naturalmente hesitamos em nosso ponto crucial, que os americanos chamam de "turning point" (título de um filme interessante de Herbert Ross), acabamos atropelados pela história e conduzidos coercitivamente pelas pessoas e pelas circunstâncias que nos cercam.
Verdes anos, que codirigi com Giba Assis Brasil, é um trabalho muito coletivo e seria impossível listar todas as pessoas que foram fundamentais para que ele existisse. Até hoje encontro gente que me diz: "Eu era figurante na cena do baile e, depois de esperar até as três da madrugada, morrendo de fome, ainda quebrei a cara durante a briga. Adorei!". Assim era o cinema no longínquo ano de 1983, quando eu tinha 24 anos e não era tão verde assim, mas estava longe da madureza.
Leia mais:
Livro e sessão especial lembram "Verdes anos", filme que marcou os anos 1980
Giba Assis Brasil: "Verdes anos", passado sem nostalgia
Marco do cinema gaúcho, "Verdes anos" completa 30 anos
O filme ganhou um Kikito em Gramado, teve um excelente público no Rio Grande do Sul e serviu para que equipe e elenco, que trabalharam literalmente "no amor", iniciassem suas carreiras no cinema dito profissional, produzido na bitola 35mm. Enfim, o filme foi um sucesso e ajudou muita gente. O que poucos sabem é que nem eu, nem o Giba, queríamos fazer esse filme. A iniciativa foi do produtor Sérgio Lerrer, que já tinha iniciado um Super-8 com o mesmo título, também baseado no conto de Luiz Fernando Emediato. O filme parou no meio. Eu tinha visto algumas cenas, e o resultado parecia precário.
Numa bela tarde de sol, o Sérgio bateu na porta da minha casa, na Rua Marquês do Pombal, e disse que o filme seria todo refeito, em 35mm, e que eu e o Giba dividiríamos a direção. "É muita responsabilidade", explicou o Sérgio. Já havia um roteiro, que estava sendo escrito pelo Álvaro Teixeira. Quando falei com o Giba, descobrimos que tínhamos a mesma opinião sobre o projeto: a história pouco acrescentava aos vários filmes Super-8 que tínhamos rodado antes.
Temática e esteticamente, com o longa Inverno (1983) já tínhamos nos afastado daquela onda de nostalgia adolescente. E, finalmente, fazer um filme com tantos personagens e tantas locações, quase sem dinheiro, era um risco muito grande. Resumindo: em nosso momento de decisão, achamos uma péssima ideia fazer Verdes anos e escolhemos não fazer. Mas fizemos. Por quê? Aí, caro leitor, só lendo o livro da Alice pra ficar sabendo.
*Cineasta, músico e professor, diretor, entre outros, dos longas Tolerância (2000) e 3 efes (2007), e codiretor de Verdes anos (1984) com Giba Assis Brasil