A morte de Danúbio Gonçalves, na manhã deste domingo (21), impactou artistas, admiradores e especialistas que acompanharam a trajetória do bajeense e sua relevância cultural de sua obra.
Francisco Dalcol, jornalista, crítico de arte e diretor curador do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), destaca:
– Danúbio é um dos nomes mais importantes da história das artes visuais do Rio Grande do Sul, tendo pertencido a uma geração que se empenhou em introduzir e difundir no Rio Grande do Sul as linguagens artísticas modernas. E, ao mesmo tempo, se projetou fora do Estado por sua postura de não adesão a modismos e por seu engajamento político e social, representado na fase de sua obra marcada pelas xilogravuras inspiradas nos trabalhadores das charqueadas e nos mineiros, nas quais se destacou pelo exímio tratamento gráfico e documental. Defendia que o artista tinha de ter posicionamento político, e que o papel da arte não se desvinculava da realidade social.
Com reconhecida atividade também como professor e mestre de diferentes gerações de artistas, Danúbio tem seu legado destacado por uma de suas alunas, Maria Tomaselli, artista plástica austríaca radicada em Porto Alegre desde a década de 1960:
– Conheci o Danúbio em 1966, como aluna. Aprendi com ele litografia e xilogravura. Ele foi a pessoa que mais ensinou aos artistas de Porto Alegre as técnicas de gravura. Ele não teve segredos, nunca escondeu nada. Isso acontece em todas as áreas, mas ele não tinha nada disso. As pessoas que estão aí, todas aprenderam com ele. Ele teve esse grande mérito, foi de uma generosidade muito grande, ajudou todo mundo a aprender os aspectos difíceis. Ele compartilhava livros de arte, revistas, discutia o que os grandes mestres faziam, tentava nos mostrar como se entra no âmago de uma gravura. Ele era também um crítico de certas modernidades nas artes, às vezes um ácido crítico, mas a gente levava numa boa. Ele defendia as artes, o saber.
O cineasta Henrique de Freitas de Lima lançou em 2012 o documentário Danúbio, resultado de um convivência muito próxima com o artista ao longo de sete anos. O filme tem como ponto alto a viagem deles México, que flagra Danúbio em seu encontro com a tradição muralista, uma arte política, e com as obras de Diego Rivera (1886 - 1957), seu principal expoente.
— O filme foi iniciativa dele, que, após ver meu longa Concerto Campestre me procurou perguntando se eu gostaria de fazer o registro de sua obra e sua vida. Curiosamente, nossa parceria começou antes em outro filme meu, Contos Gauchescos, para o qual ele fez uma série de desenhos que foram transformados em animações. Fico feliz de termos conseguido viajar, ido ao México, país que ele não conhecia. Era uma figura absolutamente simples e focada na sua vivência no campo. Fico muito feliz de ter lhe prestado esse tributo em vida.
Armindo Trevisan, poeta, ensaísta, professor e crítico de arte, ilumina outras características do legado deixado por pelo artista:
– Além da sua importância histórica com o Grupo de Bagé, com a renovação da linguagem, Danúbio deixa o legado sua representação realista do homem do campo e da nossa identidade regional. Forma um duplo, nas artes visuais, com a saga literária Gaúcho a Pé, do Cyro Martins. E foi um artista de grande sensibilidade também na representação da imagem da mulher. Era dono de uma imensa cultura sobre a estética e a história da arte.
Ainda não é assinante? Assine GaúchaZH e tenha acesso ilimitado ao site, aplicativos e jornal digital. Conteúdo de qualidade na palma da sua mão.