Há exatos 10 anos, a Fundação Iberê Camargo (FIC) abria as portas da sua sede, no número 2.000 da Avenida Padre Cacique. O prédio de cimento branco, desenhado pelo português Álvaro Siza, já nascia como referência internacional: premiado com o Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2002. Desde então, o edifício ultrapassou a missão de abrigar o legado do pintor gaúcho Iberê Camargo para tornar-se elemento indissociável da paisagem de Porto Alegre, ponto de encontro para ver o pôr do sol e depois também para ouvir música, ver filmes e mais. Ampliar a programação para manifestações artísticas além das artes visuais é uma das estratégias para reposicionar a FIC, que desde 2016 enfrenta uma crise financeira.
O mês em que a Fundação comemora os 10 anos de sua sede também marca a chegada de Emilio Kalil, anunciado como o novo superintendente da instituição na última segunda-feira. As atividades comemorativas dos 10 anos começam no próximo sábado (2/6), às 16h, com o seminário Ponto de Fuga, e seguem ao longo dos próximos meses. Na ocasião, o fotógrafo Fábio Del Re vai abordar o tema Fundação e(m) Obra, apresentando as fotografias que realizou durante a construção do prédio.
Em seus 10 anos, a FIC abrigou exposições que marcaram época. Relembre algumas:
IBERÊ CAMARGO: MODERNO NO LIMITE (2008)
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Com curadoria dos professores Mônica Zielinsky, Sônia Salzstein e Paulo Sergio Duarte, Moderno no Limite foi a exposição que inaugurou o centro cultural. Com 89 obras de Iberê distribuídas ao longo de 12 salas, a mostra abrangia diferentes fases da trajetória do autor, falecido em 1994, aos 79 anos.
REGINA SILVEIRA – MIL E UM DIAS E OUTROS ENIGMAS (2011)
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Com 29 trabalhos, a mostra da gaúcha Regina Silveira foi a maior exposição da artista na sua terra natal. Com curadoria do colombiano José Roca, trazia trabalhos que dialogavam intensamente com a arquitetura do edifício, especialmente a intervenção radical na fachada do edifício, com a palavra "luz".
AMORES DE LEONILSON (2012)
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Eleita pela revista Artforum como uma das melhores exposições do mundo em 2012, a mostra Leonilson – Sob o Peso dos Meus Amores foi a maior retrospectiva já montada desse nome fundamental da arte contemporânea. A Fundação expôs 361 obras de Leonilson (1957 – 1993), incluindo pinturas, bordados, desenhos e instalações. Curadoria de Bitu Cassundé e Ricardo Resende.
O ALFABETO ENFURECIDO (2010)
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Organizada pelo venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador de arte latino-americana do MoMA, a exposição propôs uma aproximação entre as poéticas de dois grandes artistas: o argentino León Ferrari (1920 - 2013) e a suíça radicada no Brasil Mira Schendel (1919 – 1988), mostrando que os dois compartilharam afinidades estéticas, como o abstracionismo, e temáticas, como a religião.
GIORGIO MORANDI NO BRASIL (2012-2013)
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A excelente retrospectiva do pintor e gravador italiano Giorgio Morandi (1890 – 1964) trouxe a Porto Alegre 40 pinturas e 15 gravuras que mostraram por que o bolonhês foi um dos mais influentes nomes da arte no século 20 com suas naturezas-mortas. A curadoria foi assinada por Alessia Masi e Lorenza Selleri.
DE CHIRICO: O SENTIMENTO DA ARQUITETURA (2011 – 2012)
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O mestre da chamada arte metafísica, Giorgio de Chirico (1888 – 1978), nunca havia sido visto no Brasil com a extensão e a profundidade proporcionadas pela mostra De Chirico: O Sentimento da Arquitetura – Obras da Fondazione Giorgio e Isa de Chirico, curada por Maddalena d'Alfonso. Foram reunidas 45 pinturas e 11 esculturas produzidas entre os anos 1950 e 1970, além de 66 litografias de 1930 – apresentadas juntas pela primeira vez.
O AR MAIS PRÓXIMO E OUTRAS MATÉRIAS (2012)
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Referência da arte contemporânea brasileira, o carioca Waltercio Caldas, 65 anos, ganhou uma ampla retrospectiva na FIC: foram 87 trabalhos, entre objetos, instalações e desenhos. Com curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro e Ursula Davila-Villa, O Ar Mais Próximo e Outras Matérias exibiu quatro décadas de produção de um criador que instiga o espectador a questionar os mistérios da obra. Foi uma experiência única para ver o diálogo entre o trabalho de Caldas, que responde à arquitetura dos ambientes, com o prédio desenhado por Siza.
WILLIAM KENTRIDGE: FORTUNA (2013)
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Um dos mais relevantes artistas da atualidade, o sul-africano William Kentridge veio a Porto Alegre e, apesar de ainda pouco conhecido pelo público, atraiu uma multidão para a FIC, com desenhos, gravuras, pinturas, esculturas, vídeo e instalação. Curadoria de Lilian Tone.
IBERÊ CAMARGO: SÉCULO 21 (2014)
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A maior mostra apresentada pela FIC, ocupando todos os seus andares, celebrou o centenário do artista gaúcho propondo diálogos de suas obras com as de artistas contemporâneos, como Angelo Venosa, Artur Lescher, Carlos Fajardo, Fabio Miguez, Karin Lambrecht, Gil Vicente, Regina Silveira e Rodrigo Andrade. Curadoria de Agnaldo Farias, Icleia Cattani e Jacques Leenhardt.
ABRAHAM PALATNIK, A REINVENÇÃO DA PINTURA (2015)
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A exposição curada por Felipe Scovino e Pieter Tjabbes deu uma boa amostra da produção do mestre da arte cinética no Brasil reunindo cerca de 80 obras, entre elas os históricos Aparelhos Cinecromáticos e Objetos Cinéticos.