Nesta terça-feira (23), o Colégio Israelita Brasileiro comemora 99 anos da sua fundação. Quase um século de história que, segundo a historiadora Luiza Helena Schmitz Kliemann, foi formada por “parágrafos com risos e lágrimas, lutas e conflitos”. Mais do que valorizar a sua história, a instituição acredita que o pilar para seu desenvolvimento foi a transmissão de valores. A escola tem uma trajetória marcada pela convivência com a diferença e pelo reconhecimento da importância da pluralidade e do diálogo.
Para evidenciar esse legado e celebrar essa marca, as comemorações do centenário do Colégio Israelita já serão iniciadas no dia 2 de dezembro.
O bairro Bom Fim, palco de toda essa história, em 1886, começou a ser loteado para receber imigrantes portugueses, italianos e judeus. No início do século 20, a região era pacata, formada por casas pequenas, quase todas à beira da calçada, que, segundo Luiza Kliemann, era habitada por “pobres, gente simples, de origem imigrante que se ocupava do pequeno comércio e de indústrias de fundo de quintal”. Ainda segundo a historiadora, eles permaneciam ali “porque os terrenos eram de baixo preço assim como as casas de aluguel. Muitos trabalhavam no centro da cidade e preferiam estar em área próxima.”
Juntos, unidos, mas, ao mesmo tempo, preocupados em se integrarem à comunidade local. O desejo latente de uma educação para seus filhos, que não perdesse de vista a tradição e cultura judaicas, foi crescendo à medida que a sociedade passava por importantes transformações.
E foi assim que, em 23 de novembro de 1922, aquele grupo de estudo começou a ganhar forma de escola, ainda na sinagoga União, localizada na Rua Dr. Barros Cassal. No início, embora houvesse a necessidade de uma escola, a maior parte da comunidade era formada por famílias com poucos recursos. Apesar das dificuldades, a primeira turma iniciou com 70 alunos e dois professores que dividiam entre si o ensino leigo e de hebraico: o professor Vecksler e a professora Teitelbaum, vindos de Israel.
Anos depois, a escola ganhou mais espaço, passando para a sede do Centro Israelita Porto-Alegrense, na Rua Henrique Dias. Em 1942, já com o nome de Sociedade de Educação e Cultura, mudou-se para a Avenida Oswaldo Aranha, 1.006, preservando o perfil de escola de bairro.
Em 1945, o número de alunos chegou a 156, passando para 254 dois anos mais tarde, fazendo crescer a necessidade de ampliar as instalações. Em 1950, uma campanha para construção de uma nova escola arrecadou 60 mil cruzeiros, recebendo ainda 15 mil cruzeiros do governo municipal e 5 mil cruzeiros do estadual.
A área disponível, na Rua João Telles, era impraticável. A busca por outra área fora do bairro, ainda que não fosse unânime, era a única opção. A aquisição do atual terreno, na Avenida Protásio Alves, aconteceria em agosto de 1951; o início das obras ocorreu em dezembro de 1952, quando foi lançada a pedra fundamental, com a participação de autoridades, professores, pais e alunos. A construção levou quatro anos para ser concluída.
Atualmente, com quase mil alunos, o Colégio Israelita, ou simplesmente CIB, é uma escola aberta para a comunidade ampla, sem perder os valores milenares da cultura judaica. Marca que registra não apenas o compromisso com a educação e a cultura, mas que renova todos os dias sua responsabilidade com o futuro, formando cidadãos responsáveis.
Uma escola por onde passaram artistas, escritores, médicos, engenheiros, advogados, professores, empresários, comunicadores, porto-alegrenses que contribuíram e continuam contribuindo para o desenvolvimento da cidade, tais como Moacyr Scliar, Nelson Sirotsky, Gilberto Schwartzman, Rafael Prikladincki, Nico Nikolaievski, Celso Gutfriend, entre tantos outros.