Dizem que a paixão é um sentimento intenso, envolvente e, não poucas vezes, efêmero. Mas quando ela surge num garoto de 14 anos e esse jovem se transforma num homem maduro que, aos 62 anos de idade, se mantém fiel (como nunca) a esse entusiasmo, à forte emoção juvenil e à admiração constante, como devemos classificar essa afeição? Amor? Pode ser. Mas amor por uma marca de automóvel? Por um conjunto de peças metálicas sobre rodas? Por um tipo de veículo? Sim, acho que é exatamente disso que estamos falando.
O advogado Teodoro Janusz, com a morte prematura de seu pai, entendeu que, embora fosse ainda um menino, precisava trabalhar. Conheceu, meio que por acaso, o mecânico e piloto de corridas Paulo Hoerle e conseguiu com ele um estágio, como aprendiz, em sua oficina. Hoerle competia e consertava DKWs. Conciliando trabalho e estudo, sua vida mudaria para sempre.
Durante a semana, Teodoro ajudava nos reparos e, nos finais de semana, seguia com o chefe para o autódromo de Tarumã. Foi sinalizador de pista (bandeirinha) aos 16 anos e, aos 18, comprou seu primeiro carro, um DKW, é claro. Com o tempo, tornou-se piloto e colecionador.
Construiu, na zona norte de Porto Alegre, um grande, limpo e organizadíssimo hangar onde reúne seu acervo. Tem lá, entre nacionais e importados, 11 veículos DKW, além de inúmeros troféus conquistados e uma incomum bomba de gasolina Mezcla Automática, que faz a dosagem de óleo e gasolina para motores de dois tempos.
Os carros mais raros são um Auto Union SP 1000, ano 1962, e um DKW 1955, SonderKlasse, sem coluna, ambos alemães. Tem um 1937 conversível, um Fissore, um Vemaguet, um Puma DKW, um Candango/Jipe e o xodó de competição, n° 88, vermelho. Entre 2005 e 2015, ficou em 1º lugar em 25 corridas, além de conquistar seis vices e três terceiros lugares. Ganhou dois campeonatos regionais (2009 e 2012) e foi vice em 2014.
Teodoro Janusz faz parte da Confraria dos Pilotos Jurássicos Gaúchos, mas aposto que o brilho que vi em seus olhos enquanto ele me mostrava sua coleção de DKWs era o mesmo que tinha aquele garoto de 14 anos que eu não conheci.
Colaborou Guilherme Ely