
Quase no final da década de 1930, Nilsa Röhle, nascida Hack, substituiu a bibliotecária de nível superior Hildegard Schulz Sydow na biblioteca comunitária da Sociedade de Leitura Hermann Faulhaber (muito conhecida pelos panambienses). Hildegard Schulz era casada com Ebehard Sydow. No início dos anos 1930, o casal saiu de Friedenau-Berlim e migrou para o Brasil com os três filhos: Ulrich, Ebehard e Mechthild.
Vieram no navio Monte Olivia até o porto de Rio Grande. Dali, foram de trem pela linha Santa Maria-Marcelino Ramos até a estação ferroviária Belisário, de onde seguiram, em uma carroça puxada por animais, por aproximadamente 40 quilômetros, até o povoado sede da Musterkolonie (colônia modelar) Neu-Württemberg, origem dos municípios de Panambi e de Condor.
Hildegard era filha do editor da imprensa oficial do Império Alemão, extinto após a I Guerra Mundial com a implantação da República de Weimar. A sua formação era de nível universitário na função de bibliotecária. Seu diploma de curso superior, como era de praxe na Alemanha Imperial, foi emitido em latim e assinado pelo imperador.
A capacidade profissional de Hildegard foi reconhecida pelo imperador Guilherme II quando ele a nomeou para o cargo de bibliotecária-mor do Império Alemão. Esses documentos, junto com outros papéis e livros pessoais da família Sydow, foram confiscados e queimados na cidade de Ijuí, nos difíceis anos da campanha de “nacionalização”, durante a ditadura de Getúlio Vargas.
No distrito de Neu-Württemberg, que, em 1938, teve o nome abrasileirado para Pindorama, a família Sydow foi morar em uma propriedade rural, onde nasceu o quarto filho do casal, que recebeu o nome de Gunther. De duas a três vezes por semana, Hildegard cavalgava até Neu-Württemberg, posteriormente também chamada de Elsenau, para cuidar e dar assessoria à biblioteca comunitária da Sociedade de Leitura Hermann Faulhaber. Ela se preocupava muito com a educação e com a cultura das crianças e da juventude da antiga Musterkolonie Neu- Württemberg.

Nos últimos anos da década de 1930, a família Sydow mudou-se para a cidade de Ijuí, onde Hildegard continuou trabalhando como bibliotecária, e o marido como agente de obras e de preservação da praça da cidade. Por isso é que, na Sociedade de Leitura Hermann Faulhaber, a eminente bibliotecária foi substituída pela então jovem Nilsa Hack, que, depois de casada, passou a utilizar o sobrenome Röhle.
Na cidade de Ijuí é que a família Sydow presenciou e foi vítima do triste e lamentável episódio do confisco e da destruição pelo fogo de documentos e livros pessoais (bíblias, impressos religiosos e familiares, jornais e revistas) pertencentes aos laboriosos imigrantes dessa próspera comunidade pelos agentes da repressão da ditadura do Estado Novo. É bom lembrar que esse abominável acontecimento se deu muito antes da declaração de guerra, em 1942, do Brasil aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Colaboração de Ivo Beuter, baseada em relato do panambiense professor Gunther Sydow, que hoje, com idade avançada, trabalha no Museu Visconde de São Leopoldo, em São Leopoldo.