Como fotógrafo que sou, só com imagens posso homenagear Paulo Sant’Ana. Eu convivi com o mito e com o homem. Era o parceiro de papo no fumódromo que existiu na Zero Hora e, ao mesmo tempo, alvo tantas vezes da minha lente, afinal, ali estava um personagem da minha época.
Gremista e boêmio como meu pai, Hamilton Chaves, mais de uma vez vi lágrimas nos olhos dele quando lembrávamos do meu velho. Fotografei o cara muitas vezes. Numa delas, usei três espelhos para fotografar o múltiplo e caleidoscópico Paulo/Pablo. Em outra, para a capa do jornal (e para a coluna dele), quando foi o primeiro gaúcho a usar o Viagra e confessar isso publicamente.
Com uma lupa, examinando velhos negativos, com fotos da Campanha da Legalidade, na crise institucional de 1961, encontrei um rosto familiar, embora tenha levado algum tempo para identificá-lo. Sim, era ele. Anônimo, ao lado do povo que cercava o governador Leonel Brizola durante uma visita ao pavilhão do Mata-Borrão, onde havia alistamento para os defensores da causa.
Leia mais
Paulo Sant'Ana deve ganhar memorial na Arena
Relembre as colunas marcantes de Sant'Ana
45 anos de Sant'Ana em ZH
VÍDEO: Pablo ou Paulo? Sant'Ana fala sobre si mesmo
Vi de longe e fotografei quando a numerosa torcida gremista levantou aquele sujeito de cabeça branca e atravessou, com ele nos ombros, o pórtico do Olímpico Monumental, na última partida naquele estádio. Sim, só podia ser ele... e era.
Mandei fazer cópias dessas duas últimas fotografias (uma delas, a capa desta edição do jornal), providenciei as molduras e dei como presente a ele com a mensagem: "Paulo Sant’Ana, do anonimato à glória!".
Na verdade, ele sempre foi protagonista e, como as imagens, ficará para sempre.