Na segunda-feira passada, morreu, aqui na Capital, o comandante Binz. Armin Ernesto Binz nasceu em Santa Cruz do Sul, em 1927, mesmo ano em que a Varig foi fundada. Ele havia completado 90 anos no último dia 25 de abril. Recentemente, em maio, quando do lançamento do livro Berta – Os Anos Dourados da Varig, de autoria do jornalista Mário de Albuquerque, obra essa comemorativa às nove décadas da criação da companhia aérea, Binz foi lembrado, em nota deste Almanaque (edição do dia 15/5), como o piloto do voo pioneiro, sem escalas, entre o Rio de Janeiro e Paris, realizado num Boeing 707, em 1967, portanto, meio século atrás.
Brevetado em 1948, ao longo de 40 anos de carreira, completou 33 mil horas voadas (mais ou menos o equivalente a três anos e meio no ar) e comandou também as aeronaves DC-3, Curtiss C-46 Commando, Convair 240, Super Constellation, Caravelle (primeiro jato na América do Sul), DC-10 e Boeing 747 (Jumbo). Pelo menos duas passagens na sua trajetória merecem ser relembradas.
A primeira, registrada no livro Assim se Voava Antigamente, de Lili Lucas Souza Pinto, é hilária. Num bonito domingo, o telefone do centro de controle de voo tocou e foi atendido pelo comandante Pinto, que estava no plantão e se identificou. Do outro lado da linha, a voz disse: "Aqui é o Berta (Ruben Berta, então presidente da Varig), quem está no comando do VBF?". Pinto respondeu que o Douglas C-47, cargueiro PP-VBF, que estava vindo de São Paulo, estava sob o comando de Binz e perguntou qual o motivo da indagação. "Não interessa! Põe o Binz na rua!", e desligou.
Quando o avião pousou, Pinto foi ao encontro do piloto, para saber o que havia ocorrido. A única coisa diferente durante o divertido voo foi uma brincadeira patrocinada pelo comandante, que confessou estar voando muito baixo junto ao litoral quando resolveu dar um susto num homem solitário que, sobre uma pedra, pescava. Com o cargueiro vazio, Binz deu um rasante sobre o cara, obrigando o pescador a se jogar no mar. Não foi difícil, para Binz, concluir que o pescador era, desgraçadamente, "seu" Berta. A demissão foi atenuada e convertida em punição.
Noutra feita, em 1969, num dia lindo e limpo, o comandante achou estranho um surpreendente anel de nuvens em torno do pico do monte Aconcágua, nos Andes, durante um voo entre Buenos Aires e Santiago do Chile. O piloto, desconfiado, ordenou imediatamente a suspensão do serviço de bordo e alertou que todos os 116 passageiros e tripulação ocupassem seus assentos e apertassem os cintos. Em menos de dois minutos, o Boeing 707 entrou numa área de turbulência que quase destruiu a aeronave. Tudo tremia e balançava.
O piloto automático desligou. A muito custo, o experiente comandante mal conseguia manter o aparelho voando. Na cozinha, tudo que era de quebrar, quebrou. Os gritos dos passageiros podiam ser ouvidos na cabine de comando, o pânico era total. Portas internas se abriam e batiam. Felizmente, passados alguns minutos, a calmaria voltou. Em Santiago, o avião foi submetido a rigorosa avaliação. De volta ao Brasil, ficou 15 dias no estaleiro. Foi difícil, mas acabou dando tudo certo.
A Varig ainda sobrevive na sua bela história, e esta foi feita por grandes homens, como Armin Ernesto Binz.
Colaboraram Marilia Michaelsen Binz e Alexandre Kealman