Vendo essa fotografia do meu falecido irmão, lembrei de como ele se divertiu durante a sua juventude. A foto é de uma excursão do Colégio Rosário, provavelmente, no ano de 1963. Ele devia ter aí uns 17 anos. É o cara bem do meio, de blusa branca comprida, loiro.
Pois, olhando a imagem, comecei a vê-lo dançando, namorando, indo às reuniões dançantes, voltando para casa de madrugada, a pé, sem medo e muito feliz. Deu-me vontade de escrever. Anos 1960. Sábado, em Porto Alegre. Meu irmão, Gilberto Luiz Knapp (1946-2009), como fazia todos os sábados, decide onde vai dançar e namorar: Reitoria, Libanesa, Gondoleiros, Sogipa ou, quem sabe, Casa de Portugal? Lembro bem desses lugares porque eram os mais conhecidos, aonde ele ia quase sempre. Reunia os amigos Paulo Ernani, Gerson Lanziotti, Paulo Weber e os irmãos Monaiar e seguiam, felizes. Viver é isso, não é mesmo? Claro que havia as reuniões dançantes promovidas em casas de amigas ou amigos.
Eu ia quase sempre. Como penetra. Ficava só olhando. Lindas meninas. Só não ia às festas de 15 anos. Estes aniversários exigiam "fatiota" e eu, com 11 ou 12 anos, não tinha.
E faltava o convite.
Naquela época, o cara era, vamos dizer, "popular" de acordo com o número de convites para festas de 15 anos que recebia. Lembro que recebi um. E, tímido, não fui. Isso que gostava de quem me convidou. A aniversariante. Já o Gilberto recebia muitos desses convites, mas muitos mesmo, e dava jeito de ir a todos. Simpático, adorava se vestir bem. Era, acho, um "galã", um pouco do estilo Elvis Presley. E era um excelente dançarino. Tenho quase certeza de que, entre os seus 15 e 23 anos, não deixou de dançar um sábado sequer. Quando ficava doente ou com algum resfriado, ele mesmo organizava um encontro dançante lá em casa.
Verdade!
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E era a presença maciça da sua turma que garantia o sucesso da noite. Cuba libre e lindas meninas. O som, GE, acoplado com rádio, TV e toca-discos, mandando LP’s dos Velhinhos Transviados, Jorge Ben, Chubby Checker, Connie Francis, Trini Lopez e muita música mais, principalmente a italiana, mais romântica e própria para dançar juntos, quase parando.
Que guria resistia a um Domenico Modugno, Bobby Solo, Peppino di Capri ou a um Sergio Endrigo? Ou, quem sabe, ao francês Gilbert Becaud? E era bonito ver aqueles jovens dançando Perfídia, Sabor a Mí, ou alguma romântica do Roberto Carlos. Só sei que as músicas e as danças me tiravam do sério.
Eu ficava louco com aqueles pares no meio da pista, grudadinhos. Lembro de uma vez em que voltei a pé da Libanesa, onde hoje é a Sogipa, até o nosso apartamento na Cristóvão, defronte à Brahma, apenas para esfriar meus pensamentos. Mas eu não perdia as esperanças de reencontrar aqueles rostos lindos.
No outro dia, domingo, tinha matinê no Cinema Colombo, e as meninas estariam lá. Para mim, admirar aquelas belezas era tudo de bom. Mas a cena, novamente, era dominada por meu irmão, que levava a trilha que tocaria no cinema. Todos os discos que tocavam, antes e no intervalo das sessões, eram os que haviam servido de som ambiente na noite anterior. Na tela, Marlon Brando, James Dean, Gary Cooper, Natalie Wood, Sandra Dee, Jean Seberg.
E eu ali, vivendo tudo isso!
Texto de Inácio Knapp