Com os telefones inteligentes dotados de câmeras fotográficas, uma avalanche de imagens passou a ser produzida e compartilhada. A facilidade com que trafegam fotografias através da rede certamente estimula esse narcisismo contemporâneo. As ferramentas e os métodos são novos, mas o comportamento remonta ao mito grego de Narciso, o jovem que ao ver-se refletido na água apaixonou-se pela própria imagem ali refletida. Além das interpretações psicanalíticas que descrevem esse tipo de atitude como uma forma de sexualidade baseada no próprio corpo do indivíduo, talvez, atualmente, seja mais apropriado atribuir essa "mania" tão popular a um esforço pessoal pela afirmação de sua identidade e uma tentativa, quase desesperada, de reivindicar algum reconhecimento.
Numa análise de botequim, estaria entre algo como o "ser ou não ser" shakespeariano e os "15 minutos de fama", de Andy Warhol. Celebridade instantânea é um bom termo. As fotografias, no passado, foram chamadas de instantâneos, numa referência à velocidade com que eram obtidos os "flagrantes", e celebridade, ao que tudo indica, não há quem não queira. Até o Pato Donald, em 1961, e o Tio Patinhas, em 1967, sucumbiram à tentação. Os autorretratos, segundo a wikipédia, "estão presentes na antiguidade clássica. O escultor Fídias, do século 5 a.C., teria deixado, no Partenon, em Atenas, sua imagem esculpida; antes, no antigo império egípcio, um certo Ni-ankh-Phtah teria deixado sua fisionomia gravada em monumento, ou, ainda, considera-se, eventualmente, que em culturas pré-literárias já havia quem os produzisse".
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Um exemplo curioso foi o trabalho fotográfico Os 30 Valérios, realizado, nos primeiros anos do século passado, pelo artista Valério Vieira (1862-1941). Trata-se de uma fotomontagem teatral e humorística, que é considerada um marco na história da fotografia brasileira.
O fotógrafo, pianista e compositor idealizou a cena de um sarau no qual ele é o único personagem. A plateia, os músicos, o garçom, os quadros da parede e até o busto de mármore (à esquerda) têm o seu rosto reproduzido. Um exagero proposital que não difere muito daquele dos frequentadores do Facebook ou do WhatsApp, kkkkk!
Colaborou Maria Beatriz Gay