Neste sábado, às 10h30min, na cidade de Feliz, será inaugurado um importante marco para a valorização da história da medicina gaúcha. Trata-se do Memorial Hospital Schlatter (Rua Santa Catarina, 900). A cerimônia vai contar com a presença de diversas autoridades, além da participação dos descendentes da família Schlatter e da senhora Olga Schlatter, viúva do neto do fundador, que foi a idealizadora do projeto. Em 1909, o austríaco Gabriel Schlatter (1865-1947) comprou e reformou um prédio erguido na década de 1890 para instalar ali um hospital, com capacidade para 25 leitos.
Gabriel nasceu em Lahnbach, no Tirol, foi pastor, aprendiz de sapateiro, serralheiro, construtor de estrada e sacristão. Quando trabalhava no Convento das Irmãs de Caridade em Zams, ainda na Áustria, entrou em contato com livros de medicina. Em 1896, formou-se no curso de Medicina para estrangeiros, em Berlim. No ano de 1898, desembarcou em Porto Alegre. Depois de passar por Novo Hamburgo, Caí e Lajeado, fixou-se em Estrela em 1899.
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Tornou-se famoso cirurgião e obstetra e projetou uma mesa de cirurgia portátil, que foi adotada pelo Exército Brasileiro. Em 1909, transferiu-se para Vila Feliz com sua esposa, Anne Marie, e seus quatro filhos: Doris José, Bruno, Hedwig e Anna Francisca. Ali construiu o primeiro hospital da região. Multiplicou cursos para parteiras pelo Estado e foi pioneiro, no país, em cirurgias de bócio. Quando ele morreu, aos 82 anos, seu filho, Doris José (1900-1966), prosseguiu sua obra. Nascido em Estrela, Doris José cursou a Faculdade de Medicina de Porto Alegre.
Depois de formado, passou a clinicar no hospital de seu pai. Construiu novas alas e ampliou o atendimento. Casado com Erica Flach, pai de Theo Tássilo, Carmen Úrsula e Pio Renato, provou ser possível realizar-se em várias áreas, aliando as tarefas de médico e de administrador do hospital com seu talento artístico e participação na política. Compositor de obras sacras e profanas, foi pioneiro no RS na arte de tocar serrote. Foi fundador do Partido de Representação Popular (PRP), em Feliz, e presidente da comissão de emancipação do município.
Seu filho Theo Tássilo Schlatter (1930-2007) nasceu e cresceu na casa-hospital dos Schlatter, em Feliz. Aos 11 anos, veio para a Capital, estudou no Colégio Anchieta e, em 1954, formou-se em Medicina na UFRGS. Fez estágio em cirurgia geral e, em São Paulo, aperfeiçoou-se em cirurgia vascular. Trabalhou no interior gaúcho, radicando-se definitivamente em Feliz em 1956. Casou-se em 1957, com Olga Nedel Schlatter. Tiveram sete filhos: Margarete, Gilberto, José Carlos, Raul, Beatriz, Luciana e Denise. Gilberto e Denise também se tornaram médicos. Em 1966, assumiu a administração do Hospital Schlatter, ampliando e qualificando a infraestrutura e os serviços oferecidos. Em 2003, recebeu os prêmios Melhores da Medicina no RS e Melhores da Medicina no Brasil.
A história do hospital é a história de três gerações. A existência de um excelente hospital contribuiu para que, em 1998, Feliz conquistasse o primeiro lugar no ranking dos municípios brasileiros com maior índice de desenvolvimento humano (IDH). A memória se manifesta a partir de pessoas, lugares, construções e objetos, todos com suas estimas e significados. Esse espaço é repleto de histórias e reflexões que o município de Feliz recebe e inclui em seu roteiro turístico e cultural.
Colaborou Diego Leonhardt