Painéis governamentais que monitoram o avanço da imunização contra a covid-19 estão utilizando diferentes critérios para medir o progresso da aplicação de doses. Epidemiologistas sustentam que o percentual de vacinados sobre toda a população é o mais adequado por demonstrar corretamente o quanto falta para frear a circulação do vírus, embora parte dos vacinômetros calcule a proporção apenas sobre o grupo prioritário ou a população maior de 18 anos.
Cidades como Porto Alegre, por exemplo, apresentam a percentagem de pessoas beneficiadas com uma ou duas doses comparando-as à população apta a ser vacinada até o momento, ou seja, se limita aos maiores de 18 anos. Outros vacinômetros calculam o andamento entre o grupo prioritário, que inclui apenas as pessoas mais suscetíveis a complicações, como os idosos.
Nesta semana, o site do governo gaúcho passou a apresentar as três formas de monitoramento: sobre o grupo prioritário, em relação às pessoas “vacináveis” e ao total de residentes no Estado. Cada modelo pode servir para jogar luz sobre um determinado aspecto da campanha contra o coronavírus, mas a conta fundamental, sob o ponto de vista epidemiológico, envolve toda a população.
— É a proporção de vacinados entre toda a população que vai indicar se estamos chegando ou não à imunidade coletiva porque, embora menores de 18 anos tenham uma letalidade menor do que os idosos, também podem contrair e transmitir a doença — explica o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry.
Como esse critério mais amplo aumenta o denominador da conta a ser feita, resulta em índices mais baixos em comparação aos demais. Por essa metodologia de monitoramento, até a manhã desta quarta-feira (9) o Rio Grande do Sul havia contemplado 30,6% de todos os gaúchos com a primeira dose e 14,1% com as duas. Utilizando-se como base de cálculo somente o grupo prioritário, por exemplo, essas cifras sobem para 64,6% e 30,3%, respectivamente.
O que cada forma de cálculo indica
- Proporção de vacinados sobre a população total: é a métrica pela qual se calcula a chamada imunidade coletiva, que barra a circulação do vírus e permite a retomada de uma maior normalidade (embora precauções ainda sejam necessárias). Calcula-se que é preciso vacinar cerca de 70% de toda a população para alcançar esse patamar — índice que pode variar conforme fatores como eficácia das vacinas e medidas de distanciamento social. Baixa eficácia e falta de distanciamento pode exigir proporções mais altas.
- Sobre os grupos prioritários: como envolve a população mais sujeita a complicações de saúde pelo coronavírus, pode ser útil como forma de monitorar o avanço da vacinação justamente sobre os indivíduos com maior risco de óbito. Uma boa cobertura vacinal entre essa fatia da sociedade pode não barrar a transmissão do vírus, mas ter impacto benéfico sobre a mortalidade.
- Sobre a população vacinável: serve mais como forma de monitorar o avanço do trabalho que cabe até o momento ao poder público. Como ainda não há vacinas liberadas para menores de 18 anos, municípios, Estados e a União só podem imunizar a população adulta. Mas não serve como parâmetro para o cálculo da imunidade coletiva, já que menores de idade também podem contrair e passar o vírus.