Nos próximos dias, um novo grupo começará a receber as doses da vacina contra o coronavírus em todo o Estado. As pessoas com comorbidades, gestantes e mulheres que recém deram à luz serão imunizadas após a conclusão da etapa da campanha entre os idosos.
Em reunião na tarde desta quinta-feira (29), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) e o Conselho das Secretarias Municipais da Saúde do Estado (Cosems) decidiram destinar o novo lote de vacinas de Oxford/AstraZeneca que chegou ao Estado para vacinar 100% dos idosos até 60 anos e começar a imunizar as pessoas com comorbidades.
No entanto, será dada autonomia para que os municípios decidam se vão terminar a etapa com os idosos para então partir para o grupo com comorbidades ou se vão fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Porto Alegre, por exemplo, dá início nesta sexta-feira (30) à vacinação da fase 1 das comorbidades e segue a aplicação em pessoas com mais de 60 anos.
— Vamos distribuir doses para encerrar toda a faixa etária dos idosos e para vacinar a fase 1 do grupo de pessoas com comorbidades. Mas cada município pode decidir como proceder, a partir da realidade local. Se quiser terminar a fase dos idosos e depois partir para as comorbidades, pode fazer. Se quiser abrir para todos de forma concomitante, também é possível. O importante é avançarmos na vacinação, que já dá resultados muito animadores — disse na reunião a diretora de Atenção Primária e Políticas de Saúde da SES, Ana Costa.
O universo de pacientes com algum problema de saúde crônico entre as 22 categorias previstas soma pouco mais de 1,1 milhão no Estado. Posteriormente, o Ministério da Saúde incluiu nessa categoria as gestantes e as mulheres que deram à luz até 45 dias antes (puérperas). Elas foram divididas em duas etapas da campanha: primeiro serão atendidas aquelas com comorbidades, depois todas as demais.
Presidente do Cosems e titular da saúde em Canoas, Maicon Lemos alerta para a importância de os beneficiados levarem documentação recente que comprove sua condição, de preferência um laudo médico.
Confira, abaixo, o que se sabe até agora sobre como deverá funcionar essa nova fase da luta contra a covid-19 no Rio Grande do Sul.
TIRE SUAS DÚVIDAS
Quem terá direito a tomar a vacina no grupo das comorbidades?
Pessoas que têm algum dos 22 tipos de problemas de saúde listados pelo Ministério da Saúde (veja lista ao final desta reportagem), gestantes e puérperas (mulheres que deram à luz até 45 dias antes).
Quando essas pessoas começarão a ser vacinadas?
Isso deve ocorrer nos próximos dias, à medida que os municípios forem encerrando a imunização dos idosos. O Conselho das Secretarias Municipais de Saúde (Cosems/RS) acredita que o grupo das comorbidades deverá ser imunizado em larga escala a partir do começo de maio.
Como será a ordem de vacinação?
O Ministério da Saúde dividiu o grupo das comorbidades em duas fases. A primeira, que deverá ser contemplada inicialmente, inclui os seguintes critérios:
- Pessoas com síndrome de down maiores de 18 anos
- Pacientes de doenças renais que fazem tratamento por diálise maiores de 18 anos
- Gestante e puérperas (passaram há menos de 45 dias pelo parto) com alguma comorbidade, maiores de 18 anos
- Pessoas com 55 a 59 anos com comorbidades
- Pessoas com deficiência permanente cadastradas no programa de Benefício de Prestação Continuada (BPC) de 55 a 59 anos
Na segunda fase, será aberta a vacinação para as demais pessoas com os 22 tipos de comorbidades — incluindo aquelas com deficiência permanente cadastradas no BPC, as gestantes e puérperas mesmo sem condições pré-existentes — divididas por idade, assim como ocorre atualmente no grupo dos idosos. Após completar a faixa das pessoas de 55 a 59 anos, começa a aplicação nas pessoas com 50 a 54 anos, depois 45 a 49 anos e assim por diante, até os 18 anos.
Como será feita a comprovação das comorbidades?
O Cosems/RS orienta que o documento preferencial a ser apresentado é um laudo médico descrevendo o problema de saúde. Alguns casos também permitem a apresentação de receita de medicamento de uso continuado, como é o caso de pessoas com hipertensão, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica ou asma. A recomendação é de que o documento seja “recente”, preferencialmente dos últimos 30 dias.
Quem tem cadastro no SUS precisa levar alguma documentação? Como saber se tem cadastro?
O cadastro facilita, mas a recomendação do Cosems é de que mesmo quem está registrado no SUS, por ser acompanhado pelo sistema público de saúde, leve um documento como laudo médico ou receita de medicamento de uso continuado. É possível que a unidade de vacinação não esteja com acesso ao sistema para comprovar o cadastro, por exemplo. De qualquer forma, para saber se está cadastrado, pode-se procurar a unidade de saúde de referência.
Como gestantes e puérperas poderão comprovar sua condição?
As grávidas costumam contar com uma carteira onde são registradas suas informações de saúde ao longo da gestação. Quem já deu à luz pode utilizar um documento como a caderneta da criança, onde também são anotados dados de saúde, vacinação etc, ou certidão de nascimento.
Se não houver vacina para todo o grupo da fase 1 das comorbidades, qual será a ordem de preferência?
A tendência, segundo o Cosems, é de que, nos locais onde não for possível atender todo esse grupo inicial de forma concomitante em razão da limitação nas remessas de vacina, seja seguida a ordem de apresentação dos perfis pelo Ministério da Saúde, começando pelas pessoas com Síndrome de Down, pacientes de doença renal sob diálise, gestantes e puérperas com comorbidades, assim por diante. Já na segunda fase o critério será por idade.
Quais as comorbidades previstas
A lista a seguir traz definições resumidas para 22 categorias (sem contar gestantes e puérperas). A íntegra pode ser consultada no Plano Estadual de Vacinação. Algumas definições envolvem conceitos técnicos que podem ser esclarecidos diretamente com seu médico.
- Diabetes: pessoas com diabetes mellitus
- Pneumopatias crônicas graves: inclui doença pulmonar obstrutiva crônica, fibrose cística, fibroses pulmonares, pneumoconioses, displasia broncopulmonar e asma grave (uso recorrente de corticoides sistêmicos ou internação prévia por crise asmática).
- Hipertensão Arterial Resistente (HAR): quando a pressão arterial permanece acima das metas recomendadas com o uso de três ou mais anti-hipertensivos de diferentes classes, em doses máximas preconizadas e toleradas, administradas com frequência, dosagem apropriada e comprovada adesão ou pressão arterial controlada com uso de quatro ou mais anti-hipertensivos.
- Hipertensão arterial estágio 3: pressão arterial sistólica igual ou maior a 180 e/ou diastólica igual ou superior a 110, independentemente da presença de lesão em órgão-alvo (cérebro, coração, vasos sanguíneos, olhos, rins) ou comorbidade.
- Hipertensão arterial estágios 1 e 2: com lesão em órgão-alvo (cérebro, coração, vasos sanguíneos, olhos, rins) e/ou comorbidade. Pressão sistólica entre 140 e 179 e/ou diastólica entre 90 e 109 na presença de lesão em órgão-alvo e/ou comorbidade.
- Insuficiência cardíaca: insuficiência com fração de ejeção (capacidade de bombeamento do coração) reduzida, intermediária ou preservada; em estágios B, C ou D, independentemente de classe funcional da New York Heart Association.
- Cor-pulmonale e Hipertensão pulmonar: cor-pulmonale crônico (problema no ventrículo direito que resulta em distúrbio pulmonar), hipertensão pulmonar primária ou secundária.
- Cardiopatia hipertensiva: hipertrofia ventricular esquerda ou dilatação, sobrecarga atrial e ventricular, disfunção diastólica e/ou sistólica, lesões em outros órgãos-alvo (cérebro, coração, vasos sanguíneos, olhos, rins).
- Síndromes coronarianas: síndromes crônicas como Angina Pectoris (estreitamento das artérias que levam sangue ao coração) estável, cardiopatia isquêmica, pós-infarto agudo do miocárdio, entre outras.
- Valvopatias: lesões de válvula cardíaca com repercussão na circulação do sangue, sintomática ou com comprometimento miocárdico.
- Miocardiopatias e pericardiopatias: de quaisquer causas ou fenótipos; pericardite crônica; cardiopatia reumática.
- Doenças da aorta, dos grandes vasos e fístulas arteriovenosas: aneurismas, dissecções, hematomas da aorta e demais grandes vasos.
- Arritmias cardíacas: com relevância clínica e/ou cardiopatia associada.
- Cardiopatia congênita no adulto: com repercussão na circulação do sangue, crises hipoxêmicas (pouco oxigenação), insuficiência cardíaca, arritmias, comprometimento miocárdico.
- Próteses valvares e dispositivos cardíacos implantados: portadores de próteses de válvula biológicas ou mecânicas; dispositivos cardíacos implantados (marcapasso, cardiodesfibrilador, ressincronizador, assistência circulatória de média ou longa permanência).
- Doença cerebrovascular: acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico; ataque isquêmico transitório; demência vascular.
- Doença renal crônica: estágio 3 ou mais e/ou síndrome nefrótica (conjunto de sinais que caracterizam uma doença renal e evolução crônica).
- Imunossuprimidos: transplantados de órgão sólido ou de medula óssea; pessoas vivendo com HIV; doenças reumáticas imunomediadas sistêmicas em atividade e em uso de dose de prednisona ou equivalente superior a 10 mg ao dia ou recebendo pulsoterapia com corticoide e/ou ciclofosfamida; demais indivíduos em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias; pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico nos últimos seis meses; neoplasias hematológicas.
- Anemia falciforme: todas as pessoas com a doença.
- Obesidade mórbida: índice de massa corpórea (IMC) igual ou superior a 40.
- Síndrome de down: trissomia do cromossomo 21.
- Cirrose hepática: Child-Pugh (tipo de escore de classificação) A, B ou C.