Depois do susto de contrair o coronavírus e precisar ser internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o biólogo Joel Garcia Dias, 60 anos, resolveu retribuir a atenção toda a recebida no leito. Ele doou oito equipamentos para transporte individual de cilindros de oxigênio, facilitando o deslocamento de pacientes internados.
Morador de São Leopoldo, Joel ficou 18 dias no Hospital Centenário, o único do SUS na cidade. Metade deste tempo, foi em uma UTI, onde recebeu cuidados especiais, mas não chegou a ser intubado. E, por isso, presenciou os desafios diários dos médicos no local. Durante os dias em que passou na instituição, o biólogo buscou observar as maiores dificuldades dos profissionais de saúde no dia a dia. E algo que parecia simples, lhe saltou aos olhos. Para lidar com essa a necessidade de deslocamento de alguns pacientes ligados aos oxigênio, eram preciso que o profissional de saúde carregasse ou até arrastasse os cilindros pelo hospital.
– Cheguei aqui desesperado, não conseguia respirar. Fui bem atendido desde o início e pensei comigo que, se eu sobrevivesse, iria retribuir de alguma forma o cuidado que recebi aqui – recorda Joel.
Ideia
O morador de São Leopoldo ficou internado durante o mês de fevereiro, recebendo a alta no início de março. Depois disso, iniciou a procura entre amigos e empresários locais para angariar doações para a instituição. Na internet, começou a busca por equipamentos de transporte para cilindros menores de oxigênio, aqueles que Joel via tendo de serem carregados enquanto estava no Centenário. Encontrou os equipamento em Porto Alegre e conseguiu adquirir oito suportes com rodinhas, que permitem manobrar os cilindros sem o esforço que era exigido antes. A entrega ocorreu ainda em março.
– Foi uma forma de retornar todo o empenho que recebi lá. Depois da UTI, fiquei alguns dias em recuperação, tive atendimento médico, fisioterapia, exames, um atendimento fantástico, me senti privilegiado, ouvindo as notícias de que muitas pessoas estavam aguardando vagas para serem internadas, sendo atendidas de maneira emergencial. E tive tudo aqui pelo SUS, na minha cidade – comemora.
Ação será ampliada
A doença foi um susto para Joel. Ele e a esposa, a representante comercial Lurdes Regina da Silva, 54 anos, vinham tomando todos cuidados desde o início da pandemia. Ele é hipertenso, ela, enfrentou um câncer e hoje só tem um pulmão. Entretanto, uma irmã de Regina passou mal e teve um desmaio em casa. Lurdes foi ajudá-la sem saber que o desmaio, na verdade, já era em consequência da covid-19.
– Minha maior preocupação era com ela, por ter apenas um pulmão. Mas os sintomas nela foram leves, nem chegou a ser internada. Eu passei um pouco mais de trabalho, mas agora estamos ambos bem e recuperados – diz ele.
Na jornada para conseguir o apoio na compra dos suportes móveis para os cilindros, Joel achou outros interessados em ajudar. Uma empresa de São Leopoldo que fabrica portas automáticas para ambientes industriais desenvolveu novos modelos de suportes. A ideia é ampliar os tamanhos e até a capacidade de cilindros. Os novos modelos também devem ser doados ao Hospital Centenário.
– Eu queria apenas angariar fundos para conseguir alguns suportes e agora uma empresa parceira vai produzir modelos do zero para doação. Está sendo muito recompensador auxiliar uma instituição tão importante e histórica da nossa cidade – comemora Joel.