Pelo menos seis hospitais de Porto Alegre funcionam com restrições no atendimento devido ao aumento da demanda de pacientes com covid-19. Os pronto-atendimentos (PAs) também enfrentam sobrecarga devido ao contágio de coronavírus. Com a pressão nessas duas pontas do sistema público, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) orienta a população a procurar os postos de saúde para atendimento primário.
Diego Fraga, coordenador de Urgência da SMS, explica que cada um dos três braços do sistema é responsável por um tipo de atendimento.
— Pacientes com sintomas leves, que não causam grande comprometimento do corpo, como tosse, resfriado e febre, devem procurar o posto de saúde mais próximo de casa. Cada unidade tem que dar conta de atender a população do local onde ela está inserida. Obviamente que postos maiores terão um tempo de espera maior, mas o serviço básico de atendimento será prestado — afirma.
No posto, o paciente com sintomas leves e suspeita de coronavírus terá encaminhada a solicitação para realização do exame PCR. De acordo com Fraga, há 20 desses postos espalhados por Porto Alegre. Além disso, o paciente será orientado a ficar em isolamento domiciliar
Quando as necessidades de atendimento extrapolam os casos leves, apresentando piora geral do quadro com dor no peito, febre ininterrupta, sensação de sufocamento e dificuldade para respirar, é preciso recorrer aos PAs.
— Pessoas que já estão positivadas e que sentiram o agravamento do seu estado de saúde e aqueles que já partiram com sintomas fortes devem ir ao PA. Lá serão realizados exames de urgência e será definido pelos médicos se o paciente vai para o isolamento domiciliar ou se será encaminhado para a internação hospitalar. O PA atende, estabiliza e encaminha para casa ou hospital. Cada ponto da rede tem sua competência. Se há sobrecarga em um braço, não temos como prestar o tratamento adequado quando for preciso — explica Fraga.
Segundo o coordenador, os PAs não contam com muitos respiradores e a ideia não é fornecer mais, já que isso exigiria uma série de outros profissionais para seguir o tratamento. Atualmente, existem dois respiradores na unidade da Lomba do Pinheiro, três na Bom Jesus, cinco na Cruzeiro e outros cinco na Zona Norte.
No PA Cruzeiro do Sul, no bairro Santa Tereza, cerca de 20 pessoas aguardavam do lado de fora no início da tarde desta segunda-feira (22) para realizar o testes de covid-19. A vendedora Rosangela Tomás, 54 anos, reclama da demora e das condições para realizar o exame PCR:
— Estou desde às 8h30min aqui. Agora são 14h30min e ainda não fiz o teste. Está muito demorada a coleta do exame. Não tenho nenhuma previsão também. O sentimento é triste. Parece um abandono.
Sentado no chão, o estudante Eric Garcia Campos, 18 anos, tinha um relato semelhante:
— São duas horas aqui. Estou com bastante dor no peito, dificuldade para respirar. Fiz um teste semana passada, mas a dor persiste. Então quero refazer o teste. Não estou bem.
Perguntado sobre o caso de pessoas positivadas que sentiram a piora no quadro e que, ao se encaminharam para um PA, não foram atendidas, Fraga diz que é preciso avaliar o motivo do atendimento:
— Mesmo com sintomas leves que não sejam mais leves, sem alteração dos sinais vitais, pode-se voltar para o posto de saúde ou reforçar as medidas de distanciamento. Quadros estáveis podem ter essa orientação. É preciso ficar vigilante aos sintomas, porque a evolução pode ser muito rápida e, nesses casos mais severos, persistir na ida ao PA ou emergência hospitalar.
Casos graves
Após passarem pelo PA ou emergência, o corpo médico avalia se o paciente deve ou não ser direcionado para internação hospitalar. Dependendo do quadro, ele pode ser encaminhado, pela Central de Leitos, para um leito de enfermaria, destinado para quem, por exemplo, precisa de recebimento de oxigênio via cateter nasal. Já os casos mais críticos vão para uma unidade de tratamento intensivo, destinado àqueles que precisam de fornecimento de oxigênio por máscara, por exemplo.
De acordo com Fraga, antes de qualquer outra política é preciso que a população crie consciência da gravidade do cenário vivido em Porto Alegre:
— Reforço a importância do uso da máscara, do respeito ao distanciamento social, da higiene das mãos e da não realização de aglomerações. Isso é o que vai fazer o vírus parar de se reproduzir e se espalhar. A prefeitura tem se esforçado para ampliar o número de leitos na cidade, mas isso tem o seu limite, porque além de estrutura física, é preciso ter médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas e todo um conjunto de profissionais para atuarem. O leito de UTI é muito mais complexo do que uma maca. Além disso, as pessoas precisam entender a gravidade do seu quadro e se direcionar ao polo certo. Posto de saúde para leves e PAs para moderados. Isso ajuda a desafogar também.