O Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs), da Secretaria da Saúde, vai aumentar o número de análises em amostras de pacientes de coronavírus da Serra por causa da P1, variante da covid-19 que circula em Manaus. Os técnicos querem entender se a mutação, detectada em um paciente de Gramado que morreu, representa um caso isolado ou se há transmissão comunitária.
O achado está informado na segunda edição do Boletim Genômico do coronavírus, produzido pelo Cevs e publicado neste sábado (13). A amostra onde a P1 foi encontrada foi coletada de um morador de Gramado, com início dos sintomas no dia 29 de janeiro e que morreu na quarta-feira (10).
O idoso, de 88 anos, não tinha histórico de viagem ou contato direto com pessoas que viajaram para outros Estados. A informação inicial é de que ele estava isolado em um sítio devido à pandemia. De acordo com o secretário da Saúde de Gramado, Jeferson Moschen, o município começou na sexta-feira (12) o processo de rastreamento dos contatos do idoso.
Conforme o Cevs, as mutações são frequentes e não representam, necessariamente, uma alteração na ação do vírus. O objetivo é identificar os tipos em circulação para monitoramento e controle da transmissão, vacinação e tratamento. As mutações podem, por exemplo, alterar as características do vírus e impactar no quadro clínico e na resistência às vacinas.
— Precisamos tentar definir o caminho do vírus, e faremos isso a partir de amostras de pacientes da região da Serra que temos armazenadas. Ainda não sabemos qual a relação entre as variantes P1 e a P2, mais comum no nosso Estado, e se quem contraiu uma delas cria anticorpos também para a outra. Outra dúvida é como irá evoluir o cenário a partir da interação das duas variantes no mesmo ambiente — explica a diretora do Cevs, Cynthia Molina-Bastos.
A P1, variante da covid-19 que circula em Manaus, está associada a uma maior transmissibilidade, ou seja, parece transmitir mais rapidamente o vírus de uma pessoa para outra.
Boletim
Para a elaboração do Boletim Genômico, foram utilizadas informações de amostras coletadas entre 9 de março de 2020 e 2 de fevereiro deste ano em exames RT-PCR de moradores de 53 municípios gaúchos (19 exames não apresentaram registro de local de residência). A maioria dos testes foi realizada pelo Laboratório Central do Estado (Lacen/RS) e pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale. Os dados foram enviados à Rede Genômica da Fiocruz e ao Laboratório Nacional de Computação Científica.
Conforme Cynthia, a Vigilância Genômica em doenças virais respiratórias é um passo adiante para o reconhecimento das linhagens de vírus que estão circulando. Segundo ela, existe um banco de dados internacional chamado GISAID, com sede em Munique, na Alemanha, onde virologistas que trabalham com influenza e coronavírus, por exemplo, inserem informações sobre todas as novas linhagens descobertas.
A equipe técnica do Cevs que trabalha com vigilância genômica pesquisou nesse banco de dados para formatar o boletim.
— Essa atualização tem que ser rápida e muito dinâmica, porque as mutações de um vírus são silenciosas e a mesma pode fazer um vírus ficar mais leve ou acarretar uma doença mais grave — acrescentou a diretora.
A avaliação detalhada da distribuição de diferentes linhagens serve, portanto, para o desenvolvimento de vacinas ou medicamentos, ou ainda para a identificação dos fatores de transmissibilidade ou quadro clínico da doença.