O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciou o fim do megarrodízio de veículos na capital paulista a partir desta segunda-feira (18) e um projeto para antecipar para maio os feriados de Corpus Christi (em junho) e do Dia da Consciência Negra (em novembro).
A ideia seria "parar" a megalópole na tentativa de desacelerar a disseminação desenfreada de coronavírus. Assim, volta nesta segunda a ser aplicado o rodízio comum, em que não circulam 20% dos carros no horário de pico a cada dia da semana, conforme a placa.
— A cidade está chegando ao seu limite de opções — afirmou Covas em entrevista coletiva neste domingo (17).
Segundo o secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, a cidade de São Paulo tem cerca de duas semanas até que ocorra um colapso do sistema hospitalar, hoje com 91% de suas UTIs para covid-19 ocupadas.
— Precisamos decidir se queremos testar nossos limites ou sermos prudentes e nos mantermos firmes em isolamento social pelo tempo necessário para o sistema de saúde não entrar em colapso. Estamos mais próximos disso do que gostaríamos — disse Covas.
O prefeito afirmou ainda que a Capital não pode decretar lockdown isoladamente, o que soou como apelo ao governador João Doria, seu correligionário, para adotar o confinamento mais rígido na região metropolitana. A ação, disse o prefeito, teria de ser coordenada com as cidades limítrofes, que dividem ruas e avenidas com São Paulo, e com o governo estadual, que comanda as polícias e controla o metrô na cidade.
— A prefeitura sozinha não tem todos os principais instrumentos para fechar totalmente a cidade. Não há no mundo caso de autoridade pública sem poder de polícia, sem segurança pública que consiga implantar o lockdown — disse.
Doria tem reiterado que a opção está na mesa, mas que não vê necessidade iminente de usá-la.
O lockdown pressupõe o fim da circulação de pessoas pelas ruas (com exceções apenas para atividades essenciais, como comprar comida ou remédios e executar trabalhos imprescindíveis) e punição para quem violar as regras, geralmente multa ou autuação. Nas últimas duas semanas, capitais e cidades do interior do país decretaram a medida para tentar frear o avanço da doença, que já matou mais de 15 mil brasileiros em dois meses, sendo 5 mil deles apenas na última semana.
A decisão de Covas de cancelar o megarrodízio que tirava das ruas metade da frota e durava todo o período de 24 horas, implementado nesta semana sob controvérsias, foi tomada após a medida não apresentar efeito esperado no índice de isolamento da capital paulista. Antes, ele já havia tentado bloquear ruas e avenidas, também sem sucesso.
— Quando comparamos a média semanal, a gente verifica que permanecemos na mesma linha insuficiente — disse, acrescentando que o isolamento passou de 46% na sexta anterior (8) para 48% nesta última.
O consenso dos governos municipal e estadual é que o isolamento deve estar acima dos 50% para desacelerar a disseminação da doença. O prefeito também disse ter enviado projeto de lei à Câmara Municipal propondo a antecipação dos dois últimos feriados municipais deste ano:
— Vamos manter a celebração destas datas (adiante), mas sem o feriado obrigatório.
O presidente da Câmara, vereador Eduardo Tuma (PSDB), afirmou que o projeto será pautado para votação na segunda-feira. Se aprovada, a antecipação deve ocorrer nesta semana.
Até sexta (15), a cidade de São Paulo tinha, sozinha, 2.792 mortos por covid-19, segundo dados oficiais do Estado. O número equivale a quase um quinto de todos os mortos pela doença no país e se concentra nas periferias, onde o isolamento, custoso, é menor.
Somados os casos suspeitos da doença — que apresentaram quadro clínico compatível, mas ainda sem confirmação por teste —, o número chegaria a 5.909. É um salto de 432,34% entre 9 de abril, quando os dados passaram a ser sistematizados, e sexta.
Estado tem mais mortos que o México
Neste domingo, o total de mortes pela doença no Estado de São Paulo chegou a 4.782, contra 3.709 mortes em 10 de maio. O número de vítimas no Estado superou o total de mortos em todo o México —segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), foram 4.767 mortes naquele país, até o momento.
Também na última semana, foram confirmados no Estado 16.901 novos casos da doença, chegando ao total de 62.345 pessoas diagnosticadas com covid-19 em São Paulo, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Com isso, o número de casos em São Paulo hoje é 38% maior que o total verificado no território mexicano, de 45.032. Em 10 de maio, uma semana atrás, o Estado registrava 45.444 infectados.