Os amigos e familiares estão inconformados com a morte de Gleci Baum Dias, 58 anos. Merendeira em diversas escolas da região de Camaquã, de família tradicional de Cerro Grande do Sul, ela contraiu o coronavírus e morreu em 3 de maio, após 42 dias internada em Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
— Não merecia isso, era uma heroína. Criou eu e minha irmã sozinha, após a morte do meu pai, em 1989 — desabafa o filho primogênito de Gleci, Jáder Baum Dias.
Gleci trabalhou durante três décadas como agente educacional, incluindo o serviço de merendeira. Era conhecida em toda a região de Camaquã, onde está situada Cerro Grande do Sul. Gerações de alunos a viam como a “tia” favorita. O último serviço – que encarava como missão – foi na Escola Estadual de Ensino Médio Mem de Sá, em Cerro Grande do Sul.
Em 17 de dezembro passado ela deu entrada no processo de aposentadoria. Ainda aguardava a pensão, por conta de umas licenças-prêmio atrasadas, quando foi surpreendida por sintomas de gripe, relata o filho Jáder.
Gleci fez o périplo conhecido: procurou atendimento numa Unidade Básica de Saúde, dali foi encaminhada ao Hospital Nossa Senhora Aparecida (em Camaquã) e, com a gravidade do caso diagnosticada, foi removida para o Hospital da Ulbra, em Canoas.
Conforme Jáder, Gleci primeiro esperou 48 horas por UTI em Camaquã. Ele diz que Gleci foi fumante por muito tempo, largou o cigarro há apenas oito meses. Ela teve uma pneumonia em 2011 que pode ter deixado sequelas, admite o filho.
— Mas a radiografia mais recente não mostrava nada. Ela internou dia 19 de março em Camaquã e dia 21 foi removida para Canoas. De lá não saiu mais, ficou 42 dias na UTI — relata Jáder.
O filho de Gleci considera que os últimos dias de vida da mãe foram de martírio. Os rins paralisaram, ela teve de fazer diálise. Aí sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que a deixou sem fala, apenas com pequenos movimentos nos olhos. Os médicos fizeram uma videochamada para os filhos verem a mãe, mas ela não conseguiu interagir.
Gleci ainda contraiu uma infecção pulmonar de origem bacteriana, provavelmente pelo tempo prolongado em que ficou acamada e também como reflexo do intubamento a que foi submetida. Não resistiu e morreu dia 3.
Para lamento dos filhos, não ocorreu velório, e o sepultamento, no cemitério São Silvestre (Cemitério dos Tejadas, em Cerro Grande do Sul), teve de ser acompanhado à distância pelos familiares.
Gleci foi casada com Manoel Domir Teixeira Dias (já falecido). Ela deixa os filhos Jáder e Geane e os netos Larissa, Derick, Cauê e David.