Brincadeiras de duplo sentido e trocadilhos com os colegas eram rotina na vida de João Batista Ramos de Freitas, 63 anos. Morador de Porto Alegre, ele teve a vida profissional dedicada a cuidar de adolescentes em situação de risco. Trabalhava na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) desde 1986, quando a entidade ainda se chamava Febem. Exerceu sempre a função de monitor, a pessoa que tem contato direto com os internos, cargo hoje chamado de agente socioeducadorl. Foi no início de abril que ele manifestou os primeiros sintomas de covid-19. Afastado do trabalho, foi logo internado no Hospital São Lucas da PUCRS, em Porto Alegre. E ali faleceu, após mais de um mês de luta contra a doença.
— Batista era o cara mais brincalhão dentre os colegas. Quando chegava alguém novo ele já punha um apelido. Ele também gostava de trocar as sílabas dos nomes das pessoas, fazendo algum trocadilho engraçado. Deixa muita saudade — define o colega e amigo José Augusto Santana, que trabalha desde os anos 1990 na Fase, também como agente socioeducador.
Nos últimos tempos, Batista tinha sido promovido a chefe de equipe, assim como seu colega Santana. Gostava de churrasquear, contar piadas, “era amigo dos amigos”, descreve Santana.
Batista era fanático por futebol. Até pouco tempo atrás, jogava três vezes por semana com colegas.
— Era muito habilidoso. E, sobretudo, adorava o Grêmio. Tanto que viajava para assistir o time, foi na final da Libertadores na Argentina — recorda Santana.
O colega define Batista, na vida pessoal, como uma “galinha chocadeira”, totalmente voltado para os filhos. Era ligado na família, resume Santana.
Batista gostava de uma churrascada, mas teve de maneirar porque tinha hipertensão e a glicose no sangue estava alta. Manifestou também um leve sobrepeso e, por isso, deixou de lado as partidas de futebol — mas o assunto, jamais.
Foi em 9 de abril que Batista manifestou sintomas de gripe: febre, cansaço, desânimo. Afastou-se do serviço, foi examinado e de imediato surgiu suspeita de coronavírus, que se confirmaria depois. Ele foi então internado no São Lucas, em 14 de abril. E de lá não saiu mais.
Batista foi entubado e submetido a uma série de medicamentos, que surtiram efeito, mas depois contraiu bactérias no próprio hospital e teve de lutar contra diversas infecções simultâneas. Ficou mais de um mês na UTI. Chegou a sair do coma induzido e a ficar sentado na cama, após ser submetido a uma traqueostomia. Isso animou os familiares, mas ele sofreu uma recaída. Em 18 de maio, teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.
Batista deixa um legado de saudades, a esposa, Ângela, e os filhos Taís, João Marcelo e Tales.