A pandemia do coronavírus assustou o brasileiro e mudou seu cotidiano. Medidas recentes adotadas por diferentes governos modificaram a vida nas cidades. Já não se pode circular livremente, e diversos estabelecimentos — públicos e privados — tiveram que fechar suas portas nos últimos dias. Ainda assim, a maioria dos entrevistados pelo Datafolha diz concordar com esse tipo de ação mais severa.
A percepção foi colhida por pesquisa do Datafolha de quarta (18) a sexta (20), feita por telefone devido à pandemia. Foram ouvidas 1.558 pessoas e a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou menos.
As ações oficiais para tentar conter o vírus têm alta aceitação: 92% concordam com a suspensão de aulas, 94% aprovam a proibição de viagens internacionais e 91% são favoráveis à interrupção nos campeonatos de futebol do país, por exemplo.
O fechamento de fronteiras é apoiado por 92%. O encerramento do comércio, em vigor em várias cidades, divide opiniões: 46% são a favor, 33% são contra e 21%, aprovam parcialmente.
A suspensão de celebrações religiosas, ponto contencioso com alguns líderes evangélicos, é aprovada por 82%.
Já a quarentena temporária, ou seja, o isolamento forçado em casa, tem apoio de 73%, ante 24% que a rejeitam e 2% que se dizem indiferentes.
Evitar bares e restaurantes, que ainda estão abertos na maior parte do país, é medida aprovada por 86%. Já o veto a reuniões em casa tem apoio de 76%.
A população tem bastante conhecimento sobre o vírus e teme ser contagiada. Praticamente todos (99%) dizem saber da questão, 72% deles se considerando bem informados. Para 24%, o grau de informação é mediano, e 3% se veem desinformados.
Três quartos dos ouvidos (74%) têm medo de ser infectados pelo vírus que causa a Covid-19. Desses, 36% dizem ter muito medo, e 38%, um pouco. Mulheres são mais preocupadas: 44% têm muito medo, ante 35% dos homens.
Já a chance de infecção é vista como uma possibilidade por 83% da população, 20% considerando ela alta, 33%, média, e 30%, baixa. O maior índice de pessoas que acham que não serão contaminadas é justamente entre o grupo de risco mais evidente, aqueles com mais de 60 anos: 19%.
No momento, 97% dizem estar tomando precauções acerca do risco de ser infectado. A maioria (63%) afirma lavar mão e rosto, 59% buscam algum tipo de isolamento social, 46% adotaram a desinfecção com álcool em gel e 25% estão evitando aglomerações.
Já o impacto da pandemia sobre o cotidiano é visível: 37% pararam de trabalhar, 55% deixaram de ir a aulas, 76% interromperam atividades de lazer e 46% não saem mais às ruas. Além disso, entre os ouvidos, 10% relataram ter alguma dificuldade para comprar alimentos, e 14%, remédios.
O contato físico, central para a transmissão do vírus, cessou segundo o relato dos entrevistados: mais de 75% já não beijam, dão a mão em cumprimentos ou abraçam as pessoas. Também cancelaram viagens 43%.
Entre aqueles que pararam de trabalhar, a maioria era composta de jovens, mais ricos e escolarizados. O percentual daqueles que dizem ter adotado o trabalho em casa é mínimo: 1%.
A pandemia é vista com gravidade. Para 88%, trata-se de um problema sério, ante 11% que a relativizam e 1% que não sabem dizer.
Já a percepção da taxa de letalidade da doença é dividida. Para 45%, muitos morrerão no Brasil; 46% acham que poucos, e 9% não sabem avaliar.
E quem vai morrer?
O Datafolha mostra que, para o brasileiro, serão os mais velhos (85% acham isso), os mais pobres (50%) e homens (40%, ante 13% de mulheres e 37% que creem em isonomia).
Na opinião dos entrevistados, a crise vai durar, em média, 98 dias. Acham que ela será curta, menos de 30 dias, 22%, enquanto outros 22% creem num período de 30 a 60 dias. Já 17% veem um horizonte de 60 a 90 dias, e 8%, de 90 a 120 dias.
No universo entrevistado, 45% têm em casa uma pessoa do grupo de risco etário (60 anos para cima) e 35% possuem plano de saúde — são 84% entre os mais ricos. Há bastante homogeneidade nas opiniões segundo os diversos estratos da pesquisa.
No geral, os entrevistados consideram o Brasil um pouco preparado para a crise (54%), enquanto 34% acham que o país não está pronto. Acham que está muito 10%, índices que se assemelham na avaliação do brasileiro em si, do SUS, da rede privada de saúde e de empresas.