Essa é a parte boa: iniciativas assim já começam a aparecer, mas a tendência é de que, cada vez mais, correntes solidárias pipoquem mundo afora – e aí esse vírus maldito talvez nos traga, pelo menos, alguma lição sobre a importância do outro.
Aqui em Porto Alegre, um jovem analista de sistemas, morador do Menino Deus, enterrou a cabeça no computador por oito horas consecutivas: só saiu de lá quando o site ajudacoronavirus.com.br estava pronto. É uma plataforma que conecta pessoas dos grupos de risco – idosos, diabéticos, hipertensos, asmáticos – a voluntários que moram no mesmo bairro e topam fazer compras para quem precisa ficar em casa.
– Ainda não chegamos a uma situação tão extrema, mas, nas próximas semanas, essas pessoas talvez sintam muito medo de sair na rua – avalia Pedro Viana, 26 anos, que fez "uma maratona para botar o sistema no ar o quanto antes".
O site é bem simples. Quem busca ajuda deve preencher um pequeno formulário: nome, CEP, data de nascimento e o tipo de produto que gostaria de comprar (alimentos, remédios ou itens de limpeza). Já o voluntário, depois de clicar em "quero ajudar", também precisa informar seu CEP, além dos dias da semana e dos turnos em que poderia fazer as compras. Em 24 horas, 70 pessoas já se ofereceram – a maioria, por enquanto, é de Porto Alegre e Pelotas.
– Fui uma das primeiras, é o momento de sermos solidários – acredita Marina Araújo, 24 anos, engenheira de produção que é amiga de Pedro.
– É uma questão de empatia. Enquanto estou bem, alguém pode não estar – diz a advogada Natália Mansur, 25, que soube do site a partir de Marina.
– Tenho familiares no interior e gostaria que fizessem isso por eles – reflete Michel Barreto, 30 anos, funcionário público também amigo de Pedro.
Aos poucos, nas redes sociais e no boca a boca, o Ajuda Coronavírus vai se espalhando. Gente do país inteiro pode se cadastrar – o sistema vai sempre aproximar os que moram próximos. Até ontem à noite, o site ainda não havia recebido pedidos de compras.
– O importante é termos um bom número de voluntários. Cada vez mais pessoas devem ficar isoladas, e a gente precisa se preparar – avalia Pedro, o criador da plataforma.
Com Rossana Ruschel