Embora concordem que pessoas sem sintomas tenham contribuído na disseminação do coronavírus, pesquisadores ainda buscam calcular o papel desses casos na pandemia que consterna o mundo. Por ora, infectologistas apenas asseguram que o potencial de contágio de assintomáticos é inferior ao de pacientes que desenvolvem a doença.
Divulgado na semana passada, um estudo da Universidade de Columbia, em Nova York, apontou que indivíduos sem sinais da covid-19 representam dois terços do contágio. O levantamento, que investigou casos registrados em Wuhan, epicentro da crise na China, confirmou uma suspeita da comunidade médica. Segundo o trabalho, publicado na revista Science, sintomáticos são duas vezes mais contagiosos, mas assintomáticos são seis vezes mais numerosos.
— Pessoas sem sintoma são maioria. Elas podem transmitir a doença, mas, como não têm secreção, não espirram e tossem, a capacidade de transmissão é muito mais baixa. Agora, embora sejam menos potentes como transmissores, o fato de serem uma grande quantidade de pessoas as transformas, pelo volume de assintomáticas — diz o médico paulista Renato Grinbaum, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Em Wuhan, de acordo com a análise feita pelos cientistas de Columbia, 86% dos casos eram assintomáticos. A porcentagem corrobora com os cálculos que têm sido estimados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para a entidade, 90% dos contaminadores não desenvolvem a covid-19 ou apresentam indícios muito leves.
Por isso, esse segmento de infectados coloca-se como um dos principais desafios para a contenção da propagação do vírus. Estimativas publicadas pela revista Nature sugerem que assintomáticos representam 60% de todas as infecções. Um dos riscos, conforme o chefe do setor de infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS, Fabiano Ramos, também está nos quadros leves da doença. Esses podem ser facilmente confundidos com alergias, por exemplo, enquanto a pessoa propaga o coronavírus.
Nem mesmo testes negativos para covid-19 afastam a possibilidade de infecção, alerta Ramos. O exame apenas mostra que, naquele momento, a carga viral não foi detectada no organismo.
— Isso não quer dizer que, dependendo do contato que essa pessoa for ter com outras, o vírus não possa ser passado adiante — reforça o médico.
Outro levantamento, realizado por pesquisadores americanos e chineses, também debruçou-se sobre casos detectados em Wuhan e sugeriu que, em 18 de fevereiro, havia 37,4 mil pessoas carregando o vírus sem o conhecimento de autoridades sanitárias. Estudiosos indicam o número como uma das suspeitas para a propagação rápida da covid-19.
Em uma análise feita nos 3.711 tripulantes e passageiros do cruzeiro Diamond Princess, que teve um surto da doença em águas japonesas, 700 pessoas infectadas nunca apresentaram sintomas. O artigo foi publicado na revista médica Eurosurveillance.
— A maioria das infecções por esse tipo de vírus não dá sintoma nenhum ou sintomas tão leves que a pessoa sequer percebe. Mas uma pessoa sintomática tem capacidade de disseminar o vírus com muito mais velocidade do que uma assintomática — acrescenta Grinbaum.
Pelo mundo, infectologistas têm estimulado iniciativas urgentes para frear a pandemia. Até o momento, especialistas alertam que somente a quarentena tem se mostrado eficiente para contê-la — Wuhan, por exemplo, está em isolamento desde 23 de janeiro.
— A melhor maneira de evitar, nesse momento, é o afastamento social para que esse vírus, de contaminação muito rápida, comece a ter sua circulação reduzida — afirma Ramos.
Maneiras de contágio do coronavírus
- Pelo contato físico, por meio de aperto de mão, abraço e beijo.
- Pelo contato a superfícies contaminadas, como maçaneta, corrimão e celular.
- Pelo ar, por gotículas de saliva, do espirro e da tosse.