O Canadá busca imigrantes para reconstruir a economia — e a boa notícia é que há interesse por trabalhadores brasileiros. A agência governamental Québec Internacional, ligada ao governo da província homônima onde a língua é o francês, recrutará de 28 de fevereiro a 4 de abril apenas brasileiros para vagas de emprego em empresas da região, em processo totalmente online pelo site Québec na Cabeça. As entrevistas acontecerão entre 25 e 29 de abril. Confira, abaixo, relatos de alguns brasileiros que vivem no Canadá:
Formado em Relações Internacionais e com mestrado em agronegócio na UFRGS, Arthur Blois Villela, 31 anos, mudou-se para Ottawa, capital do Canadá, em dezembro de 2019 com a esposa, Jéssica Souto, de mesma idade. Obtiveram a residência permanente por meio do sistema de pontos Express Entry.
— O Canadá tem um sistema de auxílio a imigrante que nunca vi em nenhum outro país. Seis meses antes de chegar, havia um curso preparatório online, com pessoas de verdade, que te ensinam a fazer um currículo canadense, o que esperar do mercado de trabalho, como funciona o sistema de saúde. Nos três primeiros meses, até a gente conseguir emprego, a gente só comeu economias. O aluguel era R$ 6 mil. Mas a Jéssica conseguiu o estágio e melhorou — conta Arthur.
Hoje, ele trabalha no setor de agronegócio da Embaixada do Brasil, enquanto Jéssica é gerente de projetos em uma ONG onde começou como estagiária. O casal deseja ter filhos, e Arthur cita o subsídio do governo para isso. O governo paga 500 dólares canadenses no primeiro ano da criança e 100 dólares anuais até os 15 anos de idade — para cada filho.
— O Canadá é extremamente seguro. Nunca mais tive que olhar por cima do ombro. Se a pessoa quer trabalhar, tem emprego e vai ganhar o suficiente. Mas precisa ter abertura mental para trabalhar em algo e depois conseguir um emprego melhor. Uma questão é o frio: se a pessoa gosta de sol e chimarrão, no inverno isso é impossível. Dá para jogar hóquei no gelo um tempo e depois voltar para casa — diz.
A possibilidade de conciliar melhor trabalho e vida de pessoal, com ganho em qualidade de vida, é citada pela gaúcha e compositora de efeitos visuais Liciani Vargas, 34 anos. Ela se mudou para Montreal com o marido, o editor de efeitos visuais Marcus Vinícius Pereira, 31, após receber uma oferta de emprego - antes, ela vivia em Londres e, previamente, em São Paulo.
— Comparando, o Canadá é muito mais acolhedor para imigrantes. Eu consigo ter amizades canadenses. Mas é difícil o inverno. Montreal é muito rica em cultura, tem muito grafite, muito jazz. A qualidade de vida é muito melhor, eu trabalhava de 12 a 16 horas por dia em São Paulo, aqui eu trabalho oito horas por dia. Mas o inverno é longo e depressivo. No primeiro ano, peguei seis meses de neve e três meses de frio de 0ºC a 10ºC. Foram só três meses de calor — conta.
Ao falar com GZH ao telefone, enquanto caminha pelas ruas de Montreal, ela cita que, para onde olha, vê anúncios de vaga de emprego. E destaca que o salário mínimo, oferecido em geral a pessoas sem qualificação, permite a sobrevivência.
— É uma cidade cara, mas, se você ganha o salário mínimo, você vive bem, com conforto de classe média. E emprego tem. Antes de trabalhar com o emprego atual, meu marido começou como lavador de pratos e ganhava o suficiente para dividir a casa comigo e ter boa qualidade de vida — acrescenta.
Para o engenheiro Fábio Martini, 34 anos, a mudança para Mississauga, cidade próxima a Toronto, foi com a esposa, a professora Vanessa Schoeller, 37 anos, e os dois filhos. Em março de 2017, deram entrada no pedido de imigração pelo sistema de pontuação e apenas duas semanas depois foram aceitos.
Fábio se demitiu da empresa de gás onde trabalhava e realizou, no Canadá, entrevista na mesma firma, onde foi admitido. Com emprego qualificado, a adaptação foi facilitada. Hoje, a família aguarda o processo de cidadania canadense.
— No Brasil, a gente mata um leão por dia. Imigrar é matar dois leões por dia. Além de todo o esforço da vida profissional e pessoal, tem o desafio de ser imigrante, não falar a língua nativa, não ter conhecimento dos direitos e do local. Foi um processo lento de adaptação, mas aprendemos muito. A gente não vive com medo, não fica olhando para trás, cuidando o semáforo. Não existe medo de assalto ou de criminalidade — diz.
Vanessa, que trabalhava como professora de português e literatura, precisou realizar um curso de qualificação no Canadá para atuar como pedagoga em creche. O filho mais novo, Bruno, tinha dois anos de idade à época e se adaptou mais rapidamente. Para Ana Clara, então com 14 anos, o menor conhecimento em inglês foi um obstáculo inicial. Hoje, ela tem 17 anos e, plenamente adaptada, estuda Enfermagem.
— Para ela foi mais difícil. Mas, como as escolas recebem muito imigrante, estão preparadas e oferecem no ano letivo normal um curso de inglês para estrangeiros. A Ana Clara teve alguns desafios, estava na adolescência, mas conseguiu se adaptar com o tempo. Olhando para trás, ela teve muito sucesso na adaptação escolar e aprendeu a língua muito rapidamente — diz Fábio.
Passo atrás na carreira
A paranaense Erika Bially, 55, imigrou para o Canadá em 2006 com o marido, um filho de 12 anos e dois gêmeos de cinco anos. Em Curitiba, ela atuava como diretora-gerencial de uma empresa de TI. Quando chegou a Québec, deu dois passos para trás na carreira e foi contratada como especialista. Em três anos, havia sido promovida e já era gerente. Hoje, é vice-presidente da CGI, multinacional na área de tecnologia da informação.
A executiva afirma que a adaptação das crianças é mais fácil do que a de adultos. Na chegada a Québec, ela falava francês, o marido um pouco e os filhos não sabiam nada. Nos três primeiros meses, os meninos aprenderam a se comunicar e, em cinco meses, falavam o idioma.
— Não é fácil no primeiro dia, eles não entendem nada e se frustram, mas depois melhora. Tem que mostrar que é legal ver novas culturas, estar em novo país, ver neve, ter o espírito aberto. Meu filho mais velho hoje tem 27 anos, estudou informática, é casado e tem casa própria. Meus gêmeos têm 20 anos e estudam Administração. A vida deles é Québec, minha vida é Québec — acrescenta.