Em 2004, praticamente não havia brasileiros querendo conhecer o Alentejo, em Portugal. No ano passado, 70 mil turistas atravessaram o Atlântico para conhecer a região. Como ela se tornou um destino preferido, a ponto de estarmos atrás apenas dos espanhóis em número de visitantes?
Antes de dar uma explicação, em um evento no restaurante Armazém do Bacalhau, em Porto Alegre, onde a agência de turismo Abreu apresentou seus novos pacotes para a terrinha, o português Vítor Silva, presidente da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo, fez um chiste sobre a personalidade de seus compatriotas.
— Nós somos pessimistas. Então, quando as coisas começam a dar certo, desconfiamos. Agora ganhamos até campeonato de futebol! — disse, em alusão ao recente título da seleção de Portugal na Liga das Nações.
Talvez o bom humor de Vítor seja um reflexo daquilo que, segundo ele, o Alentejo tem a oferecer. Territorialmente, a região corresponde a um terço do país. Mas a população é de apenas 500 mil pessoas, 5% dos 10 milhões de portugueses. Ou seja: há espaço de sobra para receber bem os viajantes.
— Somos uma região pobre, mas com muita qualidade de vida — disse Vítor. — Sem indústria, não temos poluição, não temos engarrafamentos, não temos estresse. E não estamos longe de Lisboa: Évora, a principal cidade, fica a 135 quilômetros da capital. Pela autoestrada, sem fazer loucuras, chega-se em uma hora e 15 minutos. O destino agrada, aí, a propaganda boca a boca faz o negócio.
No Alentejo, vive-se da agricultura, da produção de cortiça, do vinho e do azeite de oliva. E vive-se da História. Évora, com 50 mil habitantes, preserva em seu centro um templo romano erguido há mais de 2 mil anos, um patrimônio da humanidade, segundo a Unesco – assim como a Fortaleza de Elvas. Em Marvão, na fronteira com a Espanha, destaca-se o castelo que se funde à paisagem. Vila Viçosa é a terra dos reis: uma das atrações é o Paço Ducal da Casa de Bragança. Mértola, com pouco mais de mil moradores, dispõe de 12 museus.
— Porque por ali passaram todos os povos — justifica Vítor. – Cristãos, judeus e muçulmanos, romanos, árabes e espanhóis... Há muita história a contar.
A rede hoteleira também capitaliza o passado arquitetônico. O Convento do Espinheiro, em Évora, transformou um mosteiro do século 15 no primeiro hotel cinco estrelas do Alentejo. A pousada Flor da Rosa, na vila do Crato, ocupa uma fortificação medieval.
Há ainda as praias, marcadas pelas falésias, o que as tornam bastante isoladas, um chamariz para celebridades – Madonna, que mora em Portugal, não comprou uma quinta no Alentejo, como chegou a ser dito recentemente (era uma mentira de 1º de abril), mas Harrison Ford já se hospedou no luxuoso Sublime Comporta, em Comporta.
Se o mar não é sua praia, que tal olhar para o céu? A região é conhecida como um dos melhores lugares para a prática de stargazing (a observação de estrelas) e oferece passeios de balão.
— Pode-se fazer tudo no Alentejo — resume Vítor Silva. — Mas eu gosto de fazer nada.
Não por acaso, o mote da campanha turística é “Desligue”.