Os europeus do norte adoram Maiorca, que faz parte do arquipélago das Baleares, situada a 200 quilômetros da costa espanhola. Destino fácil de fim de semana para britânicos, alemães e escandinavos em busca de sol, a ilha mediterrânea e sua capital, Palma, muitas vezes são desprezadas como destino de pacotes turísticos baratos para baladeiros. Em julho e agosto, no auge do verão, isso é verdade, mas, durante o resto do ano, a coisa é bem mais tranquila, e o mallorquí, dialeto local do catalão, chega até a predominar. Vale muito explorar as ruazinhas de pedra estreitas do centro medieval de Palma, como também um passeio ao interior para conferir os olivais, as vilas nas montanhas e, de quebra, descobrir um lado novo e surpreendente dessa ilha ensolarada.
Sexta, 15h
Caminhada à beira-mar
A vista do topo do Castell de Bellver, castelo do século XIV que fica a pouco mais de 1,5 quilômetro do centro, abrange a cidade inteira, desde o porto alinhado por palmeiras até os pináculos distantes da famosa catedral. Vale fazer o mesmo passeio a pé, começando pelo cais, um estacionamento aquático de ostentação, onde os iates ficam ancorados ao lado de superiates, por sua vez ancorados ao lado de megaiates. Continue pela orla ensolarada por mais 1,5 quilômetro, até chegar à Catedral de Mallorca, um templo gótico conhecido simplesmente como La Seu. A melhor maneira de apreciar esse monumento no topo do despenhadeiro é de baixo, no Parc de la Mar, que tem um belo chafariz e uma piscina enorme refletindo a fachada dourada de arenito.
18h
Alternativas de arte
A cidade inteira parece se reunir na caminhada pela arborizada Passeig des Born algumas horas antes do jantar; se quiser escapar da muvuca, melhor explorar as travessinhas estreitas, cheias de lojinhas e galerias de arte. A filial local da berlinense Kewenig exibe trabalhos de revelações artísticas em um oratório do século XIII; já a Gerhardt Braun abriga instalações contemporâneas estimulantes em uma mansão maneirista do século XVII. Seu negócio é cerâmica? Você encontra muitas peças coloridas, como travessas pintadas a mão e tigelas, na Terra Cuita, loja de um artesão situada em Pòrtol. E não perca a Galería Pelaires, que investe na arte internacional e tem um programa que, no ano passado, incluiu uma mostra espetacular de Prudencio Irazábal.
20h30
Tapa é top
Dada a paixão britânica por Palma, não é surpresa constatar que uma das grandes novidades no cenário gastronômico local tem o dedo de um restaurateur londrino. El Camino é um bar de tapas estiloso, inaugurado no ano passado em um espaço lindíssimo: um salão estreito com pisos de mosaicos, teto abobadado e um balcão de mármore longo com banquetas de couro. Quase sempre está cheio, o que deixa apenas como opção as mesas da parte de trás, onde drinques e comidinhas são servidos, uma alternativa para lá de interessante. Acomode-se em meio à multidão simpática de expatriados bem-vestidos e peça delícias como os pimentões padrón, a lula frita no alho, os croquetes crocantes de jamón e, se for com jeito, até uma omelete recheada com linguiça apimentada. Para beber, experimente um copo do tinto local, da Bodega Son Vell, vinícola pequenina que produz vinhos com uvas locais raras, como callet e fogoneu mallorquí. O jantar para dois sai por cerca de 70 euros (ou US$ 78).
23h
De gole em gole
Encerre a noite como os espanhóis, com uma gim-tônica, considerada extraoficialmente a bebida nacional. No Clandestino Cocktail Club, casa aconchegante com velas sobre as mesas, jazz nos alto-falantes e uma seleção de bebidas de primeira atrás do balcão, você pode desfrutar de um Brockmans, por exemplo, sempre uma grande pedida. Ou se juntar aos fãs de cerveja artesanal para um copo ou dois no Lórien, um pub despojado e simpático que serve opções como a IPA da Cerveses La Pirata, da Catalunha, e a brown ale da Sa Cerviseria.
Sábado, 9h
Opções de desayuno
Como você prefere o café da manhã: descolado ou clássico? Se preferir o primeiro, pegue uma das mesas externas do café especializado pioneiro da cidade, La Molienda, situado em uma esquina tranquila do bairro de Sant Jaume. A pedida ali é um cappuccino aveludado, com grãos da Right Side Coffee Roasters, de Barcelona, um copo de suco de laranja feito na hora e o delicioso pa amb oli de queso – torrada temperada com um fio de azeite e servida com queijo de Minorca, maçãs fatiadas e azeitonas (7,50 euros). O serviço é simpático, mas confuso, por isso não tenha pressa. Ou prefira a rota clássica, no endereço original da Ca'n Joan de s'Aigo, padaria que data do século XVIII. Em meio a candelabros e uma grandeza já meio desbotada, peça uma ensaïmada (1,40 euro), o pãozinho tradicional coberto de açúcar, na forma de um caracol, e uma horchata de amêndoas cremosa.
10h30
Mergulho na natureza
Maiorca é muito mais que só a capital; por isso, vale a pena cair na estrada para ter uma ideia mais abrangente do que é a ilha, saindo de Palma rumo ao norte, na estrada sinuosa que corta a Serra de Tramuntana (considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco), situada na costa noroeste. Um pouquinho antes de chegar ao belo vilarejo de Valldemossa, pare para dar uma espiada na Son Moragues, uma finca (residência rural tradicional) fundada no século XIV, onde já morou o arquiduque austríaco Ludwig Salvator. Hoje em dia, a propriedade se dedica à conservação das terras e à produção de azeite orgânico fino a partir de variedades nativas. Organize uma degustação e um passeio particulares para ter a chance de caminhar ao lado das ovelhas e se deleitar com a vista magnífica das montanhas (só com reserva; a partir de 75 euros por pessoa).
13h
Passeio deslumbrante
Continue seguindo para o norte na rodovia sinuosa que corta as montanhas, acompanhando o litoral, onde cada curva revela um cenário magnífico. Faça uma parada na Son Marroig, outra antiga residência do arquiduque, para tirar fotos do litoral dramático. De lá, continue rumo à aldeia de Deià, a caminho de Sóller. Aninhada em um vale interiorano, a cidade ganha vida aos sábados, quando as ruazinhas ficam lotadas de barracas vendendo de tudo, desde sacolas de palha até sobrassada. Compre um saquinho de bunyols quentinhos, pequenos sonhos cobertos de açúcar, e dê uma volta pela Plaza de la Constitución, por onde várias vezes ao dia passa o trenzinho antigo, de painéis de madeira, que segue até o porto, a quase quatro quilômetros dali.
17h
Em casa com o artista
No caminho de volta para Palma, pare na periferia para conhecer a Fundació Miró Mallorca, um museu que funciona em uma casa linda, de encosta, onde Joan Miró viveu e trabalhou durante as últimas décadas de vida. Comece a visita dentro do estúdio projetado pelo arquiteto Josep Lluís Sert e a seguir suba para o casarão do século XVIII, cujas paredes estão tomadas pelos esboços a carvão do mestre. Termine a visita no salão de exposição, onde as galerias, bem como o jardim adjacente, exibem esboços, esculturas e pinturas em larga escala. Ingresso a 7,50 euros.
21h
Petiscos baleáricos
O Toque de Queda, restaurante, bar & delicatessen despojado que fica em uma ruazinha escondida do centro velho, onde os clientes se aninham em nichos aconchegantes ou bebericam às longas mesas comunais, parece irradiar calor. Antiga padaria com um forno centenário, essa casa badalada hoje é comandada por um casal de jovens italianos que serve tapas simples baseados na filosofia locávora. Comece com uma porção de pan de cristal con tomate (5 euros) e uma tábua de frios de diferentes regiões mediterrâneas. Se preferir especialidades pouco conhecidas, vá de baleárica, com sobrassada apimentada, camaiot e linguiça figatella, acompanhadas de queijos da ilha vizinha de Minorca (meia porção, 14 euros).
Domingo, 10h
Delícia praiana
Vale a pena chegar cedinho ao Parque Natural Mondragó, por exemplo, que fica a uma hora de Palma, no litoral sudeste, para explorar as enseadas protegidas e as dunas cercadas por pinherais.
Se existe alguma coisa parecida com uma praia maiorquina secreta, não espere dicas do pessoal local – mas achar uma meia-lua de areia branca ridiculamente linda, aninhada entre penhascos dramáticos e de frente para o mar azul-turquesa, é fácil. E levar a melhor sobre o povão é só uma questão de planejamento. Vale a pena chegar cedinho ao Parque Natural Mondragó, por exemplo, que fica a uma hora de Palma, no litoral sudeste, para explorar as enseadas protegidas e as dunas cercadas por pinherais. Ou avançar ainda mais e chegar a Caló des Moro para fazer a trilha inóspita que dá em uma angra encantadora, banhada por água cristalina.
13h
Hora do vermute
Quando a praia começar a ficar muito cheia, volte para Palma – mais especificamente para uma vielinha sombreada, para uma refeição agradável no La Rosa Vermutería. Inaugurado em 2015, esse restaurante animado revive a tradição espanhola do vermute do meio-dia, que por acaso é o aperitivo perfeito enquanto se espera (inevitavelmente) uma mesa. Sem saber como escolher entre as mais de vinte opções? Experimente o blend da casa, 5 Pétalos, harmonizado com uma porção de azeitonas marinadas. Depois de acomodado a uma das mesas do salão longo e estreito, estude o cardápio de tapas e conservas. Destaque para o croquetón de txuleton (croquete de carne crocante), mexilhões em conserva e polvo à galega com páprica. O almoço para dois sai por cerca de 50 euros.
Se você for
1. Castell de Bellver, Carrer Camilo José Cela, Palma, castelldebellver.palma.cat; Catedral de Maiorca, Plaça de la Seu, Palma, catedraldemallorca.org.
2. Kewenig, Carrer de Sant Gaietà, 4C, Palma, kewenig.com; Galeria Gerhardt Braun, Carrer deSant Feliu, 10, Palma, gb-gallery.es; Terra Cuita, Carrer de la Concepció, 5, Palma, ceramicaterracuita.com; Galería Pelaires, Carrer de Can Verí, 3, Palma, pelaires.com.
3. El Camino, Carrer de Can Brondo, 4, Palma; elcaminopalma.es.
4. Clandestino Cocktail Club, Carrer de Sant Jaume, 12, Palma, on Facebook; Lórien, Carrer de les Caputxines, 5A, Palma, sauep.com.
5. La Molienda, Carrer del Bisbe Campins, 11, Palma, lamolienda.es; Ca'n Joan de s'Aigo, CalleCan Sanç, 10, Palma, canjoandesaigo.com.
6. Son Moragues, Avenida Lluis Salvador Cilimingras, Valdemossa; sonmoragues.com.
7. Sóller market, Sóller.
8. Fundació Miró Mallorca, Carrer de Saridakis, 29, Palma; miromallorca.com.
9. Toque de Queda, Carrer de Can Cavalleria, 15B, Palma; toquedequeda.es.
10. Parque Natural Mondragó. Caló des Moro.
11. La Rosa Vermutería, Carrer de la Rosa, 5, Palma; larosavermuteria.com.
Onde ficar
Inaugurado em janeiro, o Protur Naisa Palma, com 99 quartos, está localizado em uma rua tranquila pertinho do centro velho, com um lounge e restaurante convidativos no saguão e spa e piscina na cobertura, com espreguiçadeiras e cadeiras. Diárias a partir de 160 euros (ou US$ 178).
Em um dos bulevares principais do centro de Palma, o Nakar foi inaugurado em 2016, com uma decoração interior que incorpora só materiais locais, como a pedra típica da ilha. Além de 57 quartos em tons neutros, o hotel oferece restaurante, spa, piscina interna aquecida e um terraço de cobertura com piscina infinita e vista para o centro velho. Diárias a partir de 186 euros (ou US$ 208).
A legislação atual proíbe aluguéis de curta temporada no centro de Palma, mas fora da cidade o que não falta são imóveis com locação para temporada. Em Sóller, os chalés tradicionais estão listados no Airbnb por uma diária inferior a 90 euros.
Por Ingrid K. Williams