Por David Laskin
Apesar de toda a pompa e circunstância imperial e papal, no fundo Roma é uma criança bonita: barulhenta, sonhadora, misteriosa, um tanto mimada, gerando alternadamente exasperação e encantamento. E se exibe mais bem-comportada durante "le feste", o período das festas natalinas, quando as multidões desaparecem, a decoração é espetacular e os raios de sol se intensificam para compensar as poucas horas de luz. A Roma de hoje é um paradoxo: enquanto os bairros históricos caem na homogeneidade do turismo de massa, os distritos periféricos estão se tornando mais vibrantes e variados. Assim, se quiser aproveitar uma temporada autêntica na cidade, fuja do centro storico e vá provar as pizzas do mercado Testaccio, fuçar nas quinquilharias descoladas do mercado de pulgas Porta Portese, esbaldar-se nas casas noturnas de San Lorenzo e Tiburtina, e nas gelaterias como Neve di Latte e La Mucca Bianca. A tranquilidade e a calmaria nunca foram pontos fortes da metrópole, mas, com um tantinho de planejamento (e flexibilidade), o turista vai perceber que a Cidade Eterna é bem mais fascinante no início do inverno.
SEXTA
16h — Uma recepção vínica
O Ai Tre Scalini de Monti (não confunda com o restaurante de mesmo nome na Piazza Navona) é um wine bar informal e de tradição centenária que reúne, na mesma medida, o pessoal local, expatriados e visitantes. Reserve uma mesa on-line ou encare a muvuca do balcão para pegar um chopp (a Bav bitter ou a Birra del Borgo saem por 6 euros cada, ou cerca de US$ 7) e provar as azeitonas verdes calabresas ou o coppiette di maiale (tirinhas de carne de porco apimentadas).
18h — Vésperas cheias de graça
Uma caminhada de quinze minutos contornando a multidão que se movimenta permanentemente ao redor do Coliseu o levará à Basílica Agostiniana de Santi Quattro Coronati, um dos tesouros escondidos romanos. E você não precisa ser religioso para apreciar a delicadeza das vésperas cantadas ali todo dia, às seis da tarde (elas também podem amenizar a confusão do fuso horário). As vozes das freiras combinam perfeitamente com a geometria serena do piso medieval e das colunas antigas que ladeiam a nave. Se puder, dê uma olhada na clausura do século 13 que, segundo a escritora Eleanor Clark, é um lugar de "alegria extraordinária".
20h30 — Paraíso gourmet
No coração de Roma, a apenas algumas quadras do Panteão, o La Ciambella, recém-inaugurado, serve pratos deliciosos em um salão tranquilo, onde você tem certeza de sempre encontrar uma mesa. Ali a chef Francesca Ciucci usa ingredientes locais, como o alho negro fermentado, a farinha de grão-de-bico e a cebola roxa Tropea, para compor pratos de uma sutileza excepcional. O purê de feijão-fava com chicória compõe uma sopa aveludada (7 euros), e o cordeiro assado com creme defumado de pimentão vermelho (18 euros) é amanteigado e ligeiramente picante. Na carta de vinhos, Nero d'Avola de pequenos produtores como a siciliana Azienda Gulfi. Reserve um espacinho para a torta de limão com merengue, levíssima.
23h — Central baladeira
Caminhe – ou saia cambaleando – do La Ciambella para se aventurar no labirinto renascentista e barroco das imediações e chegar ao venerável Bar del Fico, combinação de bistrô e bar onde você pode provar um Negroni, o mescal com infusão de gengibre e pimenta (12 euros), ou uma dose de conhaque com os jovens que se reúnem ali para bebericar e dançar a noite toda. Há DJs nas picapes até as duas da manhã.
SÁBADO
9h — Clássicos sem muvuca
Em matéria de arte antiga e arquitetura de classe internacional, o Museu Romano Nacional continua sendo o segredo local mais bem guardado. As duas instalações que ladeiam a Estação Termini – o Palazzo Massimo e as Termas de Diocleciano – se complementam perfeitamente. A coleção da primeira, que inclui bronzes clássicos, mosaicos e murais, revela a variedade e a categoria do talento romano, enquanto o complexo que compõe o segundo, que já foi o maior do império, vai cercá-lo com suas ruínas imponentes, chafarizes sussurrantes e um claustro imenso, atribuído a Michelangelo.
11h30 — Lápides e uma bela vista
Uma viagem rápida de ônibus ou de táxi a partir dos museus vai levá-lo a um dos tesouros de que poucos romanos têm conhecimento, quanto mais visitantes: o Mausoléu de Santa Costanza. Encravado na encosta verdejante que se estende além da movimentada Via Nomentana, a tumba circular da filha do primeiro imperador cristão, em formato de templo, preserva um mosaico de exuberância e delicadeza ímpares. Reserve alguns minutos, antes do fechamento do meio-dia, para a igreja de Sant'Agnese Fuori le Mura, do século VII, no mesmo complexo. A mártir adolescente venerada ali preside a abside em um mosaico austero, em estilo bizantino, com figuras alongadas sobrepostas a um pano de fundo dourado.
12h30 — Hora do almoço
O Gustando e Degustando, a dez minutos a pé de Santa Costanza, é aquele sujinho com que você sempre sonhou: um punhado de mesas, o cardápio na lousa com os pratos do dia, sucessos antigos nos alto-falantes e uma comida local simples e fresca. As tirinhas de carne na rúcula (8 euros) compõem um prato leve e saboroso; o polvo ao pesto com batatas (10 euros) oferece um equilíbrio agradável de suculência e sabor. Com uma carta extensa de cervejas, vinhos e destilados, a casa também é uma ótima opção para o aperitivo da tarde.
15h — Hora das compras
Duas ruas renascentistas encantadoras – a Via del Pellegrino e a Via dei Banchi Vecchi – abrigam algumas das lojas mais tentadoras da cidade. A partir do Campo de' Fiori, siga pela primeira, rumo oeste, parando na Solodue, se quiser sapatos, blusas e acessórios; na Retropose, para ver bolsas imensas e supercoloridas; na Sciam, para apreciar a arte em vidro; na Libreria del Viaggiatore, se quiser livros de viagem; e na Libreria il Minotauro, lotada de brinquedos e livros infantis. Recupere as energias com um bom café e uma guloseima no Monteforte e siga em frente, passando pelos palacetes ancestrais, para chegar a Banchivecchi Pellami, no número 40 da Via dei Banchi Vecchi, uma loja tradicional e familiar que oferece carteiras e cintos clássicos italianos.
18h — Deleite da criança interior
Ninguém ama mais um presépio do que os italianos, e no Museu Internacional você pode se deleitar com os exemplos mais finos de todos os cantos do planeta e de todas as épocas dessa arte popular. Aberto apenas às quartas e sábados, das 5h às 19h30 (com horário estendido do Natal ao Dia de Reis, em seis de janeiro), ele fica no porão da capela de SS. Quirico e Giulitta, nos limites do Monti.
21h — Cru e cozido
Lotado de romanos bem-nascidos todas as noites, o Ristorante Ottavio vale a corrida de táxi até os confins do bairro de Esquiline. Os frutos do mar, fresquíssimos, são servidos crus e cozidos com uma elegância discreta e traquejo experiente. Permita que o garçom explique as especialidades da casa e os pratos do dia, que podem incluir camarões com cebola Trochea adocicada (38,50 euros), linguine com polvo e/ou uma travessa de carne de lagosta com batatas e tomates (45 euros).
23h — Bistrô de bairro
O ambiente hipster dos bares do Brooklyn se funde ao de um pub londrino no Sazerac, uma casa pequena de bairro com uma ótima trilha sonora, que vai do rock ao reggae, e que fica pertinho do Ottavio. Escolha entre o My Sazerac (conhaque, absinto e bitter Morlacco, 7 euros), o Fog Cutter (rum, conhaque, gim e limão, 7 euros) ou uma cerveja artesanal e sente-se a uma das mesinhas para ver e ser visto. Se quiser uma balada mais forte no fim de noite, vá para o Circolo degli Illuminati, em Ostiense, ou o Live Alcazar, em Trastevere.
DOMINGO
10h30 — Subindo a colina
O Janículo, segunda colina de Roma e uma das mais belas, tem uma trilha gloriosa para pedestres que passa por sicômoros, chafarizes, monumentos, estátuas e palacetes majestosos (muitos atualmente transformados em embaixadas e instituições acadêmicas). Comece a explorá-la perto da Cidade do Vaticano e vá subindo rumo ao Fontanone – "A Grande Fonte", literalmente –, um chafariz imenso do século XVII que Paolo Sorrentino usou na abertura de seu filme "A Grande Beleza".
13h — Almoço em família
É bem provável que algumas das pessoas com quem você cruzou na Passeggiata acabem almoçando ao seu lado no Antico Arco, um restaurante sofisticado, estiloso e deliciosamente aventuresco no topo da colina, ao lado da Porta San Pancrazio. As vieiras fritas com pimentão vermelho e manjericão (22 euros) são o destaque das entradas, e o spaghetti com pecorino e flores de abóbora (16 euros), uma variação bem-vinda do onipresente cacio e pepe.
14h30 — Ciao, gelato
Mesmo no inverno, uma visita a Roma não fica completa sem uma casquinha ou copinho de gelato. Os romanos podem até sair no braço para defender sua gelateria favorita, mas nenhum lugar tem sabores tão originais quanto a franquia Fatamorgana: wasabi com chocolate, leite de amêndoas, menta e ginseng são só alguns. A sorte é que a filial de Trastevere é pertinho do Janículo – e na descida.
Acomodações
- Apartamento para alugar é o que não falta nas regiões do Borgo, da Escadaria Espanhola, do Campo de' Fiori e do Coliseu. A diária média para as opções de um quarto fica entre US$ 80-US$ 120.
- O Hotel Locarno, com quartos espaçosos e pé-direito alto, um bar fabuloso e um pátio adorável, é um oásis de classe e tranquilidade a um pulinho da Piazza del Popolo. Diária do quarto duplo a partir de US$ 156.
- Do outro lado da praça, em uma ruazinha pitoresca, o Margutta 19 oferece 16 quartos e suítes modernos e descolados à volta de uma encosta aterraçada com muito verde. Diária do quarto duplo, com café da manhã incluído, a partir de US$ 450.
- O Hotel Raffaello, entre a estação Termini e o bairro Monti, é tranquilo, conveniente e acessível, com quartos ricamente decorados, alguns deles com varanda. Diárias a partir de US$ 111.