Você se vê boiando em um mar azul translúcido? Ou se perdendo em ruelas centenárias de arquitetura única? Prefere colocar aqueles tênis ralados para desbravar falésias? Ou vestir sua melhor roupa para cair na noite?
Pois tenho uma boa notícia para gente indecisa como eu: se seu destino for as Ilhas Maltesas, não é preciso abdicar de nada disso. Cultura-aventura-história-agito-descanso-religiosidade-e-paisagens-de-tirar-o-fôlego é o nome do meio desse arquipélogo que parece uma migalha no mapa-múndi – tem pouco mais da metade do tamanho de Porto Alegre.
O país (é um dos menores do mundo) fica no Mediterrâneo, 90 quilômetros abaixo da Sicília. A moeda é o euro, e a língua oficial, o maltês, uma mistura bizarra de árabe, italiano e inglês. Mas calma: como até algumas décadas atrás era colônia da Inglaterra, o inglês é o segundo idioma – há várias escolas da língua, que atraem estudantes do mundo inteiro.
Depois de passar o mês de maio em Malta, fiz uma relação com as atrações mais legais desse destino. Divirta-se!
A capital fortificada
Valeta é o lugar ideal para você se perder. Primeiro, porque a capital de Malta é tão pequena que é difícil realmente se perder – tem menos de um quilômetro quadrado. E as ruelas apertadinhas emolduradas por prédios de balcões coloridos (fiquei obcecada por eles) sempre o conduzem a alguma surpresa.
Nesse tópico, você não vai encontrar imparcialidade nenhuma, porque VALETA É DEMAIS. Trata-se de uma capital fortificada de quase 500 anos. O quão legal é isso? O coração administrativo e comercial do está delimitado por portos e muralhas, erguidos por uma ordem de cavaleiros fundada nas Cruzadas.
Para entrar em Valeta, você passa pelos portões, em uma área que ganhou uma cara nova recentemente, com uma revitalização moderna e simples. O jantar mais legal que tive em Malta foi num restaurante que ficava entre as paredes da muralha, acima da vala de proteção da entrada (o nome é Rampila Restaurant).
Não deixe de conhecer os jardins Upper Barrakka, que têm um cheirinho de flores e uma vista linda, emoldurada por um monumento de arcos. Do ponto de vista cultural – Valeta é, neste ano, a Capital Europeia da Cultura –, a principal atração é a St. John’s Co-Cathedral, que foi transformada em museu e tem até pinturas de Michelangelo Merisi, mais conhecido como Caravaggio.
Blue (e bota blue nisso) Lagoon
Também é inadmissível ir a Malta e não conhecer a Blue Lagoon. Aquela praia tem a água mais azul-clara e translúcida que já vi na vida. Fica na ilha inabitada de Comino – é preciso pegar um barco para chegar lá, e só esse passeio já valeria a pena. Como você vai ver que é bem comum no país, não se trata de uma praia de areia. As pessoas se acomodam nas rochas como dá – e lota, viu?
Também não tem quase nada de infraestrutura por lá. Na primavera, quando eu fui, havia uns food trucks e só. E a água ainda estava bem gelada. Mas eu repito: é inadmissível não ir à Blue Lagoon. É de um “blue” tão claro que os olhos dóem só de lembrar.
Para viver “Game of Thrones”
Peço desculpas antecipadas pelo clichê, mas entrar em Mdina é voltar no tempo. Tanto é que a pequena cidade medieval fortificada foi uma das locações da série Game of Thrones em Malta.
É habitada atualmente por pouco mais de 200 pessoas, mas é incrível imaginar quantos povos diferentes já viveram naquelas ruelas superapertadas – algumas quase claustrofóbicas. Mdina foi fundada pelos fenícios bons séculos antes de Cristo e foi ocupada também pelos romanos e pelos árabes. É dito que até São Paulo ficou lá depois que seu navio afundou perto de Malta. Depois de um terremoto, em 1693, os cavaleiros da Ordem de São João reconstruíram prédios, como a catedral, que ganharam características barrocas.
Você conhece toda a cidade a pé, porque é pequena e apenas gente autorizada pode entrar de carro. Se você for a Mdina, não custa caminhar um pouco na cidade de Rabat (fora das muralhas) e talvez conhecer as Catacumbas de St. Paul, cemitério subterrâneo usado entre os anos 700 e 800. São bem pequenininhas, mas não é cobrada entrada – a contribuição é espontânea.
Goze muito de Gozo
Gozo é uma versão de Malta (ainda) mais pequena e preservada em suas origens. É necessário pegar o ferry para chegar nessa ilha, que também tem a sua versão de Mdina, chamada Cittadella. Fica junto ao centro, Victoria, em cima de uma colina. De dentro desta minúscula cidade-castelo, você vai ter uma vista 360° de Gozo.
Se você tiver só um dia por lá, vai ter de escolher suas prioridades. O que mais amei na ilha foi um lugar relativamente desconhecido chamado Wied il-Ghasri, onde o mar forma um rio em “S” avançando entre as rochas. Não tem acesso fácil. Fui até a praia de Marsalforn e, depois, fiz uma boa caminhada pela costa até chegar a esse lugar, passando por lindas salinas de mais de 300 anos. Guiada pelo Google Maps, continuei a expedição a pé até a Basílica de Ta’Pinu. Foi muito cansativo e igualmente lindo.
Do outro lado de Gozo, o local onde ficava a Azure Window ainda vale uma visita (mesmo depois de a estrutura colapsar e afundar). Isso porque a chamada Dwejra Bay é composta por lindas falésias junto ao mar. É possível fazer um passeio de barquinho dentro das grutas.
Também vale conhecer...
St. Julians
Em Malta, reina a calmaria. Menos em Paceville. Paceville é um negócio bem louco. Com muitos bares, boates e casas noturnas, um em cima do outro, o bairro ferve à noite. Boa parte deles fica numa ladeira, chamada Triq San Gorg. Localizado na cidade de St. Julians, conta com alguns cassinos e uma praia de areia artificial – em comparação com as outras, não é grandes coisas, mas curti demais para nadar. A um quilômetro de Paceville fica um dos meus lugares favoritos de Malta: a Spinola Bay. É uma baíazinha super-romântica cheia de barcos de pescadores e restaurantes aconchegantes.
Popeye Village
Achei o parque temático meio bobinho, mas a vista de frente para ele é bem legal. Parece que as casas coloridas foram talhadas na rocha, acima de um mar lindão (só para variar, né?). Na verdade, é uma vila cenográfica construída para a filmagem do filme Popeye (1980), protagonizado por Robin Williams. Acesse o site do parque aqui.
Blue Grotto
Essa formação rochosa fica na costa sul de Malta. Vale muito o passeio, ainda mais se você optar por ir em um dos barquinhos que entram na gruta. Dependendo da luz solar, parece que a água brilha, tipo um azul néon. Caminhe sobre as falésias Dingli Cliffs. Dizem que o pôr do sol lá é incrível.
St. Peter’s Pool
“U can do it” é a frase entalhada na pedra. Um passo à frente, há uma queda de uns cinco metros de altura numa piscina de água salgada turquesa supertranslúcida. Se o mar está calmo, junta uma galera para pular e ver os outros pularem. Aventura aprovadíssima.
Riviera e Golden Bay
As praias de areia mais populares ficam uma do lado da outra. A areia dourada faz um contraste lindo com o mar azul em Riviera e Golden Bay, mas o diferencial fica por conta dos morros que contornam a paisagem. Em maio, primavera em Malta, a água ainda estava bem gelada.
Rotunda de Mosta
Indico a Rotunda de Mosta para quem é religioso, com um crush por possíveis milagres, ou tem bastante interesse na II Guerra Mundial. É que em 1942, uma bomba perfurou o teto da igreja, caiu lá no meio e não explodiu – nenhuma das cerca de 300 pessoas que estavam no local se feriu. A cúpula, uma das maiores da Europa, pode ser vista de vários pontos da ilha.
Algumas dicas aleatórias
- Se a sua ideia é usar transporte público – como eu fiz –, hospede-se em Valeta. Além de linda e de ter boas opções de restaurantes, de lá saem todos os ônibus. Acredite, é melhor pegar a linha no começo. Eles costumam atrasar bastante e lotam demais. Quando lotados, nem param nos pontos.
- Vá a Mdina de dia e também à noite – pesquise Mdina By Night no Google para sentir a magia.
- Quer aventura? O negócio lá é mergulho. Para quem já fez ou quer investir no curso, há vários locais que parecem incríveis para mergulhar (um barco afundado ou um buraco profundo ao lado de onde ficava a Azure Window). Gente leiga como eu também pode fazer seu primeiro mergulho, mas com menos chance de escolher o lugar.
- Além de gelado na maior parte do ano, o mar de Malta tem muitas mães-d’água. Se você ouvir alguém falar em jellyfish, abra o olho.
- A coisa que mais tem em Malta é igreja. Eles se orgulham de ter uma para cada dia do ano. Tente participar de uma missa em maltês (mesmo não entendendo bulhufas).
- Planeje bem a época do ano para ir. Maio (primavera por lá) foi uma boa escolha, mas ainda ventava bastante e esfriava à noite.
*Repórter da editoria de Porto Alegre de ZH, Jéssica Rebeca Weber ficou um mês em Malta estudando inglês em maio de 2018