Por Cristiano Beck*
Em 2010, realizei um "mochilão" de três meses pela Europa. Parti com duas mochilas, um passe de trem e poucos euros no bolso. Em um dos tantos trechos que fiz de trem – entre Budapeste e Veneza –, viajei à noite, para ganhar tempo e economizar algum dinheiro.
Logo após o embarque, o funcionário da companhia férrea entrou na cabine para anunciar que estávamos partindo. Ali, constatei que eu não seria apenas o único passageiro da cabine, mas também de todo o vagão. O mais inusitado, contudo, veio em seguida: ele disse que passaríamos por dois postos de fiscalização de fronteira – Croácia e Eslovênia –, e me perguntou se eu tinha visto para estes países, já que não faziam parte do Espaço de Schengen à época. Claro que eu não tinha!
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Após algum tempo de viagem, o trem começou a reduzir a velocidade, anunciando a primeira checagem. Logo ouvi vozes se aproximando, que se transformaram em vultos atrás da cortina. Então, dois oficiais da polícia croata entraram na cabine. O primeiro ficou parado na porta, me encarando com uma expressão severa, enquanto o outro começou um interrogatório.
Embora praticamente impossível decifrar o que o meu interlocutor dizia, consegui responder algumas perguntas, como qual era minha profissão e para onde estava indo. Também ofereci a bagagem para revista, o que acabou não sendo necessário. Após examinar minha documentação e conversar com o funcionário do trem, o oficial me devolveu a papelada e bateu em retirada. A primeira etapa tinha sido vencida.
Após mais um par de horas e um breve cochilo, nova parada. Desta vez, assim que a porta se abriu, entraram três oficiais, todos empunhando armamento pesado. Pareciam decididos a fazer cumprir as leis de imigração do seu país a qualquer custo.
Enquanto o primeiro mantinha sentinela na porta e o segundo revistava minhas mochilas, o outro veio em minha direção. Havia um clima maior de tensão do que na primeira parada, e os policiais demonstravam impaciência e uma certa hostilidade. Cheguei a temer pelo pior (ser obrigado a desembarcar do trem no meio da madrugada), mas, com a ajuda do empregado da companhia férrea e após verificada a documentação, revistada a bagagem e respondida a bateria de perguntas, o grupo de oficiais retirou-se da cabine em direção à entrada do vagão, da mesma maneira solene que entrara.
Logo as engrenagens do trem começaram a se movimentar novamente e, em algumas horas, eu estava desembarcando na Stazione Santa Lucia, em meio às gôndolas e aos vaporettos que cruzam os canais de Veneza.
Detalhe: nem Croácia nem Eslovênia exigem visto de brasileiros.
*Leitor do Viagem, o servidor público Cristiano Beck tem 43 anos e mora em Porto Alegre
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