Para quem está buscando intercâmbio voluntário, uma boa notícia: o único pré-requisito é ser flexível. É preciso entender que o objetivo do programa não é apenas satisfazer as expectativas do intercambista, mas principalmente o de impactar de forma positiva a comunidade que o recebe. Por isso, não espere muitas regalias – você será tratado como todos os outros voluntários.
– Tem de ser uma pessoa que está aberta a viver com outros costumes, um pouco como qualquer intercâmbio, mas é preciso ser um pouco mais desprendido. Não é como ficar em hotel – explica Ana Flora Bestetti, supervisora da Região Sul da agência de intercâmbios CI.
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Para arrumar as malas e partir rumo a uma viagem nesse formato, não há restrições gerais de idade ou tipo físico. Existem projetos adequados para todos os perfis de pessoa – o primeiro passo é encontrar uma forma de colaboração que vá de acordo com a personalidade do viajante.
Entre os principais tipos, estão aqueles voltados para causas sociais, como os que envolvem educação infantil, e também os que procuram diminuir o impacto ambiental que causamos no planeta, geralmente realizados em reservas ou fazendas ecológicas.
Por isso, é fundamental conhecer bastante a instituição para a qual pretende ir. Além de procurar informações na internet e referências sobre o trabalho no local, vale a pena usar as redes sociais para entrar em contato com outros voluntários e conhecer as experiências deles. Foi o que fez Livi Gerbase, que esteve na África em 2013 e, atualmente, é mestranda em Economia Política Internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
– Acho importante falar com pessoas que já tenham ido e não sejam diretamente da instituição, para você ter certeza de que ela existe e não acabar indo para um lugar longe e que não conhece – destaca.
Por agências de viagem
Ideal para quem prefere se preocupar menos com a organização do intercâmbio, que fica em parte por conta da agência. As opções de destinos são limitadas àquelas oferecidas nos pacotes, mas é mais fácil começar a avaliar as possibilidades de voluntariado sabendo de antemão que as instituições são confiáveis. É preciso ter mais de 18 anos e falar inglês (em alguns casos, pode ser espanhol). Geralmente, é possível também aliar o intercâmbio voluntário a um curso de línguas, feito antes do período de trabalho e não necessariamente no mesmo país.
Nesse modelo, os custos tendem a ser mais altos, mas dá para se preparar com menos antecedência – Ana Flora indica buscar as agências no mínimo dois meses antes da data desejada para embarque. Investindo a partir de R$ 3 mil, fora passagens aéreas e seguros, já é possível viajar. Parte desse dinheiro custeia a estadia do intercambista, e a instituição de voluntariado também recebe uma ajuda financeira.
Por organizações estudantis
Quem é estudante (ou graduado há menos de dois anos) pode procurar organizações estudantis que dão suporte a viagens de voluntariado. Ligada às Nações Unidas e gerida em sua maior parte por graduandos, a Aiesec, por exemplo, oferece uma experiência focada em estimular aspectos de liderança no intercambista. É, inclusive, feita uma avaliação das capacidades de cada um antes e depois da viagem.
– O mais legal é que, apesar de ser um intercâmbio no qual você vai se doar aos outros, ele também serve para você desenvolver habilidades pessoais – diz Maria Helena Lopes, 20 anos, estudante de Arquitetura e Urbanismo da Ulbra que viajou para a Colômbia em 2016 e, hoje, é vice-presidente de intercâmbios sociais da Aiesec.
Além da taxa (no caso da Aiesec, R$ 1 mil), o intercambista arca com passagens e despesas extras, mas a estadia é incluída e, em muitos casos, a alimentação também. Quem procura organizações estudantis precisa conhecer o foco da instituição, pois é preciso saber se seus objetivos próprios estão de acordo com aqueles que deverão ser desenvolvidos durante a experiência.
Por conta própria
Tudo fica a cargo do intercambista. A liberdade na escolha do destino é maior, mas é preciso tomar mais cuidado para saber se o local é confiável. Por isso, é necessário planejar com mais antecedência. Livi Gerbase passou um mês em Uganda auxiliando em uma ONG que funcionava como escola – fez trabalhos de manutenção da estrutura, ajudou os professores a ter noções de TI e participou de atividades lúdico-recreativas com os alunos. Para ela, qualquer um que queira viver experiências diferentes pode se aventurar:
– Já fiz intercâmbios acadêmicos e "turistei", posso dizer que o intercâmbio social é muito diferente. A gente começa a perceber as relações sociais, o contexto político e econômico do lugar.
É preciso calcular todos os gastos – passagens, alimentação e estadia (caso não esteja incluída no programa de voluntariado escolhido), lazer e emergências. O preço varia bastante conforme o lugar e a duração. Ficar na América do Sul não só diminui custos, mas também pode facilitar burocracias, como vistos. O contato com as organizações que vão recebê-lo também deve ser feito com antecedência, para que você tenha tempo de buscar informações seguras sobre o local. Há sites que facilitam esta etapa, como workaway.info, wwoof.net e unv.org.
Não embarque sem saber
– Pesquise sobre o lugar para onde você vai. Como são os costumes, o que é socialmente aceitável, o que é permitido ou não por lei, que vacinas você precisa tomar. Não tem como prever tudo, mas vale saber como as pessoas se relacionam no país em questão. Chegando lá, esteja disposto a aprender mais.
– Tenha sempre por perto seus documentos, números de telefone de emergência e o endereço da embaixada do Brasil mais próxima de onde vai ficar.
– Informe-se sobre todos os detalhes do trabalho – o que você vai fazer, quantas horas por dia e quantos dias por semana, quais serão suas folgas e se a estadia e a alimentação estão incluídas no programa. Assim, fica mais fácil saber o que o espera no outro país – e também permite planejar outros passeios, aproveitando melhor a experiência.