- Vem muito gringo aqui louco para fazer trilha na mata com chuva, querem sentir na pele a "rainforest". Já os brasileiros preferem sol, não dá para agradar a todo mundo - brincou o guia antes do primeiro passeio do nosso cruzeiro, uma trilha pela Amazônia.
O tempo nublado antes de sairmos do barco indicava que, naquela terça-feira, São Pedro queria ganhar a simpatia dos estrangeiros. Uma dica para quem leva eletrônicos nos passeios, como celulares ou máquinas fotográficas, é ter sempre uma capa de chuva ou sacola plástica ao alcance. Mesmo que você deixe o barco sob sol forte, a chuva pode surpreender.
Saímos do navio pouco antes das 8h e embarcamos em uma lancha rumo à região do Igarapé, curso do rio que corre dentro da mata. A chuva chegou antes mesmo de pisarmos na floresta e não deu trégua durante toda a caminhada.
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Apesar da beleza de árvores, plantas e frutos, nada na trilha exerceu tanto fascínio quanto o amor de um manauara pela floresta. Quando olhou cortes profundos na casca de uma árvore da espécie matamatá, nosso guia, o índio Edson Piro, 47 anos, franziu a testa, acariciou o tronco e lamentou:
- Machucaram a planta. Se cortar muito fundo, ela não se regenera.
Com delicadeza, ele tirou fiapos da casca onde ela não estava machucada, trançou-os e entregou na mão de uma menina, em forma de pulseira. O artesanato instantâneo foi uma amostra de como os fios da árvore podem ser úteis. Mais adiante, Piro fez uma pequena abertura em um cipó com a ponta do facão que carregava, e a planta derramou um pouco de líquido:
- Esse é o curare. Usamos como veneno para imobilizar animais, e depois podemos comer a carne sem problemas. Alguém é médico aqui?
Um senhor grisalho levantou a mão.
- Então, o senhor pode confirmar que o curare também é usado como anestésico - provocou Piro.
- Sim, ele é usado na produção de anestésico cirúrgico - afirmou o médico.
- Para vocês verem: o branco vem aqui, tira o conhecimento do índio e faz remédios com as plantas da Amazônia. Depois, o índio tem que pagar para comprar o remédio do branco - falou o guia, pegando um pouco de terra para tapar o furo que fez na planta.
Se não fechasse a ferida, o cipó poderia ser contaminado por fungos, explicou Piro. Filho da Amazônia, o guia cuida de tudo que nasce naquele paraíso como um irmão.
*A repórter viajou a convite da Rede Iberostar
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