Da montanha à arca de Noé Já na Tanzânia, o contraste africano parece atingir o auge. Descansar em um dos resorts da paradisíaca ilha de Zanzibar pode ser uma ótima opção para quem quer relaxar nas férias. As águas quentes do Oceano Índico são perfeitas para nadar com golfinhos selvagens ou explorar os coloridos corais em um mergulho. Mas, se você não vive sem um pouco de aventura, todos os caminhos levam a Arusha. Nesta cidade, localizada ao norte do país, você vai encontrar duas atrações das quais jamais se arrependerá: o Serengeti e o Kilimanjaro. O primeiro é o melhor lugar do mundo para fazer safári. Se você quer ter a certeza de que vai ver animais selvagens, este é o lugar perfeito.
Como fazer um safári na África por conta própria
A aventura de um safári no Serengeti, na África
Leitores compartilham fotos e relatos de suas viagens à África do Sul
E se você fizer um safári de vários dias, provavelmente irá conhecer Ngorongoro, que é o que eu chamo de "África na Potência Máxima". Ngorongoro é a cratera de um vulcão extinto com cerca de 20 quilômetros de diâmetro, onde milhares de animais selvagens vivem permanentemente em uma espécie de Arca de Noé. Ao descer até o centro da cratera tem-se a sensação de estar em um templo da natureza, um lugar mágico onde ela escondeu o que tem de melhor. Ali você vai ver leões, búfalos, elefantes, hipopótamos e, com sorte, até os quase extintos rinocerontes.
Um lugar fantástico e diferente de tudo o que vi por lá. O Kilimanjaro, por sua vez, não é apenas um passeio. É uma experiência. Ou um teste para o corpo e para a mente. Subir até o cume da montanha não requer qualquer conhecimento em alpinismo, mas exige preparo físico e muita força de vontade. Chegar no topo de madrugada e ver o sol nascer lá de cima é inesquecível, mesmo quando se tem pouco oxigênio no cérebro por causa da altitude. A subida é lenta, congelante e desgastante, mas muito recompensadora. Mesmo dormindo em barracas por seis dias e sem tomar banho, vale muito a pena tentar. Com certeza você vai voltar outra pessoa lá de cima.
Indiada que vale a pena
Foto: Antônio Soletti/Arquivo Pessoal
Nesses três meses de viagem, faltou conhecer muita coisa. À medida que eu percorria os países, descobria mais lugares desconhecidos e inexplorados. Para se ter uma noção, percorri quase 10 mil quilômetros em apenas seis países. Ao todo, o continente tem mais de 50 nações.
Dentro da barraca, o frio é intenso. Mesmo protegido por casacos, calças e um generoso saco de dormir, a sensação é de que o corpo está congelando. Lá fora, os flocos de neve caem sobre o teto da barraca.
Quem leu a palavra África no título do texto deve estar se perguntando: tem certeza de que isso é África? Por incrível que pareça, eu respondo: sim, por lá também neva.
Este foi apenas um dos muitos momentos em que o continente africano me surpreendeu. Era a inesquecível subida do Kilimanjaro, com 5.895 metros de altitude, localizado na simpática Tanzânia. Mas, antes de chegar lá, tive a felicidade de viajar por mais cinco países do sul do continente e me encantar com um mundo de contrastes e belezas desconhecidas. De desertos inóspitos a florestas tropicais, de praias paradisíacas a montanhas cobertas de neve, a África é disparado o continente mais rico em diversidade do planeta. E foi lá que eu vivi três meses de descobertas incríveis em 2014.
Confira dicas de como se virar na África
Tudo começou na bem desenvolvida África do Sul, onde fiz dois projetos de trabalho voluntário. Uma experiência sensacional na qual pude cuidar de animais selvagens em uma reserva privada perto de Johannesburgo e também ajudar professores de educação física em escolas carentes na Cidade do Cabo.
Porém, após um mês e meio me adaptando ao universo sul-africano, parti para aquela que seria a etapa mais desafiadora da viagem: conhecer países como Namíbia, Botsuana, Zâmbia, Zimbábue e Tanzânia viajando de ônibus, trem, barco e carona. Foi aí que descobri a África de verdade.
Um trajeto repleto de histórias
Foto: Antônio Soletti/Arquivo Pessoal
Viajar pelos países africanos pode ser uma tarefa difícil quando o avião não é uma opção. Os lugares são distantes, os horários são restritos e a duração das viagens é longa. Por outro lado, o contato com as pessoas e os costumes é constante e intenso. Tanto que foram nessas viagens que escutei grandes histórias de vida e encontrei muitas pessoas dispostas a me ajudar. Como, por exemplo, um senhor que conheci no trajeto entre Botsuana e Zâmbia. Ao chegar na fronteira, ele me esperou na imigração, trocou dinheiro pra mim, me levou até a porta do hostel e ainda deixou o endereço da sua casa para que eu fosse conhecer sua família. A cada trajeto percorrido, histórias como esta se repetiam.
Nessas andanças pelo interior do continente, passando por tribos, vilas e povoados extremamente pobres, descobri o quão diversa é a África. Infelizmente, estamos acostumados a ouvir mais sobre os problemas do que sobre os encantos da região. Mas agora posso garantir: as belezas naturais de lá são muito superiores aos problemas sociais.
Confira o vídeo que Antônio fez durante a viagem:
Entre rios
Na Namíbia, pude visitar Sossusvlei, um dos lugares mais quentes e secos do mundo, onde nem as bactérias sobrevivem para decompor árvores mortas há milhares de anos. Lá também se encontram algumas das maiores dunas do planeta, que formam uma paisagem surreal para os turistas e um paraíso para os fotógrafos.
O contraste está a apenas algumas centenas de quilômetros dali, no delta do Rio Okavango, em Botsuana. Uma enorme planície alagada, que garante a vida de elefantes, girafas, leões, zebras e todos os animais que se pode imaginar. Chegar lá não é fácil. Pode-se pegar aviões de pequeno porte ou encarar o desafio de viajar o dia inteiro em vans e caronas até chegar na cidade de Maun. É claro que eu escolhi a segunda opção.
Na fronteira entre Zâmbia e Zimbábue, outro rio impressiona. O Zambezi, além de apresentar uma das maiores cataratas do mundo, Victoria Falls, ainda permite praticar bungee jump ou rafting entre paredões de rocha e alguns inofensivos crocodilos. Pelo menos foi o que o instrutor me disse quando caí na água a poucos metros de um deles.
Agora, se você é como eu e adora uma indiada, não pense duas vezes antes de ir para a África. E se você ficou empolgado para ir desbravar nosso continente-mãe, minha principal dica é: vá com tempo. Tente vivenciar o cotidiano de cada região. Afinal, são nas pequenas descobertas do dia a dia que se escondem as duas grandes riquezas africanas: a simplicidade do povo e a diversidade da natureza.