Cruzar o Vale dos Vinhedos já é uma delícia se você for de carro. No local que remete o visitante ao interior da Itália, é possível degustar vinhos direto do produtor e observar lindas paisagens. Imagine essa sensação de bicicleta? Com sol e vento na cara, subidas, descidas e travessias sob os parreirais, o novo roteiro de cicloturismo da Serra é uma boa pedida para quem, além da paixão pelo pedal, aprecia cultura e boa gastronomia.
Na semana passada, encarei uma pedalada de quatro horas pelas ladeiras do Vale para testar um dos roteiros recém-lançados pelo Hotel DallOnder, em parceria com a consultoria Caminhos do Sertão. Não costumo ter grandes exigências antes de encarar uma trilha, mas o suporte oferecido pelos guias dão muita tranquilidade para quem explora o local pela primeira vez. Além de conhecer bem o trajeto e os costumes locais, os condutores oferecem água, apoio mecânico e noções de segurança e orientam as paradas nos estabelecimentos turísticos ao longo do caminho.
Para os mais fominhas por estrada e aventura, que gostam mesmo de rodar quilometragem e conhecer destinos mais selvagens, o roteiro dos Vinhedos pode parecer monótono no começo. O arranca e para deixa um pouco inquieto quem curte distâncias mais longas - para esse público, o mais recomendado seria fazer o roteiro do Rio das Antas, onde é necessário bom preparo e resistência.
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Mas depois das primeiras paradas - em duas vinícolas, uma igreja, um sítio-museu e uma fábrica de geleia -, o passeio ganha ritmo, e a emoção começa a aumentar. É a partir da metade do caminho que a paisagem torna-se ainda mais bonita - e as lombas, maiores. Nessa etapa do circuito, quem está usando bicicleta elétrica agradece, e quem não está, sua um bocado.
O interessante das bikes elétricas é que, diferentemente do que muitos imaginam, ela não faz tudo sozinha, mantendo a graça do exercício. Você tem de dar algumas pernadas para que ela tome impulsão. É uma boa pedida para quem está fora de forma, mas não quer abrir mão do turismo ao ar livre.
Fotos: Lara Ely
Entre os atrativos do caminho, conhecer a cava de uma vinícola com exemplares de espumante com 10 anos de fermentação foi uma da mais interessantes. Ao final, percorrer os 10 quilômetros ao ar livre deu aos sabores da Serra um gosto especial de merecimento.
Vinhedos e bicicleta, combinação perfeita
Para a formatação dos roteiros, Michelon buscou ajuda dos consultores da Caminhos do Sertão, empresa que há 10 anos realiza projetos de cicloturismo no local, além de Florianópolis e outros destinos turísticos do Brasil.
Foram eles que realizaram o treinamento e formação de 11 ciclocondutores como guias do percurso. A capacitação inclui noções de primeiros-socorros, mecânica básica, dicas de segurança e ecoturismo.
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Na hora do trajeto, os guias se encarregam de orientar os turistas a andar pela direita, não correr muito na descida, evitar os trechos com mais pedregulhos, sinalizar paradas e mudanças de rumo. Também abastecem o pedalante com água, contam causos das construções locais e encorajam nas subidas mais íngremes.
Entre as atrações da rota mais curta, está a parada para conhecer as cavas da vinícola Marco Luigi. Lá, o público pode conhecer o processo de produção de vinhos e espumantes e aprender a diferenciar as uvas cabernet, malbec e merlot.
- A combinação de vinhedos e cicloturismo é perfeita. O pessoal pedala em Mendonça ou na Toscana para fazer esse tipo de turismo - comenta o consultor Jonatha Junge, da Caminhos do Sertão.
A Serra é ideal para este tipo de roteiro porque reúne aspectos cênicos e atrativos gastronômicos. Outra vantagem é que não há trânsito intenso na região. O local mescla trechos conhecidos e isolados, estradas de chão batido, brita e asfalto, semelhante ao que ocorre no norte da Itália e em Portugal.
Hotel das bicicletas
A iniciativa rendeu à DallOnder o título de primeiro bike hotel do Brasil. Outros estabelecimentos do país já dispunham de aluguel de bicicletas ou cicloroteiros. Mas, segundo Denise Centena de Araújo, coordenadora do projeto, é o primeiro hotel que disponibiliza infraestrutura para hospedagem e manutenção de bikes. Isso quer dizer espaço para guardar bicicletas, mapas dos trajetos, oficina mecânica para consertos e aluguel para quem quiser, além de fazer os percursos, passear pela cidade.
- A cultura do vinho é nosso principal produto turístico. Queremos celebrar essa cultura propondo uma inovação que passe pela valorização da história, da gastronomia e da vida saudável - diz Tarcísio Michelon, diretor da rede de hotéis Dall´Onder, idealizador dos Caminhos de Pedra.
O cardápio vino-ciclístico
Os passeios vão de um leve pedal matutino nos Caminhos de Pedra até uma épica travessia pelo Vale do Rio das Antas durante um dia inteiro. Todos os roteiros terminam com visitação e degustação dos rótulos das melhores vinícolas da região.
Depois, os participantes são levados de volta ao hotel de carro, van ou micro-ônibus, dependendo da situação. O custo é de R$ 185 a R$ 270, com desconto para moradores de Bento, Garibaldi, Monte Belo do Sul, Nova Roma do Sul e Pinto Bandeira, as cinco cidades envolvidas no trajeto.
As pedaladas podem ter de três a oito horas de duração, dependendo do roteiro, com percursos de 10 a 34 quilômetros. Para grupos a partir de 10 pessoas, o hotel oferece valores diferenciados. O passeio deve ser agendado com antecedência, podendo ser feito em qualquer dia da semana. Interessados podem acessar o site dallonder.com.br para obter informações. As reservas devem ser feitas pelo telefone (54) 3455-3555.
AS OPÇÕES
1. Caminhos de Pedra
> Formato 1 - reduzido
Duração: três horas. Dificuldade: 1 (fácil)
Distância: 10 km. Subida: 150 metros + descida: 150 metros
> Formato 2 - Completo Vinhos de Montanha
Duração: seis horas. Dificuldade: 3 (médio)
Distância: 20 quilômetros
Subida: 500 metros + descida: 350 metros
> Formato 3 - Completo a partir do hotel
Duração: oito horas. Dificuldade 4 (médio)
Distância: 29 quilômetros
Subida: 650 metros + descida: 600 metros
Principais atrativos
Casa do Tomate, Casa Righesso, Salumeria, Vinícola Strapazzon, Casa da Ovelha, Casa Vanni, Casa da Tecelagem, Casa da Erva Mate, Vinícola Don Giovanni, Vinícola Cave Geisse e Vinícola Lovara
2. Vale dos Vinhedos
> Formato 1 - Monte Belo do Sul
Duração: oito horas. Dificuldade: 4 (médio)
Distância: 27 quilômetros
Subida: 800 metros + descida: 700 metros
> Formato 2 - Reduzido
Duração: quatro horas. Dificuldade: 2 (fácil)
Distância: 12 quilômetros
Subida: 300 metros + descida: 200 metros
Principais atrativos
Cogumelos da Serra, Vinícola Marco Luigi, Vinhos Larentis, Vivatto Parque, Barcarola, Casa Madeira Delicatessen, Vinícola Pizzato, Famiglia Tasca, Il Divino Café, Prefeitura Monte Belo do Sul e Vinícola Miolo
3. Estrada do Sabor
> Formato 1 - Reduzido
Duração: quatro horas. Dificuldade: 2 (fácil)
Distância: 17 quilômetros
Subida: 350 metros + descida: 380 metros
> Formato 2 - completo
Duração: oito horas. Dificuldade: 3/4 (médio)
Distância: 31 quilômetros
Subida: 730 metros + descida: 680 metros
Principais atrativos
Vinícola Don Laurindo, Vinícola Peterlongo, Família Mariani, Família Vaccaro, Osteria Della Colombina e Vinhos Betu
4. Vale do Rio das Antas
> Formato 1 - Completo
Duração: oito horas. Dificuldade: 5 (difícil)
Distância: 28 quilômetros
Subida: 780 metros + descida: 760 metros
Principais atrativos
Nova Roma do Sul, Represa, Rio das Antas, Ponte de Ferro, Pinto Bandeira, Vinícola Valmarino e Vinícola Geisse
*Lara viajou a convite do Hotel DallOnder