A jornalista Rafaela Ely viajou à Turquia para o casamento de dois amigos. Ela aproveitou a passagem pelo país para conhecer a rica história e as belas paisagens da capital e do interior. No texto abaixo, Rafaela compartilha como foi a experiência.
O sexto país mais visitado do mundo é um lugar acolhedor, seguro, lindo e histórico. Fui para a Turquia em agosto para o casamento de dois amigos e aproveitei para viajar pelas regiões central, sul e oeste do país. Fui sem grandes planos, só com uma ideia geral dos lugares que iria visitar, mas acabei ficando pelos lugares mais populares.
Não falar turco era uma preocupação que eu tinha, mas não atrapalhou tanto assim. Minha tática foi adotar algumas palavras-chave e rezar que a hospitalidade turca se confirmasse.
Na maioria das vezes, se comprovou. A frase "pardon, otogar?", ou "com licença, rodoviária?", foi útil, e os turcos se mostraram hábeis na mímica em diversos momentos. Dentro do país, desloquei-me de ônibus para quase todos os destinos (tirando um, que fui de trem) - comprava a passagem no dia anterior ou um pouco antes do embarque. Os coletivos têm um preço justo, são pontuais, confortáveis e alguns contam com sistema de entretenimento e entrada para USB para carregar celular, iPod e o que mais você precisar.
A lira turca (TL) tem quase o mesmo valor que o real, o que facilitou na hora de fazer os cálculos. No Brasil, não encontrei casas de câmbio que tivessem a moeda, então levei euros para trocar lá. O roteiro a seguir apresenta o melhor das oito cidades que visitei.
ISTAMBUL - Palácio Dolmabahçe
No total, foram nove dias em Istambul, seis no início e quatro no fim da viagem. Dois deles foram dedicados ao casamento: a tradicional festa da hena no dia da chegada, 8 de agosto, e o casamento em si, dia 10.
No tempo restante, visitei os lugares mais populares da cidade: Mesquita Azul, Santa Sofia, Cisterna da Basílica, Grand Bazaar, Palácio Topkapi, Bazar Egípcio, Parque Gülhane, Praça Taksim, Rua Istiklal, Torre de Gálata, Ilhas Príncipe, Rumelihisari, entre outros. Mas nenhum me chamou tanto a atenção como o Palácio Dolmabahçe. Este foi o último palácio construído por um sultão otomano.
A construção é imponente e tem um gramado com vista para o Bósforo. Aproveitei para dar uma descansada sob uma árvore, já estava cansada por causa das longas caminhadas e do forte sol do verão turco. Duas partes do palácio podem ser vistas, pode-se escolher apenas uma ou fazer o passeio completo. Eu optei pelas duas. As visitas em ambas as sessões são feitas em grupo na companhia de um guia, com explicações em turco ou em inglês.
Na parte oficial do palácio, o mais impressionante são os três grandes lustres de cristal, um deles pesando mais de quatro toneladas. Apesar de a construção ter sido encomendada pelo sultão Abdülmecid I no declínio do Império Otomano, a riqueza das peças e a magnitude dos salões se destacam. Na parte privada do palácio, o harém, pode-se visitar o quarto em que Mustafa Kemal Atatürk morreu.
O ponto negativo é a longa fila para comprar o ingresso - mas grande parte das atrações turísticas de Istambul sofre desse problema. A entrada para a visita completa custa 40TL, também um pouco acima da maioria dos locais. O acesso é fácil, após descer do tram na estação Kabatas, pode-se caminhar até o Palácio Dolmabahçe.
CAPADÓCIA - Göreme
Foto: Go Turkey/ Divulgação
As belezas da Capadócia se estendem em uma área extensa, por isso é importante escolher uma base. Escolhi Göreme por ter encontrado uma ótima anfitriã do CouchSurfing ali, uma japonesa que sabia tudo sobre a Capadócia e me ajudou bastante.
Fiquei dois dias na cidade e foi o suficiente, mas certamente há mais coisas a fazer caso você decida prolongar a visita. Cheguei lá quase à meia-noite e encontrei uma pequena vila charmosa, com gente passeando na rua e famílias reunidas bebendo ayran (iogurte) e comendo çekirdek (sementes de girassol). A cidade tem acesso relativamente fácil às principais atrações da região. Dali, é possível visitar os museus a céu aberto de Zelve e Göreme, Pasabag (ou Vale dos Monges) e o castelo de Ushisar. Diversas agências oferecem o "Roteiro Verde", que custa cerca de 140TL. O passeio inclui destinos mais distantes, como a cidade subterrânea de Derinkuyu, com oito andares abertos ao público (acredita-se que o primeiro deles data de cerca de 4 mil anos atrás), uma caminhada pelo Vale Ihlara, o monastério Selime e uma parada para fotos no Vale dos Pombos. No fim da tarde, vale a pena subir até o Ponto do Pôr do Sol, para contemplar uma vista deslumbrante. Claro, na Capadócia não pode faltar o passeio de balão. Mais de cem aeronaves partem diariamente (a não ser quando o tempo não permite) no início da manhã para voos de cerca de uma hora. Se você embarca em um dos primeiros balões, é possível observar o nascer do sol lá de cima. A viagem de balão permite que se enxergue algumas características da região de uma perspectiva única, voando próximo às formações geológicas. O passeio custa, em média, 160 euros.
ANCARA - Mausoléu de Atatürk
Foto: Rafaela Ely
A segunda maior cidade e capital do país é muitas vezes deixada de lado por viajantes que dispõem de pouco tempo por não oferecer tantas atrações como outros destinos. Contudo, pode servir como uma parada estratégica de um dia no trajeto entre Istambul e Capadócia.
Eu tinha bastante interesse em conhecer o Mausoléu de Atatürk, de tanto que meus amigos falavam dele e de todas as mudanças que fez no país. Acabei descobrindo que não só meus amigos, mas quase todos os turcos o veneram. Erguido no topo de uma colina, o monumento pode ser visto de diversos pontos da cidade.
A construção abriga a tumba de Atatürk, "pai dos turcos", fundador da República da Turquia e primeiro presidente do país, além da de seu amigo e sucessor, Ismet Inonu. Ali funciona o Museu da Guerra da Independência, com objetos pessoais de Atatürk, panoramas de batalhas, retratos de personalidades da guerra e
outras exposições. As três forças armadas - exército, marinha e aeronáutica - estão presentes no local, e a troca de guarda faz com que os visitantes saquem suas câmeras e celulares para gravar a marcha precisa dos oficiais. A entrada é gratuita.
ÖLUDENIZ - Lagoa Azul
Foto: Rafaela Ely
Essa é uma das praias mais famosas da Turquia e tem méritos para isso. A tranquilidade, a translucidez e a cor turquesa do Mediterrâneo convidam os visitantes a nadar até nas áreas mais profundas. Fui a uma parte bem funda, e a água era tão limpa que podia ver meus pés. Além disso, a pequena baía é cercada por morros arborizados, o que destaca ainda mais a beleza do lugar. Entrar na água pode ser um pouco desconfortável devido às pedrinhas que ficam na beira no mar, mas nada que atrapalhe a experiência. Para relaxar depois do mergulho, espreguiçadeiras podem ser alugadas por 7TL. Aluguei uma logo que cheguei e fiquei embaixo de uma árvore para evitar o sol do meio-dia. Pedi para um casal cuidar minha mochila enquanto nadava um pouco. Depois, parei em mais dois ou três pontos da praia, para entrar na água novamente e contemplar diferentes vistas.
A Lagoa Azul fica dentro de uma reserva natural, por isso é cobrada uma taxa de 6TL para entrar na área. A prática de parapente sobre a região é muito popular, devido à vista espetacular que se tem durante o voo. Fiquei dois dias na região, um para ir para Olüdeniz e outro para mergulhar em Fethiye.
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PAMUKKALE - Piscinas naturais
Foto: Go Turkey/ Divulgação
Certamente, um dos lugares mais incríveis deste roteiro. Pamukkale, que em turco significa "Castelo de Algodão", impressiona pelo contraste da cor azul de suas águas termais e do branco dos depósitos de cálcio que formam suas piscinas naturais. Considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a montanha, que parece coberta de neve, surgiu pela ação do carbonato de cálcio presente na água que escorre há séculos pela colina, se solidificou e transformou o local em um dos mais belos (e populares) destinos da Turquia.
O ingresso custa 25TL. Os visitantes entram pela parte de baixo do morro e caminham, descalços, na maior parte do trajeto, até o topo. As ranhuras do chão às vezes machucam os pés e, apesar de o solo ser geralmente firme, é bom tomar cuidado para não escorregar (e pagar mico, como eu), já que a água que escorre pela superfície pode deixá-la lisa em alguns pontos. Ao chegar no alto, o turista ainda pode visitar as ruínas de Hierápolis, cujo destaque é o belo teatro antigo construído no século 2.
SELÇUK - Éfeso
Foto: Rafaela Ely
A visita a Éfeso é uma aula de história disfarçada de passeio. Mesmo que somente 20% da antiga cidade tenham sido escavados até agora, já dá pra se ter uma ideia de como era a estrutura da comunidade. Os destaques da visita são as grandiosas obras do teatro, com capacidade para 25 mil pessoas, a biblioteca de Celso (na foto da capa deste caderno), construída por volta de 110 a.C, e as duas ruas principais, Mármore e Curetes. Aqui, é bom ter um guia, seja um livro, um audioguia ou uma pessoa para lhe explicar o que é cada ruína. Como eu não queria gastar, me baseei no meu guia turístico, que foi suficiente para me situar, mas não para absorver tudo que o local pode proporcionar de conhecimento. O ingresso para o sítio arqueológico, considerado um dos maiores do mundo, custa 30TL.
ÇANAKKALE - Troia
Foto: Rafaela Ely
Chegar a Troia foi quase uma odisseia. Meu anfitrião me deixou no centro de Çanakkale, que é a cidade onde fica o sítio arqueológico, para que eu pegasse um dolmus (micro-ônibus) para a rodoviária e, de lá, outro para Troia. Ao chegar à rodoviária, descobri que ali não havia transporte para Troia e me informaram que haveria no centro de Çanakkale. De volta, descobri que os micro-ônibus não ficavam no centro, e sim, embaixo de uma ponte a umas 10 quadras de lá. Saí pelas ruas perguntando "pardon, köprü?" (com licença, ponte) e finalmente encontrei o dolmus que me levaria ao meu destino. Localizada em um lugar extremamente estratégico na ponta do Dardanelos, Troia foi base para nove civilizações entre 3000 a.C. e o século 2 a.C. As cidades foram construídas umas sobre as outras. Umas acabaram destruídas por incêndios, como a mais antiga delas, Troia I, algumas por terremotos, a exemplo de Troia VI, e outras não se sabe por que desapareceram. A famosa cidade retratada na Ilíada de Homero teria sido Troia VII. As escavações começaram em 1871 com o alemão Heinrich Schliemann, que acabou danificando o local. Estima-se que o sítio arqueológico seja 10 vezes maior do que as ruínas visíveis hoje. Os vestígios ali não são muito interessantes, já que a maioria está bem avariada e é difícil de imaginar como eram as construções. Mas a visita, que custa 20TL, vale a pena pela história. É possível entrar em um cavalo de madeira na chegada ao sítio para tirar fotos e se sentir dentro da lenda. Já no centro de Çanakkale está o cavalo de madeira usado nas gravações do filme Troia, de 2004, com Brad Pitt.
IZMIR - Fortaleza Kadifekale
Foto: Rafaela Ely
Izmir, a pérola do Egeu, tem um dos portos mais importantes da Turquia e é a terceira maior cidade do país, mas não tem grande variedade de atrações turísticas. Meu anfitrião me levou até Kadifekale, "castelo de veludo" em turco, uma atração que não estava no guia. Essa fortaleza foi construída por Alexandre, O Grande, no Monte Pagos, um dos pontos mais altos. Por isso, a visita proporciona um belo panorama da cidade, com vista para o Golfo de Izmir e para as ruínas da antiga ágora. Dentro da construção, também é possível ver uma cisterna bizantina. Não é necessário comprar ingresso para entrar.