Meia hora antes de o nosso avião tocar o solo em Goa, um tripulante anunciou que daríamos meia-volta e voltaríamos para Mumbai. Estávamos em plena temporada das monções, e a chuva e os raios ficaram tão intensos que o piloto não julgava mais que pousar fosse seguro. Não sei que tipo de parâmetro levou a equipe a mudar de ideia, pois a chuva torrencial e os raios eram iguaizinhos aos que nos balançavam quando, momentos depois, nosso avião começou a surpreendente descida ao Estado indiano do bom tempo.
Já não se tratava da Goa da imaginação popular: terra do sol, areia, passeios no cassino e "raves" ao som de música trance. E eu fiquei contente por não ser a Goa que procurava. Se dermos ouvidos ao que afirmam os guias turísticos, este pequeno território ocidental ao longo do Mar da Arábia é a Ibiza da Índia e só, com pouca coisa além de se instalar nas cabanas na praia e fortalezas cinco estrelas.
Eu não sabia o que procurava quando comecei a examinar Goa, duas semanas antes de tomar aquele avião em agosto, mas sabia o que havia encontrado quando cheguei ao site da Siolim House. Localizada em um vilarejo tranquilo a poucos quilômetros a leste de Mapuçá, o centro do norte de Goa, a Siolim House é um solar indo-português de 350 anos que foi minuciosamente restaurado e transformado em hotel pelo dono, Varun Sood, empresário goense apaixonado pelas casas coloniais antigas de sua propriedade. Após algumas noites chuvosas na suíte Macau - quarto decadentemente proporcional com cama de quatro colunas, soalho de madeira lustrada e tapetes indianos refinados -, eu descobri que a Siolim House faz parte de um número pequeno, mas crescente de pousadas similares, opções elegantes e descontraídas nas quais os visitantes podem desfrutar da característica arquitetura e culinária indo-latina de Goa e também de um estilo de vida rico em termos culturais e menos centrada na tecnologia.
As pessoas em Goa lhe dirão que a província é a "Índia para iniciantes" ou a "Índia light". A ideia parece ser a de que aquilo que estamos vendo não é a Índia de verdade, mas uma espécie híbrida, imbuída com a influência latina de mais de quatro séculos de governo português e não britânico, que terminou relativamente tarde, em 1961. Os moradores costumam se referir a si mesmos e aos outros como "goenses" e aos outros conterrâneos como "indianos", implicando que não se trata de uma pequena distinção.
Ao olhar estrangeiro, as diferenças são mais aparentes nos prédios e na comida. Esta é a única parte da Índia onde a linguiça de porco é um artigo básico do cardápio da mesma forma que a masala, e certos bairros estão tão repletos de azulejos mouriscos que se você olhar de soslaio poderia ser Lisboa. Os portugueses também deixaram sua marca na língua. Residências antigas costumam ser chamadas "casas" e "sossegado" se tornou "susegad", palavra goense para uma abordagem de vida e hospitalidade despreocupada e relaxada.
Ao longo de três séculos, a pequena nobreza goense, composta em grande medida por descendentes de portugueses, construiu por toda a região. Diversos estilos arquitetônicos evoluíram, mas os exemplos mais puros da estética goense compartilham algumas características: exteriores pintados em tons brilhantes, quintais rebaixados ao estilo hindu no centro e vidraças de cascas de ostra. Porém na década de 80, muitas dessas grandes construções coloniais estavam desmoronando. Todavia, nos últimos anos, enquanto Goa se tornou um lugar na moda para moradores de Mumbai e Nova Délhi manterem casas de veraneio, as casas antigas se tornaram investimentos cobiçados.
O primeiro a se tornar um hotel histórico oficial fica em Pangim, no bairro chamado Fontainhas. Foi ali que Ajit Sukhija abriu o Panjim Inn na década de 80. Cansado do trabalho corporativo, Sukhija reformou a casa da família - construída pelo bisavô, dono de terras de nome Francis Assis D'Silveria, no século XIX - e começou a alugar quartos a viajantes. A hospedaria de Sukhija logo se estabeleceu como alternativa ao mundinho dionisíaco das praias, uma base familiar para explorar o quarteirão latino de Pangim, onde as igrejas católicas são tão comuns quanto as mesquitas e os templos hindus.
O Panjim Inn agora é administrado pelo filho, Jack Sukhija, membro ativo de um grupo que trabalha pela preservação de prédios históricos em Goa. Situado em uma esquina movimentada, o hotel oferece 24 quartos simples, mas confortáveis e um restaurante que serve comida saborosa indiana e goense em uma varanda ao ar livre cercada de árvores.
Somente na década passada hotéis comparáveis se multiplicaram em Goa. Agora existe uma gama de opções. A Siolim House, impressionante pousada colonial em Siolim, aldeia ao norte de Goa, que me encantou quando me deparei com ela na internet, antes pertencia ao governador de Macau. Ela estava dilapidada quando Sood, atual proprietário, a viu na década de 90. O esforço para localizar o antigo dono o colocou em uma caçada pelo mundo que passou pela Suíça antes de terminar, de maneira improvável, em Compton, Califórnia. Sood fez um belo trabalho de restauração da casa. Ela oferece sete quartos, todos elegantemente mobiliados.
- Nós temos uma espécie de autosseleção. Não é um chique exagerado. O oferecido é um tipo de vida na aldeia. As pessoas vêm aqui porque são movidas pela sensação de encontrar o autêntico - disse Sood.
O quarto em que fiquei, a suíte Macau, é particularmente elegante. As refeições são servidas em um quintal ao lado da piscina orlado por palmeiras luxuriantes, e a equipe amistosa pode marcar aulas de ioga na pousada, massagem ayurvédica e lições de culinária indiana.
Em parte porque os estrangeiros que compram uma casa em Goa devem operar um negócio na propriedade como condição da venda, não é incomum encontrar pousadas e mansões administradas e de propriedade de europeus. Antonia Graham, por exemplo, proprietária da loja de decoração Graham and Green, em Notting Hill, reformou uma residência goense magnífica de 150 anos na vila de Assagao, chamada Casa Tota, que ela aluga por temporada.
Os exemplos mais opulentos da arquitetura goense ficam no sul do estado, uns 30 quilômetros a sul de Pangim, onde existe uma concentração de mansões coloniais luxuosas. Embora algumas ofereçam acomodações, é melhor visitá-las para o almoço ou passeio à tarde, pois estão levemente decadentes. As mais grandiosas são o Palácio do Deão, em Quepem, a Braganza House, em Chandor, e a Villa de Figueiredo, em Loutolim, onde uma matriarca octogenária de origem portuguesa, Maria Lourdes Figueiredo de Albuquerque, serve peixe tradicional ao curry em meio à imponente coleção da família de antiguidades da Companhia das Índias e um grande mural de Vasco da Gama chegando à Índia.