Jovens ansiosos nos apontando vagas de estacionamento desocupadas junto a um quiosque de ecoturismo, duas crianças pequenas entusiasmadas no banco de trás e sem a opção de desistir: parecíamos estar na porta do inferno dos turistas.
Depois de um longo suspiro, avistamos o Pacífico intocado diante de nós, e nos rendemos. Mais tarde, a Costa Chica, como esta região de Oaxaca é conhecida, nos surpreendeu.
- Um passeio de lancha particular acompanhado por um guia custa 400 pesos (R$ 59) - disse um dos rapazes. - Mas se ninguém mais aparecer, vocês podem pagar apenas o preço de grupo.
Minha mulher e eu olhamos ao redor - estávamos completamente sozinhos. Assim, acabamos em um barco fretado, pagando o preço com desconto, cobrado de grupos - o equivalente a cerca de R$ 20 por um passeio de 90 minutos por manguezais repletos de aves em temporada de acasalamento, crocodilos preguiçosos e iguanas de cor verde neon. Nosso guia remava tranquilamente enquanto identificava os animais.
Nossos filhos gritavam de alegria. Minha mulher e eu, vendo aquelas paisagens deslumbrantes, ficamos admirados. Esse trecho da costa é um daqueles raros lugares - extremamente difíceis de encontrar no México e no Caribe - onde há beleza natural e turistas, mas sem um clima de pressão sobre os visitantes.
Não nos cobraram pelo uso das cadeiras de praia na margem do rio, não havia garçonetes agitando cardápios de plástico, persuadindo-nos a entrar em restaurantes. Em vez disso, havia cozinheiros trabalhando ao ar livre que nos ofereciam preparar pratos a preços acessíveis, que não estavam no cardápio, para que nossos filhos pudessem comer.
Em seguida, enquanto estávamos sentados, apareceram magicamente alguns brinquedos, um gato e um colega de brincadeiras para os nossos filhos (com a mesma idade deles, sendo que alguns deles estavam nus).
A simpatia não pareceu forçada em nenhum momento durante a nossa estadia de quatro noites em uma casa alugada em San Agustinillo nesta primavera. E serviu como um contraponto às ondas monstruosas e perigosas ressacas que impediram que a área fosse invadida. Na verdade, a Costa Chica não costumava ser considerada um lugar atraente para os turistas.
Durante décadas, os quatro pequenos povoados vizinhos daqui - Zipolite, San Agustinillo, Mazunte e Ventanilla - não tinham quase ninguém, exceto pescadores que caçavam tartarugas marinhas ou os seus ovos. Moradores nos contaram que a areia dourada ficava frequentemente coberta por entranhas de tartaruga e que, devido às estradas pedregosas, na melhor das hipóteses, as lanchas eram o meio de transporte preferido.
Isso tudo começou a mudar na década de 1980, com a diminuição da população de tartarugas e a chegada dos primeiros grupos de turistas, especialmente italianos. Quando o governo mexicano proibiu a caça dos animais em 1990, o litoral daqui se tornou um exemplo paradigmático de como uma indústria que propiciava a degradação ambiental se tornou mais adequada à ecologia.
E agora, com o investimento do governo, organizações sem fins lucrativos e empresas, essa mudança está quase completa.
Charme
San Agustinillo é mais charmosa do que as outras três cidades do litoral, tendo uma praia menor, apreço por cafés e um punhado de hotéis novos e luxuosos. Do alto de nossa casa de dois quartos que ficava no topo de uma rua íngreme - com portas que não trancavam e um terraço que não tinha nenhum tipo de proteção -, víamos o pequeno povoado escurecer e se silenciar antes da meia-noite.
Já Mazunte, a uma caminhada de 10 minutos de distância, era mais movimentada. A música ao vivo era tocada até o horário permitido, o qual não era marcado com rigidez - alguns diziam que era meia-noite, outros achavam que era 2h.
Ao amanhecer, na estrada principal entre as cidades, um grupo de mulheres de calças largas apareceu com tapetes de yoga nos braços. Uma delas, uma jovem nova-iorquina, se ofereceu para levar nossos filhos a uma aula, a fim de ajudá-los a encontrar o seu "terceiro olho".
O café da manhã parecia se estender até a tarde nos restaurantes da rua principal de Mazunte, onde jovens mochileiros terminavam de comer ovos e pediam carona para Puerto Escondido ou Huatulco, as duas cidades mais próximas - ambas a cerca de uma hora de distância.
Tartarugas
Mas as principais atrações são a praia e o grande símbolo da transformação ecológica da área, o Centro Mexicano de Tartarugas. O aquário e o centro de pesquisa que exibem cinco das sete espécies de tartarugas encontradas na costa mexicana foi inaugurado nos anos 1990, perto de um local onde antes havia um matadouro de tartarugas.
O objetivo agora, é claro, incentivar a preservação. O que encontramos era simples, mas satisfatório. As tartarugas marinhas gigantes conhecidas como golfinas, em espanhol, e tartarugas-oliva, em português, nadavam por uma piscina elevada a apenas alguns poucos metros de onde as ondas quebravam.
Os turistas se misturaram a uma equipe que interagia calorosamente com a multidão. Em um determinado momento, um dos voluntários levou um homem cego, sua mulher cega e seus dois filhos a uma incubadora. Colocou em suas mãos tartarugas nascidas há 15 dias, que tinham o tamanho de um biscoito.
As crianças, que pareciam ter aproximadamente oito e seis anos, deram risadas, contentes.
Ondas
Para quem quer nadar, as ondas simplesmente exigem cautela. Nadamos com nossos filhos nas pequenas enseadas próximas a uma série de grandes rochas em San Agustinillo, começando em águas rasas e nos movimentando lentamente em direção a áreas um pouco mais profundas.
Foi uma ótima maneira de mostrar ao meu filho, que estava fazendo aulas de natação, por que o oceano precisa ser respeitado. E as ondas são importantes - ruidosas e grandes, elas definem este lugar.
Chegamos sentindo um respeito saudável por elas, ou talvez um medo, por termos lido sobre a jovem esposa mexicana do famoso escritor Francisco Goldman que morreu em 2007 em decorrência dos ferimentos que sofreu em um acidente de bodysurfing em Mazunte.
Para nós, porém, o perigo da praia não poderia ser dissociado do seu poder de sedução. Os tubos formados pelas ondas verdes que se estendiam na praia vazia de Ventanilla e a ressaca de San Agustinillo que puxava com facilidade pedras pesadas para o mar combinavam perfeitamente com os cactos e palmeiras, e mesmo com os pescadores que caçavam tubarões.
Tudo isso reflete um México íntegro (menos higienizado), áspero e cru, ainda dominado pela natureza e pela luta por identidade. Não se trata do México de Cancun, nem da elegante e moderna Tulum, na paz do Mar do Caribe. Nadamos principalmente com maré baixa. Conhecemos pessoas que encontramos repetidas vezes.
Em um país cheio de resorts que se esforçam para ser tão convenientes quanto possível para os turistas, um país acostumado a enfatizar a caça aos dólares dos visitantes (refiro-me a Ixtapa, Huatulco, Puerto Vallarta), a Costa Chica é uma mistura de risco e recompensa que vale a pena conhecer.