L igado de forma umbilical com o Uruguai, o município de Jaguarão, no sul do Estado, guarda todos os encantos de uma cidade tipicamente fronteiriça. Basta caminhar um pouco por suas ruas para observar a mistura de sotaques e de rostos castelhanos, brasileiros e até dos que guardam características de ambos.
Só quem mora na fronteira sabe como é a sensação de saber que do outro lado da margem do rio que nomeia a cidade existe um outro país, com sua cultura e sua diversidade. Enriquecida nos áureos tempos do charque, Jaguarão ainda mantém intactas as marcas de seu passado.
Enquanto o desenvolvimento chegou a muitas cidades, causando a derrubada de prédios históricos, no município fronteiriço tudo continuou em pé. Uma volta em torno da praça da Matriz já serve de prova.
O casario segue à espera de curiosos para desvendá- lo. Com ajuda de guias locais, que são contatados na Secretaria de Cultura e Turismo do município, o visitante pode conhecer as histórias dos prédios erguidos na cidade. Um passeio de pouco mais de uma hora sai por R$ 10. Se o grupo for grande, o preço diminui.
No roteiro, estão os casarões localizados próximo à Igreja Matriz, ao Mercado Público, à Casa de Cultura Pompílio Neves de Freitas e ao Theatro Esperança. São tantas as edificações merecedoras de atenção que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) considerou todo o município como patrimônio histórico.
No inventário realizado para o tombamento, que deve se tornar definitivo neste mês, estão listados mais de 800 prédios. Entre os itens, um dos mais importantes é o da antiga Enfermaria Militar. Da edificação de 1880, localizada no Cerro da Pólvora, sobraram apenas ruínas - ainda assim, o que se vê é grandioso.
O portão de ferro cheio de detalhes recepciona o visitante e já deixa claro a imponência do local. No hall, alguns poucos ladrilhos ajudam a contar a história do lugar. Com o céu como teto, caminhar pelas ruínas é cruzar uma linha invisível rumo ao passado. Em algumas peças, ainda há detalhes que ajudam a desvendar o que era cada objeto na antiga enfermaria.
O grande corredor de 11 arcos, que dava acesso ao jardim de inverno, é daqueles cenários de filme onde o casal apaixonado poderia marcar um encontro. Usado como prisão política durante os anos de ditadura, o futuro reserva para a antiga enfermaria uma nova e bela utilização.
Projeto da Universidade do Pampa e da prefeitura, o Centro de Interpretação do Pampa vai ser usado para pesquisas acadêmicas e para a experiência sensorial e estética sobre o bioma pampa, abrangendo as pessoas que vivem nele, além da história e da cultura.
Outra riqueza que passa por melhorias é o Theatro Esperança, inaugurado em 1897.