Águas límpidas e tranquilas, areias brancas e coqueiros por mais de três quilômetros. Poderia ser a descrição de uma praia caribenha ou do nordeste brasileiro, mas o pequeno paraíso quase desconhecido fica às margens da Lagoa dos Patos, numa península da localidade de Bojuru, em São José do Norte, a 280 quilômetros de Porto Alegre.
Encravada numa área de difícil acesso, que exige veículo com tração para chegar ao local, a prainha costuma receber visitantes do próprio município e aventureiros acostumados a trilhas mais exigentes. No raio de 20 quilômetros que separam o lugarejo da estrada mais próxima, a BR-101, não há moradias, serviço para alimentação e muito menos sinal de celular ou internet. E é exatamente isso que atrai quem busca o lugar.
Para chegar à praia, que os da região apelidaram carinhosamente de "Caribe gaúcho", ainda que as águas da lagoa não sejam transparentes, só há um único trajeto. É preciso acessar uma estrada de terra no km 321 - sentido Porto Alegre - São José do Norte. As últimas casas são vistas nos primeiros três quilômetros, antes de chegar à Lagoa dos Patos.
Os últimos 100 metros da estrada vicinal são um desafio aos desavisados. Devido à quantidade de caminhões pesados que passam pelo trecho no período de pesca do camarão, a estradinha antes usada apenas por moradores locais se tornou um lodo próximo à praia em dias de chuva. Até serragem foi espalhada para evitar que veículos atolem no charco que se formou onde deveria ser a estrada de acesso.
Depois dela, o trajeto é feito pela areia da beira da lagoa. Até por isso, não se recomenda a ida ao local em caso de ter chovido no dia anterior ou estar chovendo na data. Dali, são mais sete quilômetros até uma bifurcação sobre um grande gramado, cuja estrada só aparece por conta das marcas de pneus. Pelo caminho, são encontrados apenas acampamentos de pescadores e de alguns veranistas.
O desafio mesmo começa neste terceiro trecho, onde não se vê a lagoa, só dunas distantes à esquerda e muito verde à direita. São mais oito quilômetros de sobe e desce entre trilhas de areia, de lama ou de terra. O visual do caminho, no entanto, compensa. Centenas de aves encontram ali um refúgio.
A chegada à praia é como se um portal para algum paraíso perdido se abrisse diante dos olhos. No dia em que a reportagem esteve no local, não havia visitantes. O carro foi deixado logo no começo da prainha e a equipe seguiu a pé. Mas cerca de 40 minutos depois, duas caminhonetes se aproximaram, andando, inclusive, com parte do veículo por dentro da lagoa. Era um grupo de Caxias do Sul, na Serra gaúcha.
Proprietário de uma agência de turismo de passeios off-road, Anderson Vieira, 40 anos, reuniu esposa, dois filhos e alguns amigos para passarem o dia na prainha. É a segunda vez que eles visitam a área - a primeira foi no reveillón passado. Para Anderson, a liberdade de deixar as crianças brincando em águas calmas e a tranquilidade de não ter muitas pessoas na volta faz com que eles optem por sempre buscar lugares mais inóspitos durante o verão.
— A grande diferença é que estamos num ambiente quase privativo. Tem a liberdade de espaço e as crianças podem brincar porque a água é quentinha e doce. Largamos o celular e aproveitamos. Optamos por não estar na confusão da cidade ou nas praias com uma quantidade grande de pessoas. Parece que estamos em algum lugar paradisíaco em outro país, só que esta beleza está do lado da nossa casa — comenta Anderson.
Sugestões de Anderson a quem pretende visitar o local
- Não ir sozinho: qualquer situação, como estragar o veículo ou atolar, não terá como pedir ajuda. Portanto, sempre ir e grupos maiores e com, pelo menos, dois veículos.
- Levar muita água e alimentos porque não há serviço de alimentação próximo.
- Usar carro com tração.
- Estar pronto para ficar sem internet ou celular durante as horas em que permanecer na região.
- Aproveitar a natureza do lugar.