Os argentinos voltaram a marcar presença de maneira mais efetiva nas praias brasileiras nesta temporada — inclusive no Rio Grande do Sul. Polícia Rodoviária Federal (PRF), representantes da rede hoteleira e também quem atua nos quiosques percebem o crescimento no número de veranistas vindos do Argentina para o litoral gaúcho.
A pedido de GZH, a Polícia Federal (PF) reuniu os dados das três principais fronteiras pelas quais os turistas da Argentina acessam o Estado de carro. Entre sexta-feira (14) e domingo (16), 25 mil “hermanos” passaram por Uruguaiana, fronteira com Paso de los Libres, e 8 mil cruzaram São Borja, região de Corrientes. Houve ainda 11 mil registros em Santana do Livramento, limite com a cidade uruguaia de Rivera. O total de atendimentos leva em conta apenas a entrada de estrangeiros argentinos na aduana, em direção ao Brasil.
O número de 44 mil argentinos surpreende se comparado ao mesmo final de semana de 2022: há um ano, o sistema contabilizou 11,5 mil pessoas com passaporte aferido, o que representa um salto próximo de 300% no ingresso de turistas em 2023.
No Litoral Norte, placas identificadas com o nome da nação vizinha são facilmente encontradas em estacionamentos de hotéis e na rua. Segundo a presidente do Sindicato dos Hotéis do Litoral Norte, Ivone Ferraz, a ocupação atual, por parte dos argentinos, é 30% maior do que a média dos últimos cinco anos.
Os “quiosqueiros” confirmam a percepção:
— Este ano tem muito mais, e até uns uruguaios ali naquela barraca — afirmou o garçom de um dos quiosques, Adilson de Moraes Nunes.
Desde 2015, Ricardo Slavin, 52 anos, não levava a esposa e os três filhos para uma viagem tão distante. Ele admite que o objetivo inicial era chegar a Santa Catarina, mas a inflação que corrói boa parte do salário e a moeda ainda mais desvalorizada na troca do câmbio fizeram a família parar em Capão da Canoa.
— Não estamos passando por um bom momento econômico. Somos trabalhadores, então nossa capacidade se vê limitada. O dinheiro que temos deu pra chegar só a Capão da Canoa — diz o executivo.
Slavin diz que “o argentino ama o Brasil, as praias e a água”. Comenta ter lido em reportagens e comprovado na estrada um número crescente de veículos de sua terra, demonstrando alegria em regressar ao nosso litoral.
A “água”, citada como um atrativo pelo pai, não convence Tomás Slavin, sete anos.
— Está gelada — garante o garoto, tremendo de frio enrolado em uma toalha da seleção argentina de futebol, tricampeã do mundo.
A mãe não se importa:
— São 23h aqui e o tempo está gostoso de caminhar em Capão, e água não é tão fria como lá na Argentina — compara a contadora Martina Bertolini, 47 anos.
O sotaque castelhano é ouvido no trapiche de acesso à faixa de praia. E é unânime em um trio de guarda-sóis em outro ponto à beira-mar: as famílias Lovera e Rivasseau viajaram juntas para férias em águas internacionais que não ocorreram na última temporada.
O custo com a alimentação é alto, segundo o dono de uma oficina mecânica, Walter Rivasseau, 46 anos:
— Para comer fora, se gasta o dobro do que na Argentina. E estamos em oito pessoas aqui — contabiliza.
O engenheiro eletromecânico Roberto Lovera, 64 anos, já está “jubilado”, aposentado, em espanhol. Junto da esposa, Inês, e da filha Eliana, passou por Canela e Gramado. O dinheiro, diz, valeu pelas belezas naturais da serra gaúcha.
Polícia Rodoviária Federal confirma crescimento
O crescimento exponencial é percebido pelo posto da PRF em Eldorado do Sul, região metropolitana de Porto Alegre. Segundo o chefe da delegacia, Felipe Barth, no ano passado o tráfego de automóveis argentinos foi espaçado, sem grande impacto no trânsito.
— Chama muito atenção que tem até retenção no trânsito, entre Eldorado e Porto Alegre, pelo número de argentinos neste ano — reconhece.
Entre as irregularidades mais flagradas de quem pega a estrada apressado para chegar à praia estão a ultrapassagem em local indevido e a ultrapassagem forçada, quando o veículo no sentido contrário é obrigado a desviar para evitar uma colisão frontal. A PRF garante ter feito ações preventivas para tal ocorrência, com a exigência do pagamento das multas na chegada ou saída do país.
— Algumas dessas ultrapassagens são em comboios, de veículos que seguem o primeiro que ultrapassou e vão atrás. Às vezes eles nem se conhecem — complementa o chefe da PRF.