Acostumados com a alta procura e com grande parte dos contratos já fechados nesta época do ano, as imobiliárias e os sites que promovem a locação de imóveis no Litoral Norte enfrentam uma realidade diferente neste ano. As incertezas quanto à pandemia resultaram em uma queda na procura pelos clientes e mudança no perfil do imóvel desejado. Enquanto sobram apartamentos, há fila de espera por casas com piscina.
O fenômeno é observado nas três praias mais procuradas da região. Em Capão da Canoa, Torres e Tramandaí, o aluguel de casas, especialmente com piscina, apresentou um crescimento significativo.
Em Tramandaí, o aumento é estimado em 80% pela Associação das Imobiliárias e Corretores de Tramandaí e Imbé. A entidade confirmou também que houve uma redução da oferta de imóveis, já que muitos dos donos decidiram usufruir da residência durante o verão.
Já em Capão da Canoa, a Associação dos Corretores e Imobiliárias do município calcula que a busca por esse tipo de imóvel cresceu 100% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Capão da Canoa tem, atualmente, cerca de 3 mil unidades disponíveis para aluguel, sendo 70% apartamentos e 30%, casas. O presidente da associação, Fabrício Chacker, afirma que, para algumas residências, há fila de espera.
— Muitas pessoas estão buscando casas para este verão. Há muita procura para casas em condomínios e, principalmente, aquelas que possuem pátio e piscina. Estas têm até lista em caso de alguma desistência. As pessoas querem liberdade, passaram o ano inteiro presas — afirmou.
É o caso da professora universitária Claira Zambom. Morando há sete anos em Nova York, nos Estados Unidos, ela estava acostumada a passar as festas de final de ano com a família no Rio Grande do Sul e depois seguir para outros destinos no Brasil.
No entanto, com a pandemia, a organização das férias precisou ser modificada. Neste ano, Claira alugou uma casa, nas proximidades de Tramandaí, para ficar durante todo o período de férias com os familiares. Ela chegou no início do mês e, após ficar em quarentena, recebe a mãe e o irmão.
— Minha mãe tem 80 anos, está fechada em casa desde março. Decidimos alugar uma casa com piscina e pátio porque assim todos nós podemos ficar mais tranquilos. Sei que a situação pode ficar muito pior do que já está, e, desta forma, conseguimos aproveitar sem corrermos riscos — explicou Claira.
A mudança de perfil é também observada pelos sites especializados em aluguel de imóveis. Dados divulgados pelo Airbnb apontam que, desde maio, houve um aumento na procura por casas inteiras no campo e em cidades menores de praia, a até 300 quilômetros dos centros urbanos, para ir de carro e sem abrir mão do isolamento. Além disso, o levantamento da plataforma indica que os principais clientes para esse tipo de imóvel são famílias que buscam também locais que tenham infraestrutura para conciliar férias e trabalho em home office.
Queda nas locações
Além da mudança no perfil do imóvel, a pandemia modificou a procura geral por estadia no período de verão. Conforme o setor, a estimativa é de uma redução de cerca de 20% a 40% nas locações nas principais praias. Os apartamentos de dois dormitórios ainda estão entre os mais procurados, por causa do valor mais em conta, mas o número de imóveis alugados até agora é inferior ao do ano passado, segundo a Associação dos Corretores e Imobiliárias de Capão da Canoa.
Dono de uma imobiliária há 33 anos em Torres, Nelson Maia ressalta que, além da incerteza devido à pandemia, outros dois fatores contribuem para os resultados até agora.
— Muitas empresas deram férias para os funcionários no início do ano, por conta da pandemia, então as pessoas não podem ficar muito tempo na praia. Além disso, o turista argentino, que sempre vinha, este ano não virá por causa da situação dos dois países — explicou.