Capão da Canoa, que já foi cenário de grande polêmica envolvendo corujas, exibe, 12 anos depois, uma praça com as aves preservadas. Em dezembro de 2007, a queima de fogos para recepcionar o Ano-Novo foi proibida, devido à presença dos bichinhos perto do local onde o espetáculo aconteceria. Hoje, a preservação da fauna é compartilhada por moradores de uma área do bairro Zona Nova.
— Essa praça não tem nome, podia ser Praça das Corujas — sugere Marlene dos Reis Nunes, 83 anos, que semanalmente repõe a água dos potes sobre as árvores, no entorno da Avenida César Bittencourt.
Durante a tarde desta quinta-feira (9), três aves foram avistadas, mas segundo a moradora o número é ao menos três vezes maior. A idosa, nascida e criada em Capão da Canoa, vive em frente à morada das corujas, local também repleto de pássaros, das mais variadas espécies.
— Esses animais são presentes que Deus deixou aqui para nos alegrar. Eu todo dia acordo, abro a janela e recebo o canto dos pássaros. Isso me emociona — afirma, apontando para o voo de uma das corujas, que estava no ninho cavado ao solo.
Sua cachorrinha vira-latas, Nina, diverte-se correndo atrás dos alvos voadores:
— Ela só quer brincar — garante a tutora.
Figura constante no Litoral Norte, a coruja encontrada em frente à casa de dona Marlene é da espécie "buraqueira", segundo o professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Demétrio Guadagnin.
— É a única que cava buraco no chão para a toca. E faz isso em época de reprodução, justamente no verão. As demais fazem o ninho em árvores — explica o especialista.
Com média de vida de 15 anos, o professor reforça que há poucas chances de as corujas vistas hoje em Capão serem as mesmas que mobilizaram ambientalistas na década passada:
— Além do longo tempo, essas corujas costumam refazer os ninhos em outros lugares.
Para evitar as constantes depredações das tocas – muitas vezes por crianças, que desconhecem o processo das aves – outro morador, Fábio Lerina, 40 anos, instalou placas de madeira ao lado dos ninhos.
— Por vezes, algum morador passava de carro ou moto no local, então tivemos a ideia de identificar — relembra.
Uma das placas foi danificada, não se sabe se pelo tempo, pelo peso das corujas – que, comprovado pela reportagem de GaúchaZH, utilizam a estrutura como poleiro – ou por vandalismo. A frase inicial alertava: "Respeite as corujas". Atualmente, estão visíveis as duas palavras finais. Mais à frente, outro aviso, ainda íntegro: "Preserve a natureza", também tem o animal de hábitos noturnos como adorno.
Veranista na mesma quadra, o servidor municipal Alex Rocha, 48 anos, elogia o trabalho dos vizinhos e pensa nos mais jovens.
— A preservação de espécies como a coruja buraqueira serve para as futuras gerações. É uma marca do nosso litoral — analisa o amante dos animais, que correu para a internet e buscou o maior número de informações sobre as aves que compõem a fauna gaúcha.
Com o mesmo intuito, porém demonstrando um certo desânimo, dona Marlene relata outro "presente" encontrado na praça.
— O banco todo quebrado e um monte de garrafa de cerveja jogada no chão. As pessoas não cuidam, é uma pena — lamenta.