No primeiro fim de semana de tempo instável desde o ano-novo no Litoral Norte, com pancadas de chuva no sábado e no domingo, os veranistas buscaram alternativas para se divertir fora da areia.
Se a chuva correu com quem se aventurou a ir à praia durante a manhã – no começo da tarde, com tempo nublado, a beira-mar mar ganhou movimento – sobre a ponte que faz a divisa entre as praias de Imbé e Tramandaí o sobe e desce das varas de pescar não parou nem por um segundo. Dezenas de pessoas enfrentaram a chuva por um dos hobbies mais populares entre quem veraneia nessa parte do litoral: a pesca de sardinha no Rio Tramandaí.
– Em dia de chuva, eu acho até melhor. Vem mais peixe – comentou Márcia Gonçalves, 47 anos.
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Natural de Porto Alegre, a cozinheira é uma veterana na pesca da sardinha em Tramandaí. Aprendeu ainda na infância, com o pai, e manteve o hábito por todos os seus veraneios. Faça chuva ou faça sol, a rotina de verão é a mesma: pescaria de manhã – no domingo, chegou na ponte às 7h – e praia à tarde. O resultado da empreitada vira conserva, bolinho, pizza, petisco e o que mais a criatividade da cozinheira permitir.
Morador de Santiago, na Região Central, Fábio Zbokovski, 50 anos, é menos ousado. O que vem – fácil, diga-se – preso ao seu anzol vai direto para a frigideira. Fã de pescaria, o militar da reserva habituado a incursões no Rio Uruguai não mantém a mesma regularidade nas idas à ponte. Não por falta de vontade: é que seu lazer disputa espaço com as preferências da família, mais interessada na beira-mar.
– Hoje, quando vi que o tempo estava ruim, já me preparei para pescar. Mas venho quando me deixam. Senão, a patroa e as crianças reclamam – conta o pescador de ocasião, que chega a levar 1 kg de sardinhas para a casa em dias mais favoráveis.
Mas nem só os experientes enfileiram-se no balcão da construção que conecta as praias vizinhas. Com o topete de gel já bagunçado pela chuva que caía durante a manhã, William Oliveira Mras, 13 anos, curtia seu segundo fim de semana e pescaria na praia. Acompanhado do pai e da irmã, ele comemorava um dia bom: mais de uma dúzia de peixes repousavam em um galão plástico posicionado aos seus pés.
– Na semana passada achei difícil, porque não peguei nenhum. Mas hoje já deu bastante – sorri, exibindo um aparelho dentário em verde-limão.
A ideia da brincadeira foi do pai, Moacir Mras. Técnico que trabalha com manutenção de máquinas de sorvete, aproveitou o trabalho para levar os filhos junto ao Litoral, onde viu que alguns de seus clientes passavam horas entretidos à margem do Tramandaí. Resolveu alugar um trio de varas de pescar – nas imediações da ponte, é possível locar uma vara por R$ 3 a diária – e convidar William e Rafaela a aprenderem uma nova atividade.
– É saudável para as crianças. Ontem, pela primeira vez, nós pescamos o próprio alimento. Gostamos da brincadeira. É uma diversão – avalia.
O sucesso da pescaria na ponte de Tramandaí não é à toa. Além de ser um entretenimento de baixo custo, não exige silêncio ou técnicas mais aprimoradas para que um pescador amador garanta uns petiscos ao final de algumas horas. Como as sardinhas se iludem facilmente – sequer é preciso isca para atrair esse tipo de peixe –, basta jogar o anzol e esperar alguns minutos: não é raro ele sair da água com vários peixinhos pendurados.