Guias de turismo irregulares, sem o registro obrigatório para exercer a atividade, têm abordado turistas em Florianópolis, às margens da Via Expressa. A reportagem da RBS TV flagrou três casos só nas últimas duas semanas, no acesso à Ilha. A ação ocorre bem próxima do portal turístico da Capital, o que colabora para confundir os visitantes.
– Confunde muito, porque a placa está ali, e eles logo embaixo pedindo pra gente parar. Pensei que tinha parado (no lugar) certo, mas pelo visto não paramos – diz o turista do Rio de Janeiro Robson Mendes.
Nem a viatura da polícia intimida os homens. É só passar um carro ou ônibus de fora que eles correm para a pista para fazer a abordagem.
A equipe da RBS TV se passou por turistas para conversar com os guias piratas, que perguntam se os "visitantes" queriam se hospedar em Canasvieiras. Eles citam preços de diárias bem acima dos praticados por hotéis e pousadas na região e o motivo para desencorajar a ida é descoberto no decorrer do diálogo: os guias têm contato direto com proprietários entre a Lagoa da Conceição e a Joaquina, com aluguéis mais em conta, e aí cobram R$ 50 para levar os turistas até lá. Oferecem, ainda, um mapa turístico ao preço de R$ 10 – sendo que o mesmo material é gratuito a poucos metros dali, no portal turístico.
– É vergonhoso pra quem é daqui. Pra vocês que são brasileiros foi R$ 10, pro estrangeiro ele vai cobrar R$ 50 ou mais. É algo que foi feito pra informar a pessoa e não para fazer negócio – lamenta Jaison José da Silva, um dos guias verdadeiros que trabalham no portal. Como todos os colegas regularizados, ele tem registro no cadastro nacional do setor turístico, o Cadastur, e um cartão com foto e matrícula. Para conseguir o registro, o guia precisa ter ensino médio completo e um curso técnico na área.
Conforme relatos de outros profissionais do portal, há várias reclamações de guias piratas e informações até de cobranças ilegais para entrar na Ilha. Turistas também relatam tentativas de cobrar até R$ 100 para acompanhar os visitantes por um tour na cidade.
A reportagem da RBS TV esteve em dias diferentes na Via Expressa e, ainda se passando por turistas, conversou com o mesmo guia pirata, que desta vez disse também trabalhar como fiscal. Isso porque todos os ônibus de turismo precisam de um guia registrado pelo Ministério do Turismo para entrar em Florianópolis. Sem fiscalização oficial, são os piratas que aproveitam para parar os veículos e oferecer e cobrar pelos serviços.
Ao se apresentarem como repórteres e questionando sobre as credenciais e a atuação ilegal, o tom da conversa mudou.
– Eu mandei fazer essa credencial numa gráfica pra me identificar. E tem todos os meus dados. Eu pra mim me considero um guia, não importa se é pirata. Sou guia já há quarenta anos – diz o guia clandestino Nei de Azevedo, que afirma nunca ter conseguido um registro no Cadastur por ser "muita burocracia" e justificou cobrar R$ 10 pelos mapas porque "gasta" para ir atrás do material e por isso pede uma "gratificação"
Já houve casos de prisão envolvendo a atuação dos guias. O próprio Nei, que hoje continua com o serviço irregular, foi detido há 11 anos por exercício ilegal da atividade.
– Por quê não junta todo mundo e acaba com esse negócio de clandestino e autorizado? Pro senhor secretario de Turismo me tirar daqui, só se me botar na cadeia – desafia.
Em entrevista ao Jornal do Almoço da RBS TV nesta sexta-feira, o secretário de Turismo Vinicius De Lucca Filho informou que o setor de fiscalização da secretaria foi reativado no início do ano e prometeu agir fortemente para coibir a prática ilegal.
– Vamos agir junto a Polícia Civil, Polícia Militar, Ministério do Trabalho e Guarda Municipal. No fim de março e começo de abril também vamos conversar com a federação nacional e as associações regionais e locais de guias de turismo para fazer um grupo de trabalho. Não podemos deixar que isso aconteça. É exercício ilegal da profissão. É crime. Vamos tomar as providências para acabar com os guias piratas – garantiu.