A falta de verba do poder público não foi suficiente para desanimar a comunidade de Capão Novo. A vontade de mudar fez com que um grupo se unisse para dar uma nova cara à beira-mar do distrito, com calçadão revitalizado e iluminação pública. A obra só foi viável devido à união de lojistas, empresários e moradores, que arrecadaram fundos para a execução do projeto.
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A revolução começou em junho do ano passado, quando lojistas da região formaram uma comissão para reivindicar melhorias no distrito.
- Estamos carentes há muito tempo de uma mudança na praia de Capão Novo. Decidimos sair da nossa zona de conforto e criamos uma comissão que reuniu lojistas, empresários e a Associação de Veteranos de Capão Novo - explica o empresário Cesion do Nascimento Pereira.
O grupo levou ao prefeito de Capão da Canoa, Valdomiro Novaski (PDT), um projeto sobre a viabilização da reforma do calçadão. Após diversas reuniões, foi firmada uma parceria público-privada: a prefeitura entraria com o material e a iluminação e a comunidade teria de arrecadar R$ 50 mil para pagar a mão de obra.
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Um dos grandes trunfos do processo, segundo Cesion, foi ter começado a obra antes de solicitar as doações. E, nesse contexto, o presidente da Associação dos Veteranos, Luiz Fernando Muller Jeremias, foi de extrema importância para o sucesso da empreitada.
- O Cesion me passou o orçamento de R$ 50 mil da obra, e eu disse para ele que a associação bancaria 50% do valor. Nós temos 258 associados e arrecadamos, por ano, em torno de R$ 40 mil - explica Jeremias.
Para o presidente, a descrença da população frente ao serviço público e a projetos coletivos é grande, e essa estratégia fez a comunidade enxergar que a ideia estava mesmo saindo do papel.
- Muitas pessoas só doaram porque viram que as obras estavam mesmo sendo feitas e que o projeto seria cumprido - afirma Cesion.
Veja como ficou o calçadão novo:
Após o início das obras, a comissão foi ao comércio pedir colaborações para arrecadar os outros R$ 25 mil que faltavam. A meta foi atingida graças ao apoio de 44 comerciantes e empresários, além de 12 pessoas que também fizeram doações.
Um dos pontos que mais chamou a atenção da comunidade foi a rapidez da obra. As máquinas começaram a trabalhar em 1º de novembro e, em 15 de dezembro, os 800 metros do calçadão estavam prontos. Um mês depois, todos os postes de iluminação tinham sido instalados.
- A empresa contratada para a obra trabalhou incansavelmente todos os dias, inclusive domingos e feriados. A parte do meio-fio foi doada por um empresário da área da construção civil que também é morador do distrito. Essa ação é um marco dentro da história da associação porque mobilizou a comunidade em prol do bem comum - comemora Jeremias.
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A próxima fase do projeto visa a instalar bancos em todo o passeio, além de construir uma praça no final do calçadão. O prefeito também comemorou os resultados.
- Achei essa parceria excelente, porque nesse momento de crise ganham os dois lados: poder público e comunidade.
Para os integrantes da comissão que possibilitou a transformação, a revitalização é uma maneira de buscar o que Capão Novo já foi no passado: uma praia modelo e bem planejada.
- Capão Novo pode dar exemplo para outras praias e distritos, mostrando que a comunidade tem de se envolver com os problemas da cidade para gerar mudanças. As pessoas tem de sair da zona de conforto. Sempre ouvimos o discurso pronto: pagamos impostos e não temos retorno. Ou nos mobilizamos para fazer algo ou, em 30 anos, continuará tudo igual. Esse projeto é um exemplo de que as coisas podem dar certo - diz Cesion.
Uma orla para passear e lucrar
A praia começa cedo para a tabeliã Maria Eidelvein, 63 anos, e o neto Pedro, quatro. Por volta das 9h, ela acompanha o garoto rumo à praia pelo passeio, relembrando a época áurea da beira-mar:
- Veraneio em Capão Novo desde 1997. Quando vim para cá, essa orla era linda, tinha um gramado com hortênsias, bancos para ver o mar e caixas de som nos postes que tocavam música o dia todo. Depois, entrou em decadência, ficou um desleixo só, tudo abandonado. Fico feliz que agora estão revitalizando essa área novamente. Quando cheguei, neste verão, até me surpreendi, não parecia a mesma praia - conta Maria.
O comércio local também comemora a renovação da orla.
O garçom Jonathan da Motta, 23 anos, trabalha num dos poucos restaurantes da beira-mar do distrito e conta que, após as melhorias na iluminação, na área o movimento no comércio dobrou, principalmente à noite:
- Durante o dia, o público era bom, mas, quando escurecia, ninguém vinha até a beira por causa da falta de luminosidade. Agora que colocaram o calçadão e instalaram os postes, notamos que o movimento dobrou durante a noite. Antes, trabalhávamos até as 23h, hoje nós vamos até as 2h30min. Para nós, é ótimo, porque a clientela tende a aumentar.