Rudimar vende frutas em Capão da Canoa
Foto: Bruno Alencastro José Maciel vende sonhos há 28 anos
Foto: Bruno Alencastro Viviane e Erni percorrem o Litoral vendendo frutas e verduras
Foto: Bruno Alencastro Em Xangri-lá, Adílio sucedeu o pai no comércio de abacaxi
Foto: Bruno Alencastro
Não têm cara de hipsters, entendem quase nada da alta gastronomia e acham que food truck não passa de um termo estrangeiro difícil de pronunciar. Pioneiros em servir ao público comida nas calçadas, parques ou na porta de casa, os vendedores de abacaxis, milhos, sorvetes e sonhos fazem há anos o mesmo que os atuais food trucks - só que em uma versão menos glamourizada.
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Pode não ter o mesmo charme, mas a graça não se discute. Verno Ditter e a mulher, Nelci, mostram que os old trucks são mesmo um trabalho divertido. Esse ano eles estão dando uma mãozinha nas férias do filho Márcio.
Assumiram o volante do caminhão de sorvetes Spell, em Tramandaí, trazido de Giruá, enquanto o guri passa as férias na cidade. Eles percorreram 600 quilômetros até chegar lá, com um fim bem justificável: faturar R$ 30 mil por mês vendendo casquinhas e potes individuais que custam de R$ 3,50 a R$ 25. O ônibus do sorvete é atração esperada pela gurizada depois do almoço.
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- Eles sobem aqui, pedem para dar uma voltinha, fazem a maior algazarra. Adoramos - diz o vendedor, que inventou um conversor de energia para manter o freezer ligado dentro do ônibus.
A marca do sorvete que eles buscam pronto em Oásis do Sul, ele pronuncia com dificuldade.
- Food truck, então? - arrisca a repórter?
- Nein, unmöglich (impossível) - diz o descendente de alemães.
Públicos diferentes
Outro ambulante é Rudimar Rosa dos Reis. Estacionado em uma pracinha de Capão da Canoa, encara a freeway duas vezes na semana para abastecer o caminhão de frutas, hortaliças, compotas, cucas e outros produtos coloniais. No ramo há um ano, Reis deixou o serviço na construção civil para tentar lucrar R$ 15 mil na calçada neste veraneio. Uma meta alta para quem tem tanta concorrência (só na rua onde mora, seis vizinhos fazem o mesmo).
- Não posso me queixar, é uma vida boa - enfatiza.
Mesmo sabendo que vender comida no caminhão está em alta, ele não confunde os públicos. Sabe o diferencial do seu negócio:
- É que lá (nos food trucks) vai o pessoal com mais dinheiro.
Sonhos lucrativos
Seja na beira da praia de Imbé ou nas ruas de Capão da Canoa, vender sonhos é um bom negócio para gente como Tiago Costa dos Santos. Com uma média de 300 unidades a R$ 3, o lucro é fácil. O único problema é trabalhar enquanto todo mundo se diverte:
- Às vezes, o sonho se transforma em pesadelo quando temos que ficar sob o sol de rachar vendo todo mundo na praia. Mas quando vem o salário, vale a pena.
José Maciel trabalha em Capão há 28 anos vendendo sonhos e outros doces na Kombi.
- Paulo Sant'Ana é fã do meu mil folhas - orgulha-se em dizer.
Feira delivery
Primeiro, o marido de Erni Bren Konig caminhava com a sacola nas costas. Depois, o casal andava com um carrinho de feira até a família comprar seu primeiro carro - um Fiat Uno. O modesto 1.0 foi bom para transportar frutas e verduras de Três Forquilhas até Atlântida Sul por alguns anos. Mas quase 20 anos depois de ter iniciado o serviço de feira delivery no Litoral, Erni e a filha Viviane desfilam agora em uma Dobló, sempre apressadas para esvaziar a caminhonete antes da noite chegar. Mesmo sem ter a certeza de quem vai comprar - a demanda do cliente varia -, elas repetem religiosamente o trajeto dia sim, dia não.
Freguês há anos, o tradutor José Francisco Pedroso brinca com as vendedoras. Diz que o serviço "doblou", enquanto passa a mão na carteira para pagar o saco de milho e o tempero verde que a esposa escolheu.
Pedroso tem razão. O trabalho é mesmo dobrado. Começa cedo na lavoura. Além de vender de porta em porta, Erni e a filha plantam e colhem os vegetais que oferecem aos clientes.
Alguns itens são orgânicos, como a banana, outros recebem agrotóxicos. Mas para a maioria dos fregueses, o que conta mesmo é a comodidade de não sair de casa.
- Essa é real food - diz Pedroso.
Direto do produtor
Adílio Ribeiro Antônio herdou da família um ponto privilegiado na Avenida Paraguassu, em Xangri-lá. No mesmo local onde hoje expõe abacaxis orgânicos e docinhos de Terra de Areia, seu pai trabalhou até os 98 anos. Na época, uma carreta de boi ocupava o lugar do atual caminhão D-20. No ponto há oito anos, ele garante que a clientela adora comprar ali - "porque direto do produtor é mais confiável". Ele orgulha-se e pisa firme no terreno conquistado:
- Não saio daqui de jeito nenhum.